Mobi.E quer exportar modelo de carregamento de carros elétricos
Espanha, Inglaterra e Bélgica foram três dos países que já sondaram a empresa que gere a rede de carregadores de acesso público em Portugal.
A Mobi.E, empresa pública gestora da rede de mobilidade elétrica, quer internacionalizar o modelo português de carregamento de veículos elétricos nos próximos anos, permitindo interoperabilidade entre países, tendo já sido abordada por Espanha, Inglaterra ou Bélgica.
Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Mobi.E, Luís Barroso, adiantou que a empresa “tem uma estratégia definida para os próximos anos”, que passa pela “internacionalização da sua solução”.
“Cada vez há mais países a sondar-nos, porque também conhecem qual é a dinâmica da União Europeia a nível da legislação e consideram que, de facto, Portugal não é só um bom balão de ensaio, é uma experiência viva daquilo que poderá ser uma solução a adotar em países e temos tido vários contactos internacionais sobre a nossa solução”, disse o responsável da empresa criada em 2015 e incumbida pelo Governo de criar um mercado para a mobilidade elétrica.
Atualmente, a Mobi.E é um conjunto de redes privadas que concorrem entre si, após concessão de toda a rede a operadores privados, em 2020, contando atualmente com mais de 75 operadores de pontos de carregamento de veículos elétricos.
Luís Barroso apontou que entre os países que já demonstraram interesse na replicação do modelo português encontram-se a Inglaterra, a Bélgica, Chipre, a Turquia e Espanha, sendo que este último merece “especial atenção”, pela ligação terrestre com Portugal.
Portugal registou uma média de vendas de veículos totalmente elétricos de cerca de 12% do total das vendas, em 2022, enquanto, segundo o presidente da Mobi.E, este valor em Espanha ainda não chegou aos 5%, o que, apontou, se pode explicar também por ter uma rede de carregamentos mais complexa.
Para Luís Barroso, a grande vantagem do modelo português é a de funcionar na mesma lógica dos cartões bancários, em que, a partir de um contrato com um banco, se pode utilizar o cartão em qualquer caixa multibanco, mesmo que pertença a outra entidade, ou seja, basta fazer um contrato com um comercializador e aceder a toda a toda a rede de carregamento de veículos.
Face aos planos da União Europeia (UE) para modernizar a legislação no setor da mobilidade, com a aprovação de um regulamento para as infraestruturas de combustíveis alternativos (AFIR, na sigla inglesa), o responsável considerou que Portugal está “com 12 anos de avanço”.
“É um regulamento que tem muitos dos princípios da legislação portuguesa que foi publicada em 2010. […] A legislação europeia vai fomentar o ‘roaming’ das redes, que é o que a nossa rede é, um ‘roaming’ entre as diferentes redes privadas, de forma a facilitar que o utilizador possa, independentemente do país onde se desloca, utilizar o seu contrato para se movimentar em veículo elétrico. Nós já lá estamos. Promove pagamentos ‘ad hoc’ [para esta finalidade], coisa que é uma realidade na nossa rede desde abril de 2021. Portanto, nós já lá estamos”, realçou.
Ainda assim, ressalvou, a Mobi.E encomendou um estudo sobre mobilidade sustentável, que será conhecido este ano, com o objetivo de perceber que investimentos devem ser feitos, para ir ao encontro dos objetivos da UE, e de perceber também as perspetivas de crescimento da rede em Portugal.
“Porque não vale a pena inundarmos o país de postos de carregamento se não tivermos veículos. Não vale a pena termos veículos se não tivermos infraestrutura. Portanto, temos de ter aqui um equilíbrio”, vincou.
Duplicar rede é objetivo
Atualmente, a Mobi.E tem como objetivo duplicar a utilização da rede, todos os anos, até 2025.
No ano passado, registaram-se quase 2,5 milhões de carregamentos, o que representou um aumento de 80% em comparação com o ano anterior.
Este valor representou apenas 25% da capacidade da rede, o que, frisou o responsável, demonstra que está preparada para absorver um crescimento expectável na utilização.
De acordo com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o objetivo é disponibilizar 15.000 pontos de carregamento no final de 2025, sendo que, atualmente, a rede conta com 5.600 pontos e está presente nos 308 municípios do país.
Luís Barroso apontou ainda que, através do Programa de Estabilização Económica e Social do Governo, com cofinanciamento do Fundo Ambiental, tem sido também feito um esforço para levar postos de carregamento de potência mais elevada (os chamados ‘ultra rápidos’) a mais cidades do interior do país, esperando-se aumentar de quatro para 12 as cidades do interior a contar com este tipo de postos, até ao final do semestre.
“Temos de ter consciência de que estamos num processo, um processo longo, é certo, e que será normal que os investimentos se façam com maior prioridade em zonas onde há mais procura e que, depois, vá-se alargando à medida que se vai justificando”, defendeu o responsável.
Porém, acrescentou, “não quer dizer que a Mobi.E, enquanto instrumento público do Estado, não esteja atento e a verificar se, por acaso, em alguns casos, os mercados não corresponderem àquilo que são as necessidades do país, que poderão não ser coincidentes com o interesse económico do próprio mercado, que a Mobi.E não possa intervir” com a instalação de infraestruturas de carregamento.
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