Carros usados do estrangeiro já valem dois terços do mercado português

Idade média dos carros ligeiros de passageiros em Portuga baixou pela primeira vez em mais de 15 anos. Ainda assim, um em cada quatro automóveis em circulação tem mais de duas décadas.

Os carros usados importados já valem mais de dois terços do mercado automóvel nacional. Em 2022, por cada três automóveis novos comprados, os portugueses foram lá fora buscar dois veículos em segunda mão. Estes dados constam do balanço da Associação Automóvel de Portugal (ACAP) relativo ao último ano.

Em 2022, o rácio do mercado de carros usados sobre os automóveis novos ligeiros de passageiros ascendeu aos 67,1%. No último ano, foram importados 104.908 automóveis em segunda mão provenientes de um país membro da União Europeia, o que compara com os 72.586 registos de 2021, que corresponderam a um rácio de 49,5%.

O aumento do peso dos usados importados deveu-se à crise de fornecimento de semicondutores – com impacto na falta de carros novos para entrega – e ao atraso na renovação das frotas empresarias, com consequências na menor oferta de unidades no mercado nacional, justificou o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro. A idade média dos carros usados importados foi de sete anos.

“A situação gera preocupação para o setor industrial e para o mercado. Há um aumento das emissões no país com a importação destes veículos, o que é algo muito contraditório com o discurso político”, sinalizou o presidente do conselho estratégico da ACAP, Pablo Tuy.

Parque velho, mas com alguma cara nova

Bem mais velhos do que os usados importados são os carros ligeiros de passageiros que circulam nas estradas nacionais. Em média, cada automóvel com esta tipologia tinha 13,1 anos em 2022. Foi a primeira vez em mais de 15 anos que houve um rejuvenescimento. Ainda assim, um em cada quatro carros em circulação tem mais de 20 anos.

Evolução da idade média do parque automóvel de ligeiros de passageiros, entre 2006 e 2021.

A nível fiscal, quanto mais velho for o carro, menor a receita arrecadada pelo Estado. Todos os automóveis matriculados antes de 30 de junho de 2007 apenas pagam imposto único de circulação (IUC), conforme a cilindrada – e uma taxa adicional se for uma unidade a gasóleo. Os veículos com matrícula a partir de 1 de julho de 2007 pagam IUC sobre a cilindrada e as emissões poluentes.

O envelhecimento dos carros também tem consequências a nível da segurança, pois os automóveis mais antigos não estão equipados, por exemplo, com o sistema de controlo de estabilidade (ESP) e têm menos airbags, por exemplo. Também as emissões poluentes são maiores.

Devido a este envelhecimento, mais de metade dos carros atualmente em circulação é a gasóleo (58%), contrariando o atual domínio da gasolina na compra de unidades novas.

Menos emissões e menos peso do rent-a-car

Com os carros a energias alternativas a valerem já 40% das vendas, as emissões dos automóveis novos ligeiros de passageiros têm diminuído nos últimos anos: em 2019, eram 130 gramas de dióxido de carbono; em 2022, foram de 104 gramas de CO2, menos 20%.

Ainda assim, na União Europeia, os veículos alternativos têm um peso superior: em 2022, os carros híbridos, elétrico e a gás valiam 47% do mercado. A gasolina tinha uma quota de mercado de 36% (42% em Portugal) e o gasóleo valia 16% (18% em Portugal).

Apesar de o turismo ter atingido números recorde em vários meses de 2022, não houve recuperação nos carros comprados pelas agências de aluguer de automóveis: em 2019 correspondiam a 29% das vendas de unidades novas; em 2022 foram 23%.

Carros fazem parte de futuro coletivo

Numa altura em que a Comissão Europeia tem promovido o transporte coletivo, sobretudo o ferroviário, o comércio automóvel não quer ficar de parte. Ainda assim, a ACAP reconhece que o carro terá um papel um pouco diferente do que na atualidade, sobretudo dentro das cidades.

“Todos nós queremos ter uma cidade e um país limpo para os nossos filhos. É idealista pensar que o problema se resolve a 100% com transportes públicos. As pessoas têm direito à individualidade”, notou o líder do conselho estratégico da ACAP, recordando que em Portugal há mais de sete milhões de automóveis em circulação.

Helder Pedro, ainda assim, notou que “não [está] contra políticas de transportes coletivos”. “Medidas como os parques de estacionamento junto a terminais de transportes são importantes. Mas as decisões têm de ser tomadas de forma racional”, completou. Em conclusão, o presidente da ACAP, José Ramos, considerou que “é preciso equilibrar os meios de transporte” e “apostar nos transportes públicos no centro das cidades”.

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