Pés na terra, uma chávena de chá nas mãos e um banho de floresta. Este ritual de bem-estar chegou às empresas

A quinta de Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort abre as portas a empresas para visitas guiadas pela plantação e os workshops que terminam sempre com a degustação de uma chávena de chá em grupo.

Nina Gruntkowski, natural da Alemanha, vinha a Portugal com uma missão: fazer uma reportagem sobre o Douro. Mas essa visita, enquanto ainda trabalhava como jornalista para uma rádio alemã, mudou a sua vida para sempre. Apaixonou-se pelo país e também pelo português Dirk Niepoort. Mais tarde decidiu mudar-se de malas e bagagens para o Porto. Foi lá, mais precisamente no quintal da sua casa, que decidiram plantar duas centenas de plantas de chá. Hoje são já 12 mil as plantas que ocupam um hectare inteiro da quinta que possuem em Fornelos, no concelho de Vila do Conde, e que acolhe o projeto que, entretanto, semearam: a Chá Camélia.

Na quinta, além de cultivarem chá – que comercializam nacional e internacionalmente, exportando já para toda a Europa, Brasil e Estados Unidos – os produtores partilham a sua paixão por este mundo com os profissionais da gastronomia, tea sommeliers, interessados na agricultura biológica… E também com as empresas que os visitam. Companhias que decidem fazer as suas sessões de team building no meio da natureza, numa envolvente inspirada pelas antigas culturas de chá da Ásia, mais propriamente do Japão. Tudo, claro, com uma chávena de chá na mão.

“Estar na natureza e experienciar o caminho de produção de um produto com uma cultura milenar é uma experiência única. A degustação de chá na natureza traz conforto e calma, e sentimos que os grupos apreciam este momento em conjunto”, conta Nina Gruntkowski. “Tentamos criar um ciclo sustentável na quinta, onde tudo o que utilizamos na terra é proveniente do meio envolvente. Inspirado pelas antigas culturas de chá da Ásia, Japão em particular, seguimos a produção artesanal de chá de alta qualidade. A nossa colheita das folhas é inteiramente manual. Para além disso, a maior parte do processo de transformação é feito à mão”, explica a cofundadora e CEO da Chá Camélia.

Para divulgar a cultura do chá e todos os seus rituais, bem como para partilhar a paixão e conhecimento dos fundadores sobre este complexo mundo, a quinta abre as suas portas com alguma frequência a visitantes que tragam consigo a curiosidade de saber mais sobre a produção de chá, e – claro – a vontade de degustá-lo. Através de visitas guiadas, a Chá Camélia convida todos os interessados a conhecer e acompanhar o progresso da plantação, aprendendo mais sobre o cultivo de produto.

Estar na natureza e experienciar o caminho de produção de um produto com uma cultura milenar é uma experiência única. A degustação de chá na natureza traz conforto e calma, e sentimos que os grupos apreciam este momento em conjunto.

Nina Gruntkowski

Cofundadora e CEO da Chá Camélia

Entre os participantes encontram-se, sobretudo, “fãs de chá, profissionais da gastronomia, tea sommeliers, pessoas interessadas em saúde e bem-estar, e até pessoas interessadas na agricultura biológica e biodinâmica”, detalha Nina Gruntkowski. E no que toca a nacionalidades, a produtora de chá diz que, atualmente, a procura por parte de portugueses e de estrangeiros não tem diferenciação. “Diria que é 50/50”, afirma.

Por vezes, a Chá Camélia abre as portas a outro tipo de visitantes: empresas que encontram na plantação de chá a ‘sala’ ideal para fortalecer os laços entre os colaboradores, aumentar a motivação, fomentar o bem-estar e proporcionar-lhes um momento enriquecedor, de convívio e aprendizagem, fora dos escritórios ou do sítio a partir do qual, habitualmente, trabalham. “Temos um público muito diverso”, assegura.

“Já fizemos workshops de team building aqui na plantação e online, em que enviámos os chás para os colaboradores degustarem juntos”, conta. Os dois formatos são possíveis e igualmente procurados, mas Nina Gruntkowski não esconde a sua preferência: “Estar aqui na plantação, na natureza, é uma experiência muito mais completa e descontraída do que estar sentado em frente ao computador.”

Shinrin-yoku. Banhos de floresta para aliviar o stress

Além das visitas guiadas, o projeto conta também com alguns workshops. “Temos workshops temáticos, ligados à cerâmica e também o Banho de Floresta, que fazemos três vezes por ano”, explica Nina Gruntkowski.

O Banho de Floresta, ou Shinrin-yoku, expressão nipónica que significa banho (shinrin) e floresta (yoku), é uma prática oriunda do Japão que consiste numa caminhada lenta de atenção plena na natureza. Conduzido por uma instrutora especializada, neste workshop abranda-se o ritmo e presta-se atenção à envolvente em que se está inserido.

“Através dos nossos sentidos desaceleramos e conectamos com a natureza e connosco próprios. Ao estarmos em harmonia com a natureza e com o nosso ser interior, o nosso sistema nervoso consegue recompor-se, o nosso corpo recupera energia e a nossa mente fica calma e revitalizada”, lê-se no site do projeto.

A plantação de Chá Camélia, com o seu pequeno bosque, é o sítio onde acontece o Banho de Floresta e, no final do ritual, os participantes partilham – já adivinharam – uma chávena de chá e dos conhecimentos de Nina Gruntkowski.

O Banho de Floresta, sem correrias, telemóveis ou caixa de entrada de emails, é considerada no Japão uma terapia, reconhecida pelo seu Sistema Nacional de Saúde. Aliás, é vista mesmo como uma das formas mais eficazes para lidar com o karoshi, fenómeno conhecido como “morte por excesso de trabalho”.

O ruído das folhas a estalar no chão quando pisadas, o cheiro das flores e das árvores, a luz do sol entre os ramos e o ar puro que se respira são elementos que potenciam o bem-estar, ajudando a reduzir a ansiedade, a relaxar e até a pensar com maior clareza, defendem os especialistas.

Qing Li, um dos maiores especialistas em medicina florestal – há mais de duas décadas que investiga os efeitos benéficos de deambular pelas florestas –, defende esta terapia como forma de combater aquilo que ele próprio considera ser a epidemia do século XXI: o stress. “As árvores ajudam-nos a ser mais saudáveis e felizes”, concluiu. Frase que deu origem ao seu livro “Shinrin-Yoku. A Arte Japonesa da Terapia da Floresta – Como as árvores nos ajudam a ser mais saudáveis e felizes”.

Segundo o especialista, estar rodeado de árvores ou plantas (até mesmo no conforto de casa) contribui para a redução da pressão arterial, da ansiedade e do stress; ao mesmo tempo que aumenta a energia, favorece o sistema imunológico e pode até levá-lo a perder algum peso excessivo.

No Japão, existem 62 parques naturais onde se pratica shinrin-yoku e que integram 
o programa nacional de saúde e estima-se que entre 2,5 a 5 milhões de pessoas utilizem anualmente os trilhos florestais para caminhar, segundo dados coletados com base no livro “Shinrin-Yoku. A Arte Japonesa da Terapia da Floresta, de Qing Li, editado pela Nascente.

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