Lagarde criticada no Parlamento Europeu. BCE vai subir juros em março e combater alterações climáticas

Da esquerda à direita, Lagarde ouviu críticas sobre a atuação do BCE no combate à inflação e às alterações climáticas. Francesa assegurou que vai continuar a subir juros e a ter metas ambientais.

Chamada a prestar contas no Parlamento Europeu, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) não se livrou das duras críticas da esquerda à direita por causa do seu papel diante da escalada da inflação. Para uns, subir os juros não tem efeitos no alívio dos preços porque grande parte da inflação vem da energia e, portanto, apertar as condições financeiras só “fabrica pobreza”. Para outros, o banco central chegou tarde ao problema da escalada da inflação, que está atualmente nos 8,5%, e assim não há outro caminho a seguir senão continuar a aumentar as taxas.

Uma coisa Christine Lagarde garantiu aos eurodeputados: a reunião de política monetária do BCE em março vai trazer um novo aperto para as famílias e empresas com uma nova subida de 50 pontos base nas taxas diretoras, confirmando algo que o banco central já tinha sinalizado na reunião deste mês. E aí “então avaliaremos a trajetória subsequente de nossa política monetária”, afirmou dirigente francesa esta quarta-feira, indo um pouco ao encontro do que disse o governador Mário Centeno no início desta semana, que adiantou que o BCE poderá ser “mais claro” no próximo mês naquilo que será o pico dos juros, já quando tiver na sua posse novas projeções económicas para a Zona Euro.

Mas qual o momento atual? Lagarde começou por referir que “as pressões nos preços continuam fortes”, em particular naquilo que é designada de inflação subjacente, “que ainda é alta” – excluindo energia e alimentos, permaneceu em 5,2% em janeiro.

Razão pela qual o BCE vai continuar a subir os juros, ainda que tenha reconhecido que a economia vai continuar a apresentar uma atividade “débil”. Porém, ao manter níveis restritivos de juros, o banco central “reduzirá, com o tempo, a inflação ao amortecer a procura e também protegerá contra o risco de uma mudança persistente para cima nas expectativas de inflação”, explicou a líder do BCE.

Seguiram-se as intervenções dos eurodeputados, muitas das quais pouco abonatórias em relação à atuação do BCE nos últimos meses. À esquerda, Christine Lagarde ouviu reclamações como: “Deixe de governar contra os cidadãos, deixe de ser um ativo tóxico”. “Subir os juros é uma fraude. O BCE fabrica pobreza, (…) fabrica pessoas pobres”. À direita, as críticas foram noutro sentido: que o BCE reconheceu tarde que o problema da inflação era mais persistente do que dizia e, agora, “o caminho de subida dos juros deve ser acelerado e não moderado até chegarmos aos 2% de inflação”.

Também o papel do BCE no que diz respeito às alterações climáticas dividiu o plenário, com Christine Lagarde a admitir “beleza” nas diferentes visões políticas que acabara de ouvir. Houve quem dissesse que o banco central deveria focar-se na estabilidade dos preços e deixasse o assunto das alterações climáticas para as autoridades legislativas. A francesa respondeu: “O BCE não está na liderança desse papel [contra as alterações climáticas]. São os senhores que estão a conduzir esse processo. Mas, como parte do nosso mandato, temos de incluir os riscos de alterações climáticos. Isso está claramente indicado no mandato secundário do BCE”.

Em relação às críticas sobre o combate à inflação, a líder do BCE considerou que subir os juros “é o melhor serviço” que pode fazer à economia, assegurando a estabilidade dos preços para que “os investidores saibam os termos em que podem investir e que pede um crédito saiba as condições em que pode pedir um empréstimo”.

Já respondendo ao pedido do Parlamento Europeu para uma melhor coordenação das políticas monetárias e orçamentais, Lagarde ripostou, lamentando que “apenas uma pequena parte das medidas adotadas pelas autoridades orçamentais responderam ao critério do triplo T” – temporary, targeted e tailored (temporárias, orientadas e feitas à medida).

“Apenas 25% são direcionadas e adaptadas, o que é lamentável”, criticou, chamando a atenção para o facto de a Zona Euro vir a pagar a fatura nos próximos anos.

*O jornalista viajou a Estrasburgo a convite do Parlamento Europeu

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