Portos nacionais ainda “carregam” menos carga do que antes da pandemia
Redução da carga em Sines, Setúbal e Leixões pressiona resultados portuários em 2022, com Portugal a perder terreno para concorrentes espanhóis. Lisboa, Aveiro e Figueira da Foz fecham no "verde".
Os portos comerciais em Portugal movimentaram cerca de 85,6 milhões de toneladas de carga no ano passado, que terminou com uma greve parcial dos trabalhadores marítimos a bloquear as operações portuárias. Ficaram “num nível similar” ao registado em 2021 (85,7 milhões de toneladas), que já tinha sido impactado pelo polémico fecho da refinaria da Galp em Matosinhos.
Os dados sobre o desempenho da atividade portuária em Sines, Leixões, Setúbal, Lisboa, Aveiro e Figueira da Foz, cedidos pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), mostram, assim, que a performance no último exercício ficou ainda aquém do último ano pré-pandemia (87,1 milhões de toneladas) e longe do máximo histórico registado em 2017 (96 milhões de toneladas).
Apesar dos balanços positivos na movimentação de carga acumulada nos portos de Lisboa (+13,7%), da Figueira da Foz (+30,3%) e de Aveiro (+7,6%), o registo global acabou por ser prejudicado pelo decréscimo verificado nas maiores infraestruturas do país. Baixou 3,7% em Sines – que detém mais de metade da quota do sistema portuário nacional –, com Setúbal (-5,8%) e Leixões (-1,9%) a verem igualmente o tráfego reduzido.
Contactada pelo ECO, a administração de Sines explicou o decréscimo no segmento contentorizado com a quebra no consumo a nível mundial, notando ainda que o escoamento de stocks elevados e a política ‘zero Covid’ que fechou fábricas na China foram “fatores que originaram uma redução da procura de transportes”.
“Uma combinação de vários fatores – desde a escassez global de contentores, a guerra na Ucrânia a afetar os custos de energia, das matérias-primas e todo o processo decorrente, e a forte concorrência internacional – contribuiu para os valores registados” no Porto de Sines, que perspetiva para este ano uma evolução de 11% na movimentação total de mercadorias, superando os 49,86 milhões de toneladas.
O escoamento de stocks elevados e a política “zero Covid” com fábricas fechadas na China foram fatores que originaram uma redução da procura de transportes.
Já o principal porto nortenho diz que continuou a pagar a fatura do encerramento da atividade da refinaria da Petrogal de Leça da Palmeira, que fez o volume de granéis líquidos em Leixões voltar a baixar 13,7%. Excluindo esse segmento, fecharia as contas no “verde” (0,5%), como assinala ao ECO o novo presidente da APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo.
“Para 2023, tendo por base o plano de atividades e orçamento [da instituição], existe uma perspetiva positiva de evolução da atividade, a qual também contempla o movimento no terminal ferroviário de mercadorias de Leixões que, desde o início de fevereiro, passou a ser gerido pela APDL”, sublinha João Neves, a escolha de João Galamba para suceder a Nuno Araújo, que assumiu o cargo de diretor-geral da Aethel Mining, concessionária das minas de ferro de Torre de Moncorvo.
O movimento de mercadorias ligeiramente inferior ao verificado no ano anterior [está] essencialmente associado à redução do volume de granéis líquidos gerado pelo encerramento da atividade da refinaria da Petrogal de Leça da Palmeira.
De regresso aos resultados da atividade portuária a nível nacional, no que toca ao fluxo das operações, os dados oficiais mostram que a pressão negativa veio da expedição de mercadorias. É que os desembarques, que representaram 60% do total da carga movimentada no ano de 2022, até cresceram 2%, equivalendo a 50,9 milhões de toneladas; ao passo que foram embarcadas apenas 34,7 milhões de toneladas, uma redução de 3% em termos homólogos.
Por outro lado, numa apreciação ao desempenho comparativo entre os portos que compõem os sistemas em Portugal e em Espanha, a Autoridade liderada pela ex-governante socialista Ana Paula Vitorino – foi secretária de Estado dos Transportes na primeira fase do consulado Sócrates (2005-2009) e ministra do Mar de António Costa nos anos da geringonça (2015 – 2019) – assinala que o conjunto dos portos espanhóis cresceu 3% no ano passado, face ao exercício anterior, “ilustrando uma dinâmica superior” à registada pelos portos portugueses do continente.
A 22 de março, durante uma audição parlamentar, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, referiu que estava a “a ultimar um pacote de medidas que iniciarão um novo capítulo para os portos nacionais”, que devem “caminhar para hubs energéticos” e emissões zero até 2035. O sucessor de Pedro Nuno Santos antecipou que o plano irá passar, entre outros, pelo aumento de 30 para 75 anos do prazo máximo das concessões de terminais, a simplificação administrativa e a especialização dos portos, novos incentivos à captação de investimento e o fomento da especialização dos trabalhadores.
Contentores em perda, granéis líquidos recuperam
Num ano em que os portos nacionais foram escalados por um total de 10.111 navios, 6,2% acima do verificado em 2021, o principal destaque vai para a quebra de 5,4% no movimento de contentores, correspondente a uma perda de 2,9 milhões de TEU (unidade equivalente de um contentor de 20 pés). Fundamentalmente devido à travagem a fundo em Setúbal (-26,1%) e em Sines (-8,9%) – e no caso deste último, a carga contentorizada representa quase um quarto da movimentação no sistema portuário nacional.
Neste tipo de carga, Figueira da Foz e Leixões registaram perdas inferiores (-3,1% e 0,6%, respetivamente), sendo que no caso do principal porto nortenho foi, ainda assim, o melhor resultado de sempre neste particular, só superado pelo valor recorde de 2021. Com a Aveiro a arrancar em 2022 o primeiro serviço regular de contentores, da responsabilidade da Ellerman, só mesmo Lisboa (11,8%) progrediu ao nível deste tráfego. Reforçou o cariz exportador deste porto, já que mais de 60% da carga contentorizada é de embarque.
Já a categoria global dos granéis líquidos — nos quais a AMT, neste tratamento de dados, passou a integrar a carga relativa ao gás liquefeito, que anteriormente se distribuía por outras tipologias – viu no ano passado a quota de mercado subir para 35,5% nos portos portugueses: no seu conjunto, cresceu 486 mil toneladas, isto é, 1,6% face ao comportamento que tinha tido no ano anterior.
Cruzeiros navegam em águas tranquilas
Num movimento contrário ao das mercadorias, no caso dos navios de cruzeiros, tanto Lisboa como Leixões bateram recordes de escalas em 2022. Na capital foi batida, pela primeira vez, a barreira da centena de escalas de embarcações com origem ou destino na cidade, num total de 327 escalas (+5,5%).
Citado num comunicado enviado recentemente às redações, o presidente da Administração do Porto de Lisboa (APL), Carlos Correia, calculou em perto de 17 milhões de euros o impacto económico direto gerado apenas pelas pessoas que iniciaram a sua viagem” no terminal lisboeta.
A Norte, o terminal de cruzeiros de Leixões atingiu igualmente um novo máximo de 112 escalas e 108.626 passageiros em 2022, superando já o registo no ano anterior à pandemia, com a APDL a frisar que esta evolução está relacionada com a visita de navios de maior porte, face à dimensão das embarcações que recebia antes.
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