Cerdeira, a casa onde mora a criatividade e a natureza

As casas de xisto que sobem o vale têm sido abrigo de empresas que chegam à Cerdeira para fazer retiros estratégicos. E também de artistas que pretendem desenvolver os seus projetos.

Já lá vão mais de 20 anos desde que a amizade entre duas famílias (a de Kerstin Thomas e Bernard Langer e de Natália e José Serra) motivou o início da reconstrução de algumas casas da aldeia de xisto da Cerdeira. Mas a Cerdeira – Home for Creativity nasce só em 2012. Objetivo? Ser um espaço de turismo rural intimamente ligado às artes. Hoje, além do alojamento rural, este projeto conta com retiros para empresas que pretendam desligar do ritmo acelerado do dia a dia, dos ecrãs e da chuva de notificações, e conectar-se com a natureza e com as pessoas; ou que queiram juntar a equipa para trabalhar num novo projeto. Há ainda espaço para residências artísticas.

“Para além do alojamento local em casas de xisto reconstruídas com a arquitetura original da aldeia, pretendemos afirmar-nos como um polo de criação artística. Aqui a criatividade é mesmo para todos e o lugar onde a arte, a natureza e o conforto se unem de uma forma muito especial”, explica Sofia Rosa, marketing manager da Cerdeira – Home for Creativity.

“Desde o início, o sonho foi dar uma nova vida a um lugar que esteve ao abandono desde meados do século XX. Hoje, sentimos que esse objetivo foi cumprido e queremos provar que existe vida no interior e motivar outros a fazer o mesmo nas áreas mais remotas do país.”

Queremos provar que existe vida no interior e motivar outros a fazer o mesmo nas áreas mais remotas do país.

Sofia Rosa

Marketing manager da Cerdeira - Home for Creativity

As casas de xisto que sobem o vale até ao topo da montanha, na maioria recuperadas após vários anos em abandono, têm sido o pouso de algumas empresas que chegam à Cerdeira para fazer retiros estratégicos ou de team building com as suas equipas. Têm acesso à Casa das Artes – um espaço polivalente reconstruído de acordo com os métodos tradicionais no âmbito do projeto internacional EcoArq – Arquitetura Ecológica – onde é possível organizar reuniões ou outras atividades de grupo mais criativas.

“A casa está equipada com cozinha profissional e com possibilidade de servir refeições de grupo no interior e no exterior. De acordo com as necessidades de cada grupo, podemos fazer o catering ou organizar atividades criativas e ao ar livre”, detalha Sofia Rosa.

Entre as escolhas mais populares, estão as experiências criativas, organizadas pela Escola de Artes & Ofícios na Cerdeira. Fazer taças e copos em cerâmica numa roda de oleiro inventada há 3.000 anos, fazer figurado em cerâmica, construir casas de xisto em miniatura ou aprender a cozinhar a chanfana, o prato mais famoso da região, são algumas das atividades mais populares.

Mas há mais. Para aproveitar a envolvente, são também organizadas atividades ao ar livre, que são as mais procuradas pelos grupos que pretendem programas mais extensos e de aventura. “Existem várias opções, desde caminhadas guiadas, observação de veados, canoagem e canyoning pelo rio, arborismo e até caças ao tesouro”, elenca a responsável pelo marketing.

Pensar “fora da caixa”, fortalecer relações e cuidar da saúde mental

Tanto para as equipas que chegam com o objetivo de desligar por completo dos telemóveis e da caixa de correio eletrónico, como para as que vêm para desenvolver um projeto entre profissionais que não costumam cruzar-se diariamente, os resultados obtidos têm sido muito positivos, garante Sofia Rosa.

“Todas estas estratégias contribuem para pensamentos ‘fora da caixa’ e novas aprendizagens. No final, este tipo de retiros costuma resultar num conjunto de soluções inovadoras para os problemas atuais da empresa, elaborado com o contributo de todos.”

A partilha de novas experiências dentro da equipa, fomentada principalmente por momentos de lazer e diversão, é igualmente muito valiosa para a cultura organizacional e o bem-estar e motivação das pessoas. “Verificamos que a participação conjunta numa experiência criativa de cerâmica, por exemplo, fortalece as relações e a resolução de conflitos anteriores. Recebemos relatos de empresas que, após o retiro, afirmaram ter visto uma melhoria nas sinergias entre colaboradores e equipas, bem como um ambiente geral mais positivo na companhia”, conta.

“Também num contexto em que elevados níveis de stress e burnout são cada vez mais comuns, a simples mudança de cenário para um local calmo e envolto pela natureza ajuda os colaboradores a abstrair-se dos problemas do dia a dia e a sentirem-se mais felizes e motivados no trabalho”, salienta Sofia Rosa.

Até agora, mais de 30 empresas, desde startups a grupos empresariais multinacionais, passaram pela Cerdeira – Home for Creativity. Na sua maioria desenvolvem a sua atividade nas tecnologias da informação e serviços de consultoria financeira e de gestão. “A maior parte destas empresas está localizada nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e, talvez por isso, sejam estas as que mais sentem a necessidade de se distanciar dos centros urbanos e trabalhar num ambiente diferente daquele que vivem no dia a dia.”

Casas das artes e dos ofícios

A Cerdeira – Home for Creativity atua ainda numa outra vertente. Acolhe artistas, nacionais e internacionais, que querem passar um período num local diferente do habitual para trabalhar num projeto que têm em mãos, conhecer outros artistas ou apenas receber inspiração para criar algo no futuro, motivados pelas experiências na residência artística.

“Recebemos artistas que se focam nas mais variadas áreas, como a cerâmica, madeira, têxtil, pintura, ofícios tradicionais, escrita, cinema e outras artes plásticas e digitais. A variedade de áreas em que os artistas se inserem é o que traz a riqueza de experiências necessária a este tipo de iniciativa. Por isso, procuramos sempre acolher artistas de várias áreas, quer sejam mais tradicionais ou completamente inovadoras”, explica Sofia Rosa.

Durante quatro períodos por ano, os artistas podem ficar na Cerdeira em comunhão com outros artistas, partilhando experiências e ideias entre si. No entanto, se o objetivo é uma residência num formato mais intimista e de retiro, é preferível optar por instalar-se na Cerdeira durante qualquer outra altura do ano. Os artistas podem ficar alojados em casas individuais, com cozinha equipada e acesso ao atelier de trabalho e equipamentos, a apoio técnico especializado e às restantes infraestruturas da aldeia, como a biblioteca, a lavandaria, a galeria e o café.

“O resultado destas residências artísticas tem sido sempre muito positivo para nós, culminando, por exemplo, na criação em conjunto de peças de arte que ficam em exposição na Cerdeira. Para além disso, aproxima os artistas do público geral, através da convivência na aldeia e eventos, como o nosso festival anual de artes e ofícios, o ‘Elementos à Solta’. Isto abre a porta à criatividade na vida de cada um de nós e cria um conjunto de experiências únicas e irrepetíveis que só são possíveis na Cerdeira. Para uma aldeia que vive e respira arte, este tipo de contributos são fundamentais.”

(artigo publicado inicialmente na edição 19 da Pessoas)

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