Carlos III coroado este sábado em ostentação. Vem aí o declínio da monarquia britânica?
Embora o novo monarca tenha optado por uma cerimónia mais pequena que a da sua mãe em 1953, a coroação vai custar, pelo menos, 113 milhões de euros. Marcelo Rebelo de Sousa está entre os convidados.
A data de 6 de maio de 2023 vai ficar para a história como o dia da coroação de Carlos III. Decorre na Abadia de Westminster e vai desde a procissão das joias da coroa, à unção do rei com óleo sagrado até ao juramento e homenagem dos súbditos reais. O momento marca o início de uma nova era para a monarquia britânica. Resta saber que tipo de rei será Carlos III e que tipo de monarquia irá promover.
Depois da morte da rainha Isabel II, aos 96 anos, após um reinado de 70 anos, chegou uma nova fase no Reino britânico. Carlos III, proclamado oficialmente rei em setembro de 2022, será coroado este sábado. O início da cerimónia está agendado para as 11h00. O site oficial da família real indica que a coroação “refletirá o papel do monarca atualmente e olhará para o futuro, ao mesmo tempo que está enraizada em pompas e tradições de longa data”.
Embora o novo monarca tenha optado por uma cerimónia mais pequena do que a da coroação da sua mãe em 1953, a coroação vai custar, pelo menos, cerca de 100 milhões de libras (perto de 113 milhões de euros), como revelou a Time. A decisão de Carlos III em reduzir a duração e dimensão dos festejos prende-se, em parte, com o disparo no custo de vida que afeta também aquele país — assim a ambição de ter uma monarquia mais moderna, escreveu a revista.
No entanto, a opulência da celebração — a maior cerimónia militar em 70 anos e que contará com mais de seis mil membros das forças armadas, referiu a BBC — parece contrastar com o panorama económico e também social do Reino Unido, onde se têm sucedido greves de trabalhadores, que exigem melhores salários.
Embora seja mais pequena do que a da coroação da rainha Isabel II – que custou, à data, 1,57 milhões de libras, o equivalente atual a 56 milhões de libras (quase 64 milhões de euros) – a cerimónia de coroação do rei Carlos III vai ser mais cara devido às questões de segurança. Um fator que não era tão relevante há décadas atrás.
E não é caso para menos. A “Orbe Dourada” – nome de código da mega operação da cerimónia da coroação – vai contar com centenas de polícias vindos de vários locais do país, snipers nos telhados e agentes à paisana entre a multidão. Serão erguidas barreiras nos passeios, ao longo de quilómetros, e bloqueios de forma a impedir a circulação de veículos.
Além disso, aquela que se transformará numa zona de exclusão aérea, contará também com patrulhas armadas, equipas cinotécnicas e uma apertada operação de segurança, tendo a polícia estado empenhada durante semanas numa operação preventiva para detetar possíveis ameaças, revelou o Daily Mail.
A procissão (que na realidade são duas – uma mais pequena antes da coroação e outras após depois de Carlos III já ter sido coroado) será mais pequena do que a procissão de oito quilómetros da cerimónia de Isabel II. Depois de regressarem ao Palácio de Buckingham, os monarcas e membros da família real irão aparecer na varanda, onde vão assistir a um sobrevoo de 60 aeronaves que durará cerca de seis minutos.
No que toca à própria cerimónia de coroação, tem uma duração prevista aproximada de duas horas. A coroa que vai ser colocada na cabeça de Carlos III é a de Santo Eduardo, uma coroa de ouro maciço do século XVII. Bastante pesada e apenas usada no momento da coroação. Por seu lado, a rainha consorte Camilla será coroada com a coroa da Rainha Mary.
O rei reutilizará também peças de vestuário históricas da Coleção Real, que já foram usadas por monarcas anteriores nas suas coroações.
Para o evento, o rei e a rainha consorte convidaram cerca de duas mil pessoas. Entre eles está o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Da família real estarão presentes os príncipes William e Harry. No entanto, Megan, esposa do filho mais velho de Carlos e Diana, não irá à cerimónia. A coroação coincide com o quarto aniversário do filho do casal, Archie. O príncipe André também deve estar, ao contrário de Sarah Ferguson, a sua esposa.
Estarão presentes o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, Humza Yousaf, o novo primeiro-ministro da Escócia, ou o líder francês Emmanuel Macron. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos da América, não poderá estar presente, fazendo-se representar pela primeira-dama, Jill Biden. Andrzej Duda, presidente da Polónia, e Anthony Albanese, primeiro-ministro australiano, vão igualmente comparecer à cerimónia.
Os reis convidaram também 850 representantes de comunidades e instituições, em reconhecimento do seu trabalho.
Uma monarquia de ostentação, mas em declínio?
O peso da monarquia já não é o mesmo e este panorama tenderá a agravar-se no futuro, tendo em conta que as gerações mais novas são aquelas que menos apoiam a monarquia. Segundo os dados de um estudo recentemente divulgado pelo The Guardian, 78% dos britânicos com mais de 65 anos apoiam a monarquia, mas a percentagem desce para 32% no caso dos jovens entre os 18 e os 24 anos.
Entre os mais jovens, 78% afirma não ter interesse na família real e 40% pensa que a monarquia representa um mau gasto financeiro. Questionados sobre se o Rei Carlos III está ou não a par da realidade do povo britânico, 59% dos entrevistados mais jovens disseram que não — percentagem superior à média geral de 45%.
Ainda assim, no panorama geral, 58% dos britânicos apoia a monarquia, preferindo a existência de um monarca em detrimento de um chefe de Estado eleito.
São inclusivamente levantadas vozes contra a necessidade da coroação. Num artigo de opinião publicado no The Guardian, o político liberal-democrata Norman Baker refere que nenhum outro país europeu ainda se “incomoda” com uma coroação. Em Espanha, a última ocorreu em 1555. Nas monarquias escandinavas da Dinamarca, Suécia e Noruega, a prática foi terminada em 1906. “Não há nenhuma necessidade legal para a coroação. Carlos é rei sem ela”, escreveu Baker.
No entanto, é inegável que a monarquia continua a ser bastante importante no Reino Unido. Tanto que o governo britânico decretou feriado para a segunda-feira (8 de maio), de forma a assinalar a coroação. O evento vai estender-se ao longo do fim de semana e na segunda-feira. Há vários eventos programados, incluindo concertos de Katy Perry, Take That e Lionel Richie no Castelo de Windsor.
Os bares e pubs também vão poder estar abertos por mais duas horas após o habitual horário de fecho, tanto na sexta-feira como no sábado. Para celebrar a coroação, os britânicos estão a ser convidadas a organizarem festas de rua — serão cerca de três mil as festas organizadas, segundo o Daily Mail, que adianta que já foram também aprovados 3.087 cortes de estrada.
Na área dos media, a coroação é também o momento escolhido pelo The Washington Post para o lançamento do “Washington Post Television”, canal gratuito do jornal que vai estar disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, no Amazon Freevee, um serviço gratuito de streaming da Amazon.
Carlos III tornou-se príncipe herdeiro do trono em 1952, com apenas três anos de idade, e em 2017 tornou-se no mais antigo príncipe de Gales. Em 1976 iniciou o “The Prince’s Trust”, uma instituição de caridade que ajudou até agora cerca de um milhão de jovens. Como Príncipe de Gales tornou-se presidente ou patrono de cerca de 800 organizações ou iniciativas de caridade.
Desde cedo preocupado com as questões ambientais, falou publicamente sobre o tema pela primeira vez em 1970. Entre carros, propriedade, joias, investimentos, cavalos, peças de arte e outros, a sua fortuna privada é avaliada em cerca de 1,8 mil milhões de libras (cerca de dois mil milhões de euros), calcula o The Guardian.
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