Sintra, Seixal e Setúbal são os concelhos onde ficou mais difícil comprar casa

O esforço financeiro exigido às famílias para comprar casa na periferia de Lisboa mais do que duplicou desde 2018. E a "culpa" não é só da subida dos preços das casas e das taxas de juro.

Comprar casa tornou-se numa missão (quase) impossível para a maioria das famílias. De acordo com cálculos do ECO, a taxa de esforço para comprar casa nova num dos 24 concelhos mais populosos do país mais que duplicou no espaço de quatro anos.

Por conta da escalada das taxas Euribor (que servem de indexante no cálculo do crédito à habitação) e da subida dos preços dos imóveis, que não foram acompanhados por uma equivalente subida dos rendimentos das famílias, hoje, comprar uma casa em Portugal exige, em média, o dobro do esforço financeiro que em 2018.

Tanto em Sintra como em Portugal, o aumento significativo da taxa de esforço das famílias que se observou nos últimos cinco anos é causado pela subida das taxas de juro e pelos preços do imobiliário, mas sobretudo porque os rendimentos das famílias não acompanharam esta dinâmica.

Entre os 24 concelhos mais populosos destaca-se Sintra, Seixal e Setúbal onde a dificuldade para comprar casa mais aumentou desde 2018. Nestas regiões, a taxa de esforço para comprar casa nova é hoje, em média, 2,6 vezes superior ao que se verificava em 2018.

Em Sintra, o concelho onde ficou mais difícil comprar casa nos últimos cinco anos, a taxa de esforço das famílias é atualmente 2,63 vezes superior do que em 2018. Na carteira das famílias, este rácio repercute-se da seguinte forma:

  • Em 2018, um imóvel de 100 metros quadrados em Sintra comprado aos preços da altura (1.049 euros o metro quadrado, segundo o Confidencial Imobiliário) por via de um crédito à habitação às condições financeiras da altura (indexado à Euribor a 12 meses de -0,5% e com um spread de 1,5%) a 30 anos, com uma entrada de 20% do valor da escritura, traduzia-se numa prestação mensal de 285 euros. Considerando o rendimento bruto declarado médio por agregado fiscal em 2018, uma família sintrense que adquirisse uma casa no seu concelho há cinco anos contaria com uma taxa de esforço média de 18%.
  • Hoje, para comprar a mesma casa, em função da subida das taxas de juro (a Euribor a 12 meses está a negociar nos 3,7%), das novas condições comerciais dos bancos (que se traduz inclusive num spread mais baixo) e do preço do metro quadrado na região (segundo o Confidencial Imobiliário, os preços aumentaram 86% em Sintra entre 2018 e 2022, cerca de 17% por ano), a prestação do crédito à habitação passou para 824 euros. Como os rendimentos das famílias sintrenses, segundo dados do INE, subiram apenas 2,3% por ano desde 2018, a taxa de esforço das famílias passou para 46%.

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Tanto em Sintra como em Portugal, o aumento significativo da taxa de esforço das famílias que se observou nos últimos cinco anos é causado pela subida das taxas de juro e pelos preços do imobiliário, mas sobretudo porque os rendimentos das famílias não acompanharam esta dinâmica.

Os cálculos do ECO mostram que estes três concelhos na área metropolitana de Lisboa são as áreas onde a dificuldade para comprar um imóvel mais aumentou no último quinquénio. No entanto, Sintra, Seixal e Setúbal não são os concelhos onde hoje é mais difícil comprar casa.

Comprar casa em Lisboa e Cascais é uma miragem para a maior parte das famílias

O preço médio do metro quadrado das casas vendidas em Lisboa em 2022 foi de 4.225 euros, mais do dobro do preço médio praticado em Portugal. Os dados do Confidencial Imobiliário mostram que esse rácio até tem descido nos últimos cinco anos, por conta da subida dos preços na capital (16% entre 2019 e 2022) ter sido inferior ao aumento dos preços registados no resto do país (32% no mesmo período).

No entanto, hoje, comprar uma casa em Lisboa está ao alcance de muito poucos. Segundo cálculos do ECO, tomando em conta os atuais preços do imobiliário, os custos financeiros do crédito bancário e os salários das famílias, a compra de uma casa nova de 100 metros quadrados em Lisboa gera uma taxa de esforço média acima dos 70%, a mesma taxa que em Cascais. Em 2018, a compra do mesmo imóvel sob as mesmas condições (nomeadamente assumindo uma entrada de 20% para compra de casa) conferia uma taxa de esforço de 41% em Lisboa e 32% em Cascais.

Entre os 24 concelhos mais populosos do país, apenas três (Braga, Vila Nova de Famalicão e Viseu) apresentam atualmente uma taxa de esforço inferior a 33% (consensualmente vista pelo setor bancário como uma taxa limite) para comprar uma casa de 100 metros quadrados, considerando uma entrada de 20% dos valor da escritura.

Tecnicamente, significa que hoje, somente em Braga, Vila Nova de Famalicão e Viseu é que os seus residentes têm capacidade financeira para comprar casa nos seus concelhos. Nos restantes, a solução terá de passar por avançar com mais capital de entrada ou comprar uma casa mais pequena.

Em Lisboa, por exemplo, para cumprir com as medidas macroprudenciais do Banco de Portugal exigidas aos bancos para conceder crédito à habitação, uma família que ganhe 2.514 euros líquidos por mês (salário médio do agregado das famílias em Lisboa) e queira comprar uma casa na sua cidade, só consegue comprar um imóvel novo de 100 metros quadrados se avançar com 60% do valor de compra ou então tem de ficar por uma casa com 50 metros quadrados.

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