Centeno destaca que “a estabilidade financeira faz parte da autoestima dos portugueses”
Mário Centeno destaca a importância que os portugueses dão à estabilidade do sistema financeira para alertar para a necessidade de todas as instituições se unirem na promoção da literacia financeira.
Mário Centeno reconhece que ainda há muito por fazer no combate à exclusão financeira digital em Portugal. O governador do Banco de Portugal destaca, por exemplo, que só metade dos inquiridos no Inquérito à Literacia Financeira Digital da População Portuguesa de 2022 indicam que utilizam o homebanking ou as aplicações dos bancos na gestão das suas finanças pessoais.
Isto apesar de, pelo menos desde 2008, o Banco de Portugal e muitas outras entidades públicas terem colocado na sua agenda a aposta na literacia financeira e promovido algumas ações.
Mário Centeno nota que as “duas últimas décadas foram de uma aprendizagem coletiva, forçada mais vezes do que desejávamos, de como lidar com a nossa dimensão financeira”, destacando a crescente sensibilidade e interesse por parte da população para os temas financeiros.
“O país, acusado e acossado interna e internacionalmente, entendeu que a estabilidade financeira devia fazer parte da sua autoestima”, lembra o governador do banco central, sublinhando que, “em consequência, valoriza mais as conquistas dessa estabilidade do que as de outras áreas igualmente relevantes para a vida nacional.”
Mário Centeno dá como exemplo a saída do país do procedimento por défices excessivos em 2017 ou a reclassificação da dívida portuguesa com recomendação de investimento como sendo eventos “mais relevantes para essa autoestima do que as conquistas que sempre estiveram no nosso imaginário coletivo, obtidas nos campos de futebol de França ou nos concursos musicais europeus.”
No decorrer da apresentação da “Estratégia de Literacia Financeira Digital para Portugal”, que decorreu esta quarta-feira no Museu do Dinheiro, Mário Centeno referiu ainda que “a rápida e significativa transformação digital que temos vivido nos últimos anos veio alterar a forma como contactamos, como trabalhamos ou como fazemos compras.”
No entanto, sublinhou que “o sistema financeiro tem acompanhado estas mudanças com a digitalização de produtos e serviços financeiros e, também, com o aparecimento de novos prestadores assentes em canais digitais.”
Por forma a acompanhar esta evolução, o Banco de Portugal lançou agora uma estratégia assente em quase 40 medidas como forma de reduzir a exclusão financeira digital.
Mário Centeno espera que esta estratégia possa contribuir para “tornar os nossos consumidores mais resilientes à fraude e a ataques cibernéticos” e “com uma maior consciência dos enviesamentos comportamentais no acesso a serviços financeiros em canais digitais.”
No entanto, considera que esses objetivos não serão conseguidos sem a colaboração de todos. Apesar de notar que Portugal vive um momento único na sua história com uma melhoria significativa das qualificações escolares da população, marcada por um forte investimento na educação dos mais jovens, é crucial o envolvimento de todas as instituições na promoção da literacia financeira.
“Se as nossas instituições, públicas e privadas, decisores de políticas e executantes de políticas, não estiverem à altura desse esforço, não farão jus ao investimento das famílias, por vezes com muitos sacrifícios pessoais, e que tão necessário é para o progresso do país”, alerta o governador do Banco de Portugal.
“Soubemos ultrapassar as amarras que o atraso na literacia, entre outras a financeira, nos colocavam, não podemos utilizar essa liberdade, conquistada com um esforço ímpar na Europa, para deitar por terra o sonho que a estabilidade financeira traz às famílias portuguesas.”
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