“O Estado está a recorrer menos aos hospitais privados”. Mas setor bateu recordes de atividade em 2022

A atividade nos hospitais privados teve um crescimento "muito significativo" em 2022, mas a articulação com o público está a cair, nomeadamente nas cirurgias com os vales SIGIC.

A atividade na hospitalização privada “aumentou de forma muito substancial em 2022”, mas o Estado tem vindo a “recorrer menos aos hospitais privados”, salienta Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP). Os privados “bateram o recorde em todas as áreas de atividade”, mas as cirurgias SIGIC, em que são dados vales no SNS para realizar as cirurgias no privado, caíram 22,2% em 2022.

“Nunca os hospitais privados tiveram tanta atividade e serviram tantos portugueses”, adiantou Óscar Gaspar, numa conferência de imprensa de apresentação de dados para 2022. O presidente da APHP reitera ainda assim que o setor privado não está a “fazer concorrência ao SNS”, mas sim a “contribuir para o aumento da oferta de cuidados de saúde aos portugueses”.

Os hospitais privados foram responsáveis por mais de oito milhões de consultas externas, cerca de 1,35 milhões de urgências e 235 mil cirurgias durante este ano. Entre estas, 11.562 foram através do SIGIC, o sistema de gestão de inscritos para cirurgia que, quando um hospital público não pode garantir a realização da cirurgia atempadamente, possibilita a transferência para outro hospital, nomeadamente privados.

Registou-se então uma queda de 22,2% nestas cirurgias, tendência que já se verificava no ano passado, sendo que no conjunto dos dois anos a quebra já atingiu os 35%. A explicação? “O Estado está a recorrer menos aos hospitais privados. Nós estamos disponíveis, as convenções existem, mas os doentes não estão a chegar aos hospitais privados”, responde Óscar Gaspar.

O presidente da APHP defende que “há vantagem para o país e para o SNS que haja reforço na articulação entre as diversas partes”. Esta coordenação está em queda também no que diz respeito às Parcerias Público-Privadas (PPP), sendo que já só resta uma na saúde. Para Óscar Gaspar, “sabendo as dificuldades de sustentabilidade do SNS, quando temos sucessivos défices na saúde, custa perceber como se abdica de instrumento que permitiu poupar centenas de milhões de euros”, como diz o Tribunal de Contas.

“Temos crescimento de atividade com cada vez menos atividade para o Estado”, reforça, acrescentando que “se o Estado entender que devemos avançar para outro tipo de relação, melhor”.

Privados veem com “estranheza” serem envolvidos no encerramento de maternidades

Já sobre as maternidades e a hipótese que foi levantada pelo ministro da Saúde de que as novas regras podem levar ao encerramento de estabelecimentos privados, o presidente da APHP expressaestranheza” em serem envolvidos nesse problema, já que “não há indício de problemas nas maternidades dos privados”.

“Não percebo porque nos querem meter num problema que não é nosso”, reitera Óscar Gaspar, sobre a possibilidade de maternidades privadas fecharem. “O que percebemos dos problemas do SNS é que há questões de organização”, sendo que os problemas identificados “estarão a ser resolvidos”, aponta. Mas “não há indício de problema nas maternidades dos privados, não há nenhum relatório que releve problemas”, diz, apontando assim que não percebe a posição expressa pelo ministro da Saúde.

O presidente da APHP defende ainda que “as maternidades privadas fazem falta ao sistema: não é novidade para os portugueses que têm recorrido aos privados, fazemos o que deve ser feito”, diz. No ano passado, os “hospitais privados também tiveram crescimento do número de partos”, ultrapassando os 13 mil bebés.

É assim uma “área onde houve crescimento muito significativo, nomeadamente desde a Covid e do momento em que foi possível um acompanhamento mais próximo da parte dos pais”, sinaliza. Verificou-se então um crescimento de 3,4% no número de partos nos privados, para 13.197 em 2022. Sobre a taxa de cesarianas, a APHP não tem dados referentes ao ano passado mas diz que a informação é transmitida às autoridades competentes.

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