Banca portuguesa “poupa” 1.200 milhões em juros nos depósitos ao pagar menos que Zona Euro
Em comparação com os bancos da Zona Euro, os bancos nacionais pagam menos 86% pelos depósitos das famílias e menos 70% pelos depósitos das empresas.
Se os bancos portugueses pagassem o mesmo que a banca da Zona Euro nos depósitos, as famílias e empresas portuguesas receberiam mais 1.200 milhões de euros pelas suas poupanças do que recebem atualmente, de acordo com os cálculos do ECO com base nas estatísticas do Banco Central Europeu (BCE).
Embora as remunerações estejam a subir nos últimos meses, os depósitos portugueses continuam a ser dos menos rentáveis na região da moeda única.
Ainda na semana passada, apesar de ter reconhecido esta evolução positiva, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, considerou no Parlamento – que está a levar a cabo um conjunto de audições com responsáveis sobre o desfasamento dos juros dos depósitos e dos empréstimos – que o esforço realizado pela banca portuguesa ainda é “insuficiente” até ao momento.
O valor de 1.200 milhões de euros foi calculado com base na diferença das taxas de juro médias praticadas pelos bancos portugueses em relação aos bancos da Zona Euro no stock de depósitos de particulares e empresas em fevereiro. Importa sublinhar que tanto as taxas de juro médias como o volume de depósitos flutuam todos os meses, pelo que a “poupança” dos bancos portugueses varia mensalmente.
Famílias com 90 mil milhões a renderem 0%
Em relação aos depósitos para particulares, caso as poupanças das famílias fossem remuneradas à taxa de juro média da Zona Euro, os depósitos de cerca de 180 mil milhões de euros estariam a render 1,11 mil milhões em juros (por ano e em termos brutos) e não apenas 155 milhões às taxas praticadas pelas instituições portuguesas, que conseguem assim “poupar” cerca de 960 milhões de euros.
Isto significa que, em termos médios, por cada 100 euros de juros que os bancos da Zona Euro pagam em juros nos depósitos dos particulares, os bancos portugueses pagam apenas 13,9 euros.
Na prática, a banca nacional paga, em média, menos 86% pelas poupanças das famílias do que o que estão a pagar os bancos da Zona Euro – o que ajuda a explicar por que razão há uma corrida para os Certificados de Aforro.
As famílias têm atualmente 89,7 mil milhões de euros em depósitos à ordem que nada rendem. Caso este aforro fosse remunerado à taxa média de 0,12% praticada pelos bancos da Zona Euro, as famílias receberiam cerca de 107 milhões em juros.
Nos depósitos a prazo até dois anos, que agregavam em fevereiro cerca de 81,9 mil milhões, se fossem remunerados à taxa média de 1,07% da Zona Euro, as famílias teriam direito a 875,8 milhões de juros – em vez dos 130,9 milhões que resultam da aplicação de uma taxa média de 0,16%.
Já nos depósitos a prazo a mais de dois anos, que acumulam poupanças de 7,6 mil milhões de euros, a diferença de juros permite uma poupança de 106,8 milhões aos bancos nacionais.
Empresas têm 80% dos depósitos à ordem
Quanto às empresas, com os depósitos a ascenderem a mais de 60 mil milhões de euros em fevereiro, os menores juros que as instituições nacionais pagam em relação à Zona Euro significam poupanças de 277,4 milhões de euros para os cofres dos bancos.
Por cada 100 euros de juros que a banca europeia paga às empresas, os bancos nacionais apenas dão 30 euros, em termos médios. Isto significa que, atualmente, a banca nacional paga, em média, menos 70% do que a média da banca da Zona Euro pelas poupanças das empresas.
Grande parte das poupanças (80%) está aplicada em depósitos à ordem que estão a render 10 milhões de euros em juros a uma taxa média de 0,02%. Se rendessem 0,31% (taxa média da Zona Euro), as empresas receberiam 158,3 milhões de euros em juros.
Nos depósitos a prazo até dois anos, que ascendiam em fevereiro a 12,1 mil milhões de euros, o diferencial de juros dá uma “poupança” de 127 milhões aos bancos.
Já os 200 milhões aplicados em poupanças com prazos superiores a dois anos rendem juros de 1,48 milhões, mas estariam a render mais do dobro (3,4 milhões) com as taxas médias praticadas na Zona Euro.
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