Produtividade aumenta mas os trabalhadores não ganham com isso
A fatia do rendimento nacional que fica para os trabalhadores está a encolher. Os ganhos de produtividade conseguidos pela tecnologia e globalização estão a promover a desigualdade, conclui o FMI.
O rendimento está a ser encaminhado para o capital, prejudicando os trabalhadores — podia ser uma observação do PCP, mas não é: a afirmação resulta antes de um artigo de investigação do FMI. A produtividade das economias avançadas está a aumentar. Mas desde a década de 80 que a percentagem do rendimento nacional que serve para pagar aos trabalhadores está a diminuir. A conclusão consta do Capítulo III do World Economic Outlook de abril, revelado esta segunda-feira.
Com o progresso tecnológico e a globalização, as economias avançadas estão a ver a sua produtividade subir. Mas os salários não estão a acompanhar esse aumento de produtividade o que significa que a fatia que fica de tudo o que é produzido para os trabalhadores é mais pequena.
“Nas economias avançadas, a percentagem do rendimento do trabalho começou a diminuir na década de 1980”, lê-se no documento. O ponto mais baixo desta percentagem foi atingido mesmo antes da crise económico-financeira de 2008-2009 e os valores “ainda não recuperaram significativamente” desde então. No caso das economias emergentes há menos dados, mas é possível verificar que nas maiores economias esta percentagem também tem vindo a diminuir.
Como é que isto se explica?
Num artigo publicado no blog do FMI, sobre este capítulo do World Economic Outlook, quatro economistas — Mai Dao, Mitali Das, Zsoka Koczan e Weicheng Lian — ajudam a descodificar as principais conclusões. Os peritos explicam que metade desta tendência de descida pode ser explicada pelo impacto das tecnologias da informação e telecomunicações, na medida em que substituem uma percentagem elevada de empregos que passam a ser automatizados.
Outro fator que contribui é a globalização, que permite explicar cerca de um quarto do declínio observado na percentagem do rendimento do trabalho.
Quais são as consequências?
Há dois tipos de consequências observadas: primeiro, há uma erosão dos empregos de qualificações médias, já que estes são os que mais facilmente são substituídos pela tecnologia. É por isso que é nesta fatia que a partilha dos ganhos é menor. Os empregos tendem por isso a “polarizar-se entre trabalhadores de elevadas qualificações, e de baixas qualificações”, explica o artigo do blog do FMI.
Segundo, há um aumento da desigualdade: “O resultado é que uma porção maior dos ganhos de produtividade têm revertido para o capital”, frisam os economistas. “E como o capital tende a estar concentrado no extremo superior da distribuição de rendimentos, a queda da percentagem do rendimento do trabalho tendem a aumentar a desigualdade de rendimentos”, rematam os autores do post.
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