Web Summit Rio. Com um olho no Brasil e outro na atração de talento para Portugal
Mais de duas dezenas de startups aterram esta segunda-feira no Rio de Janeiro. Na bagagem expectativas elevadas para a primeira edição da Web Summit no Brasil. Não faltam planos de expansão.
Com um olho no Brasil, outro na América Latina e um terceiro na atração de talento para Portugal, o ecossistema de startups nacional aterra na Web Summit Rio de Janeiro, que arranca esta segunda-feira, no Brasil, onde são esperados mais de 20 mil participantes. Planear expansões está na agenda de alguns dos participantes, mas há também quem vá com um propósito: atrair projetos e empreendedores para Portugal.
“O evento no Rio de Janeiro poderá ser mais um catalisador para a promoção de Portugal como um destino atraente para startups e talentos internacionais. Para isso, é importante que aproveitemos esta oportunidade para mostrar o que o nosso país tem a oferecer e implementar iniciativas específicas para atrair talentos estrangeiros”, defende António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal.
Mecanismos como programas de vistos e autorizações de trabalho “que simplificam processos para que os empreendedores e startups internacionais estabeleçam negócios no país” já estão no terreno, lembra o responsável do organismo que tem como missão dinamizar o ecossistema de startups português e a gestão de 125 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência.
Portugal pode ser a porta de entrada do Brasil para uma Europa, um mercado com mais de 500 milhões de pessoas, tal como o Brasil significa, para as empresas portuguesas a entrada num mercado de quase 200 milhões de pessoas.
“Queremos também falar dos mais recentes instrumentos – como os Vouchers para Startups ou o programa Empreende XXI, iniciativas onde estamos altamente envolvidos e que têm potencial para atrair muito talento empreendedor. Outra iniciativa que deve ser explorada e, que felizmente, até já está em curso em alguns países, como é o caso do Brasil”, reforça Dias Martins, lembrando que os dois países, no passado dia 24 de abril, assinaram protocolo para estreitar relações económicas.
“Portugal pode ser a porta de entrada do Brasil para uma Europa, um mercado com mais de 500 milhões de pessoas, tal como o Brasil significa, para as empresas portuguesas a entrada num mercado de quase 200 milhões de pessoas”, reforça.
Mas na missão da Startup Portugal – que leva consigo, através do programa Business Abroad, 14 das mais de duas dezenas de participações na cimeira – está ainda fazer a “ponte entre as startups portuguesas e os investidores e outras entidades locais – nomeadamente agências que facilitem estes contactos e interação entre empresas dos dois países. No fundo, o nosso trabalho será de expansão de rede de contactos, parcerias e network entre estes players, facilitando o seu acesso a informação que acelere o seu processo de entrada no mercado brasileiro.”
Logo no primeiro dia da conferência, 1 de maio, a delegação portuguesa reúne com os stakeholders locais, num evento organizado pela Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro, em colaboração com a Startup Portugal, com a Câmara Municipal de Lisboa e a AICEP, numa manhã com várias sessões sobre processos legais, fiscais, oportunidades de negócio no país e uma sessão de pitch com as startups portuguesas.
Gil Azevedo também marcou a viagem da Startup Lisboa ao Rio de Janeiro com um duplo objetivo. Não só ajudar as startups e scaleups a “estabelecer uma rede de contactos local e identificar oportunidades de expansão internacional para o Brasil e América Latina”, como também — ou não fosse ainda diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa — “desenvolver canais adicionais e estabelecer parcerias que permitam uma maior atração de projetos e empreendedores para Portugal, nomeadamente através dos nossos programas de incubação e aceleração, tanto a nível da Startup Lisboa, como da Unicorn Factory Lisboa.”
Este evento permite termos uma montra do nosso ecossistema, com a divulgação das vantagens de Portugal como centro estratégico para a expansão na Europa, bem como do forte desenvolvimento e internacionalização que temos vindo a assistir no ecossistema de inovação português. É também uma oportunidade de apresentar os nossos programas de incubação e aceleração que estão abertos a apoiar startups e scaleups internacionais, independentemente do estágio de desenvolvimento dos seus negócios.
E mostra-se otimista quanto aos potenciais resultados. “Ao longo dos anos, temos vindo a receber vários empreendedores e talento brasileiros e acreditamos que há um forte potencial em continuar a desenvolver esta ponte”, defende Gil Azevedo. “Este evento permite termos uma montra do nosso ecossistema, com a divulgação das vantagens de Portugal como centro estratégico para a expansão na Europa, bem como do forte desenvolvimento e internacionalização que temos vindo a assistir no ecossistema de inovação português. É também uma oportunidade de apresentar os nossos programas de incubação e aceleração que estão abertos a apoiar startups e scaleups internacionais, independentemente do estágio de desenvolvimento dos seus negócios”, argumenta.
Carlos Moedas, o promotor da ideia da Fábrica de Unicórnios, já dizia em novembro, durante a Web Summit de Lisboa, que tinha como objetivo atrair para a cidade mais brasileiros e, para isso, a Web Summit Rio podia ser uma boa porta de entrada.
Na Startup Lisboa há já sete startups com raízes brasileiras incubadas e, no âmbito do programa Scaling Up, têm recebido “interesse de empreendedores brasileiros”. “Esta cimeira permite exatamente fortalecer este movimento de aproximação dos ecossistemas português e brasileiro”, considera Gil Azevedo. Ao longo da cimeira estão previstas várias iniciativas – como um lounge com presença de startups, masterclasses, além de vários eventos para desenvolver parcerias e dar a conhecer os programas, elenca.
Estamos a apostar forte na internacionalização da empresa para o Brasil após termos aberto com o Grupo Muffato aquele que foi o primeiro supermercado autónomo (baseado em AI) da América Latina no Brasil – o Muffato GO.
“As 25 startups e scaleups portuguesas que irão ao Rio serão igualmente um excelente cartão de visita para dar a conhecer o valor da inovação em Portugal e, assim, captar a atenção e atrair investidores e talento do Brasil para o ecossistema português”, aponta ainda Gil Azevedo.
Networking e olho no talento local
Das mais de duas dezenas de startups nacionais que carimbaram o passaporte para a cimeira, algumas – caso da Sensei, knok, Leadzai, Zharta ou sheerMe – já têm operação ou estão em processo de expansão para o mercado brasileiro.
A Sensei vai com expectativas “altas”. “Estamos a apostar forte na internacionalização da empresa para o Brasil após termos aberto com o Grupo Muffato aquele que foi o primeiro supermercado autónomo (baseado em AI) da América Latina no Brasil – o Muffato GO –, cuja abertura por acaso coincidiu com a semana da última Web Summit Lisboa, em novembro 2022”, adianta Joana Rafael, cofundadora e chief operating officer da Sensei. A presença na cimeira no Rio será assim uma “ótima oportunidade para criar novos contatos, seja com investidores seja com parceiros e também conhecer mais do ecossistema local”.
Neste mercado, a tech retail está a “contratar várias posições para o seu HQ”, bem como “uma equipa no Brasil, nomeadamente um country manager local.” E depois da cimeira já fazem planos de participar no APAS Show, o maior evento de supermercados do Brasil, com o seu cliente Muffato, para apresentar o seu conceito de loja.
Uma das startups na ‘comitiva nacional’ a Leadzai “já tem clientes em diversos países da América Latina, tendo recentemente iniciado atividade no Brasil”, adianta João Aroso, fundador & CEO, mercado onde têm “alguns recursos”. “Não temos tido dificuldade em contratar, mas a verdade é que não nos limitamos a Portugal de forma alguma. Temos equipa em variados pontos da Europa para além do Brasil e Colômbia”, aponta o responsável da startup quando questionado se a presença na Web Summit Rio iria ser também um momento para recrutamento.
Acreditamos que a operação da sheerME no Brasil pode ser muito maior do que em Portugal, tendo em conta o tamanho do país e interesse em serviços de bem-estar. Em Portugal realmente está mais difícil contratar, porém no Brasil estamos a encontrar pessoas muito boas.
Para outras, a cimeira é a oportunidade de anunciar o arranque da operação no mercado brasileiro. É o caso da Modatta. “A nossa visão sempre foi expandir para o Brasil assim que conseguíssemos reunir as condições certas para o fazer, pois é um mercado que tem um fit perfeito com a Modatta. Assim, em novembro de 2022, começámos a preparar a entrada no mercado brasileiro com a ajuda da M4 Ventures, através de um aporte de capital para esse efeito, a elaboração de uma estratégia de entrada e operacionalização da mesma. Sabíamos que para entrar num mercado desafiante como é o brasileiro necessitávamos de um parceiro que tivesse a experiência certa para nos ajudar”, começa por referir Eduardo Pinto Basto, que, em 2019, cofundou a plataforma com Rodrigo Moretti. “Temos o objetivo de chegar a mais de um milhão de utilizadores até ao final deste ano e de ter mais de 150 marcas a anunciarem na nossa plataforma“, adianta o responsável.
Há muito que a sheerMe estava de olho no Brasil. Neste momento, a startup que atua nos serviços de bem-estar prepara o soft launch no país e a expectativa é “crescer bastante nos próximos meses”. Já tem 30.000 espaços listados no seu diretório de serviços de bem-estar, beleza e fitness em três Estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife) e mais de 300 clientes que já aceitam marcações online. “Queremos chegar aos 1.000 clientes ativos no Brasil até agosto. Quando chegarmos ao ponto de equilíbrio passamos a ter apenas a opção de marcações e pagamentos online tal como temos em Portugal”, explica Miguel Ribeiro, cofundador & CEO da sheerMe. Mas neste mercado, a “estratégia passa por tornar a sheerME mais social dando benefícios aos utilizadores por promover as suas experiências.”
O potencial de crescimento é enorme. “O Brasil é um país imenso, com grande potencial, o nível de digitalização é alto e devido a questões culturais a marcação de serviços de bem-estar é crucial especialmente em cidades grandes. A frequência de utilização é também bem mais alta do que em qualquer outro país da Europa”, justifica.
Parte da equipa de desenvolvimento, suporte e vendas está no Brasil. E há vontade de reforçar. E, nesse sentido, o mercado brasileiro poderá ser uma potencial pool para fazer face à escassez de talento em Portugal. “Encontramos muito talento pelo Brasil e queremos continuar a recrutar, não necessariamente para virem para Portugal, mas sim para se juntar à nossa equipa no Brasil. Estamos sempre abertos a ajudar quem queira vir trabalhar para Portugal, porém acreditamos que a operação da sheerME no Brasil pode ser muito maior do que em Portugal, tendo em conta o tamanho do país e interesse em serviços de bem-estar. Em Portugal realmente está mais difícil contratar, porém no Brasil estamos a encontrar pessoas muito boas”, admite Miguel Ribeiro.
Ir ao Rio com olho na América Latina
O Rio de Janeiro também será um campo de recrutamento para a Hoopers “não só do Brasil para Portugal, mas, sobretudo, para nos ajudar a operar neste mercado”, que André Costa, cofundador da plataforma de comunidade que liga jogadores, fãs e entusiastas de basquetebol, através de campos, conteúdos, experiências e NFT, classifica de “estratégico”.
“Queremos aumentar a nossa exposição neste mercado, mas também apresentar e recolher feedback de soluções que temos vindo a construir”, refere André Costa.
Numa primeira fase, estaremos focados apenas no mercado brasileiro, onde entramos de forma independente, mas sabemos que queremos expandir para outros países nesta região no futuro.
Mas também usar a participação na cimeira como trampolim para a América Latina. “Já estamos a operar no Brasil e queremos aproveitar o evento para aumentar a nossa exposição neste mercado, mas também para estabelecer contatos importantes com entidades e players da América Latina”, diz.
“Numa primeira fase, estaremos focados apenas no mercado brasileiro, onde entramos de forma independente, mas sabemos que queremos expandir para outros países nesta região no futuro”, continua o cofundador da Hoopers. Para isso, vai ser necessário mais capital. “Iremos pensar na captação de investimento a partir do final deste ano ou início do próximo ano e queremos, obviamente, fazê-lo junto de operadores locais.”
E não é o único com a América Latina na mira. “Ganhando tração no Brasil, facilmente arrancamos outros países da América latina. Esta foi uma estratégia que a nossa equipa usou na Zomato e outras startups que lançámos no Brasil no passado”, admite Miguel Ribeiro. Mas expandir exige mais capital. Para a entrada no Brasil, contaram, entre outros parceiros, com o apoio do fundo M4 Ventures – “sem a M4 Ventures a nossa entrada no Brasil teria sido muito mais difícil, pois não só temos ajuda para abrir empresa, contas bancarias e afins, mas também a abertura de nos ligarem ao seu network no Brasil”, aponta o cofundador da sheerMe” –, novos voos exigem mais músculo financeiro.
“Estamos a dias de finalizar a nossa ronda seed, e acreditamos que será o suficiente para dar os primeiros passos no Brasil e escalar. Porém temos noção que a meio de 2024 vamos começar à procura de investimento para a série A da sheerME, com provas dadas no Brasil conseguirmos vamos precisar de escalar mais depressa, tanto no Brasil como internacionalmente”, revela o cofundador.
“O Brasil é um passo muito importante para a sheerME, porém em paralelo estamos também já a testar outro mercado, estamos já em testes com clientes em Espanha. Conseguindo ter a sheerME afinada em português e espanhol, dar-nos-á a confiança para avançar para outros países.”
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