Apesar dos progressos, 22% das mulheres não tem independência financeira. E mais de metade duvida que consiga inverter situação
Salários que não acompanham o custo de vida e trabalho extra não remunerado, como cuidar de crianças e idosos, são apontados como os principais fatores que dificultam a independência financeira.
Apesar de as mulheres portuguesas estarem atualmente numa melhor situação, no que toca à independência financeira, do que as de gerações anteriores, 22% ainda consideram que não têm independência financeira. E mais de metade destas (62%) duvida que seja possível inverter a situação no futuro. Ainda assim, os valores apurados em Portugal ficam abaixo da média europeia (65%) e de países como a Espanha (66%), Alemanha (82%), França (76,5%) e Itália (75%), onde a esperança de conseguir alcançar a independência financeira é mais reduzida, conclui o mais recente estudo realizado pela Mastercard “Mulheres e Finanças”.
“É incrível constatar que ainda há 41% das mulheres que refere que depende de outros por não ganhar dinheiro suficiente, por ganhar muito pouco e não conseguir poupar (38%) ou não receber qualquer rendimento porque não trabalha (27%). Este estudo revela-nos que estes são os principais motivos para a falta de independência financeira das mulheres, mas também verificamos que as mulheres consideram ter menos independência financeira do que os homens por fazerem trabalho extra não remunerado, como cuidar de crianças e idosos, ou por terem decidido ser mães a tempo inteiro (30%)”, comenta Maria Antónia Saldanha, country manager da Mastercard em Portugal, em declarações à ECO Pessoas.
Com o avançar da idade, a esperança de reverter a situação da dependência vai desvanecendo: 37% das mulheres inquiridas entre os 25 e os 39 anos não acredita vir a alcançar essa independência financeira no futuro, uma percentagem que sobe para 65% na faixa etária entre os 40 e 59 anos.
Oito em cada dez mulheres encara independência financeira como objetivo
Ser independente financeiramente é, contudo, um objetivo para oito em cada dez mulheres portuguesas inquiridas (84%). Um valor que fica mesmo acima da média europeia (70%) e de países como a Espanha (74%) ou Roménia (76%).
“Espero que esta seja uma conclusão muito positiva e de grande esperança que podemos retirar deste estudo”, afirma Maria Antónia Saldanha. “Quando 78% das mulheres em Portugal refere que se sente financeiramente independente, claramente coloca Portugal acima de outros países como Espanha (75%), Alemanha (70%) ou Suíça (71%). Aliás, também considero muito positivo ver que, quando questionadas sobre a importância de terem esta independência financeira, as mulheres portuguesas são as que manifestam um maior desejo (84%). Este desejo pode ser a base para continuarmos a construir uma mudança de paradigma. Esta percentagem é também muito relevante porque é superior a qualquer outro país em análise.”
Se alcançar a independência financeira é muitíssimo importante para as mulheres no nosso país, cabe-nos a todos criarmos as condições para que cada vez mais mulheres possam alcançar essa independência. Deixo aqui o repto para que mais empresas contribuam e possamos ver grandes melhorias num futuro próximo.
“E, sendo assim, se alcançar a independência financeira é muitíssimo importante para as mulheres no nosso país, cabe-nos a todos criar as condições para que cada vez mais mulheres possam alcançar essa independência. Deixo aqui o repto para que mais empresas contribuam e possamos ver grandes melhorias num futuro próximo”, acrescenta.
Entre as principais razões que justificam que quase 80% das mulheres portuguesas inquiridas afirmem ser financeiramente independentes, está o facto de terem os seus próprios rendimentos (87%), disporem de poupanças para fazer face a qualquer problema financeiro (25%) ou utilizarem ferramentas financeiras (10%).
“O estudo destaca também que a evolução em Portugal tem sido positiva ao longo dos anos, já que sete em cada dez mulheres considera ser mais independente financeiramente do que as mulheres da sua família de gerações anteriores, ligeiramente acima da média europeia (67%) e atrás apenas da Bulgária (74%), Roménia (74%) e Espanha (74%)”, salienta a Mastercard. Por outro lado, 20% das mulheres considera ter o mesmo nível de independência que as suas antecessoras e 10% diz ter menos.
Para 63% das mulheres portuguesas, dinheiro significa maior liberdade, sobretudo por não terem de depender financeiramente de ninguém, mas também por proporcionar a concretização de objetivos (32%) e um menor stress perante dívidas e/ou investimentos (27%).
No que toca às preferências de consumo, mais de metade (59%) afirma preferir gastar o seu dinheiro em experiências ao invés de produtos, sobretudo as mulheres na faixa etária dos 25 aos 39 anos (68%). Apesar disso, a maior parte do rendimento (83%) é gasto com despesas com habitação, alimentação e combustível. O restante dinheiro é gasto em experiências, como jantar fora ou viajar (6%), seguido da aquisição de vestuário (3%).
Olhando para investimentos futuros, mais de uma em três mulheres portuguesas manifestou interesse em ser proprietária de uma casa (39%), valor que sobe para 49% no caso das mulheres entre os 25 e 39 anos. Já a faixa etária dos 60 aos 75 anos manifestou vontade de investir em algo que contribua para o bem-estar da família (37%).
Em matéria de poupança, duas em cada três mulheres (65%) admitem ter poupanças e/ou investimentos, embora mais de metade (58%) admita usá-las para pagar despesas correntes, sugerindo que o seu rendimento não é suficientemente alto para sustentar o seu custo de vida. O grupo que mais poupa é o dos 25-39 (63%), seguido das mulheres entre os 60 e os 75 anos (57%) e das que têm entre os 40 e os 59 anos (56%). Cerca de 35% das mulheres confessa não conseguir poupar e 7% não tem qualquer rendimento mensal.
Conhecimentos financeiros insuficientes
Apesar dos progressos verificados ao nível da independência económica, mais de metade das mulheres entrevistadas em Portugal (55%) acha que os seus conhecimentos financeiros são muito básicos ou nulos. Concretamente, 38% afirma ter conhecimentos básicos e 7% nenhum conhecimento, apenas atrás das francesas, italianas ou espanholas.
Os dados mostram também que mais de metade das mulheres entrevistadas tem dificuldade em entender vários conceitos económicos como investimentos (59%), tecnologia e aplicações de banca (34%), impostos (27%) e hipotecas (18%).
No campo tecnológico, a realidade é mais animadora. Oito em cada dez portuguesas considera que a tecnologia desempenha um papel importante ou essencial na gestão das suas finanças, um valor superior ao de países como a Espanha (68%), Áustria (65%) ou Alemanha (63%). E, quando inquiridas sobre as ferramentas mais úteis para gerir as suas finanças, sete em cada dez mulheres portuguesas afirma utilizar o online banking, sendo as mulheres mais jovens
(idades entre os 25 a 59) as que mais utilizam. Entre os principais motivos estão a comodidade (77%), facilidade de acesso (52%), simplicidade e rapidez (35%).
Apesar disso, a percentagem que utiliza serviços financeiros online (76%) fica abaixo quando comparada com a média europeia (83%), espanhola (86%) ou romena (85%). Também se verificam ligeiras diferenças na utilização destes serviços em termos de faixas etárias: 78% das mulheres entre os 25 e os 39 anos utiliza os serviços bancários online, um valor que cai para 72% na faixa etária entre os 60 e 75 anos. Das mulheres que usam o online banking, quase metade (42%) afirma que o faz desde os cinco a dez anos.
Entre os recursos digitais que as mulheres acham que mais as ajudariam a gerir as suas finanças são apontadas as aplicações dos bancos (38%), além das apps de gestão de poupanças ou controlo dos gastos (37%).
O estudo, realizado em 12 mercados europeus, incluindo Portugal, teve por base entrevistas realizadas pela Alpha Research, entre julho e agosto de 2022, a um total de 12.000 mulheres, entre as quais 1.000 em Portugal.
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