Risco de Portugal face à Alemanha cai mais de 30% em 6 meses

As yields das obrigações do Tesouro continuam a subir, mas a perceção do risco dos investidores de Portugal face à Alemanha caiu a pique a um ritmo muito superior ao que sucede com França e Espanha.

O risco de emprestar hoje dinheiro a Portugal face à Alemanha é cerca de um terço inferior do que há seis meses. Os dados são revelados pela evolução do spread médio das yields das obrigações do Tesouro dos dois países ao longo da curva de rendimentos.

Se há seis meses, para se financiar no mercado internacional, o Estado português tinha de contar com um custo médio de 1,58%, cerca de duas vezes acima do que os investidores pediam ao Estado alemão, hoje esse diferencial caiu 34% por conta de uma subida muito mais acentuada das yields das obrigações alemãs (Bunds) face às dos títulos de Portugal.

Em julho, quando o Banco Central Europeu (BCE) aumentou pela primeira vez as taxas diretoras do euro desde 2011, as obrigações do Tesouro a 10 anos de Portugal estavam a negociar com uma yield de 2,21% e hoje estão nos 3,05%.

As Bunds a 10 anos estavam a negociar com uma taxa de 1,28% em julho e hoje estão nos 2,19%. Isto faz com que o diferencial entre as yields nas obrigações a 10 anos dos dois países tenha encurtado 26% nos últimos seis meses, passado de 117,4 pontos base em julho para 87 pontos base esta terça-feira.

Esta evolução revela que a perceção de risco que os investidores têm hoje em emprestarem dinheiro ao Estado português, em detrimento do Estado alemão, é inferior do que há seis meses. E isso é ainda mais relevante quando se observa, por exemplo, que o spread das yields das obrigações do Tesouro francês face às bunds baixou apenas 13% — e no caso dos títulos de dívida de Espanha houve inclusive um incremento de 1% do spread.

Apenas a Itália acompanha o decréscimo do risco das obrigações nacionais em toda a linha da curva de rendimentos, contabilizando uma queda de 31% do spread médio das yields das suas obrigações do Tesouro face às homólogas alemãs.

Evolução do spread das yields das Bunds face às obrigações soberanas europeias

Fonte: Refinitiv.

Risco caiu, mas preço continua a subir

Desde o início do ano passado que se tem assistido a uma subida constante do preço pedido pelos investidores para emprestarem dinheiro à República. A yield das obrigações do Tesouro a cinco anos, por exemplo, chegou a cotar a valores negativos no final de 2021 e hoje está nos 2,6%.

Nas operações de financiamento de curto prazo, a subida do preço tem também sido notória. Ainda recentemente, no último leilão de Bilhetes do Tesouro a 6 meses realizado pelo IGCP na semana passada, o Estado colocou no mercado 750 milhões de euros pelo preço de 2,417%, quase o dobro do que pagou numa operação semelhante realizada quatro meses antes.

Mas a subida das yields está longe de ser um problema apenas restrito ao Estado português. É transversal a todos os países da Zona Euro. “As yields de Portugal e de todos os países do Euro começaram a subir em janeiro [de 2022] com a perceção de que, mais cedo ou mais tarde, haveria aumentos das taxa de juro pelo Banco Central Europeu, porque a inflação não nasce com a guerra”, refere Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros.

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Para o especialista, a diferenciação do comportamento das yields e dos spreads das obrigações soberanas não é despiciente. O economista destaca, desde logo, que “os juros nunca atingiram um valor muito elevado”, quando comparado com dados históricos. E isso aconteceu porque “o mercado percecionou que, em caso de necessidade, o BCE haveria de arranjar uma forma de mitigar essa subida dos juros, sem prejuízo da subida da taxa de juro e do quantitative easing ir desaparecendo.”

Para os países periféricos, como Itália e Portugal, que apresentam ainda rácios de dívida mais elevados que a média dos países da Zona Euro, essa ideia foi particularmente relevante porque os investidores sentiram-se protegidos. Além de que “os países continuaram todos, apesar da guerra, a ter políticas para a consolidação da dívida”, completa Filipe Garcia.

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