Como é que o FMI vê a banca portuguesa, ponto a ponto
O FMI alerta que a banca nacional continua a ser uma das mais problemáticas na Zona Euro no que toca ao malparado. Apesar de reconhecer os esforços feitos, o fundo alerta que é preciso fazer mais.
O Global Financial Stability Report do Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece que Portugal tem feito esforços para devolver a estabilidade ao setor financeiro. Mas deixa um alerta: o país continua a ser um dos casos mais problemáticos no que toca ao crédito malparado. Apesar de estes ativos tóxicos pressionarem a rentabilidade dos bancos, a “limpeza” dos balanços não está a ser feita de forma suficientemente célere.
É, por isso, preciso fazer mais, defende o FMI. Mas como? Reduzindo os custos operacionais… através do encerramento de balcões. Apesar de os bancos portugueses estarem a incluir nos seus planos estratégicos a diminuição do número de agências, olhando para os gráficos do fundo, esta redução tem sido muito tímida. Fique a conhecer como é que a entidade liderada por Christine Lagarde analisa a banca portuguesa, ponto a ponto.
Como é que o FMI vê a banca portuguesa, ponto a ponto
Malparado? Portugal ainda está no top 3
Apesar de a Irlanda continuar a ser o país que apresenta os níveis de malparado mais elevados, o FMI destaca Portugal como um dos casos mais problemáticos. Até ao final do terceiro trimestre, o país apresentava o segundo rácio de malparado mais elevado entre os países considerados — está no top 3 na Zona Euro, de acordo com os dados mais recentes da Autoridade Bancária Europeia. Um fardo que obriga os bancos a colocarem mais provisões de parte, o que penaliza a rentabilidade das instituições financeiras.
O fundo afirma que a diminuição do peso do crédito em incumprimento foi relativamente pequena. “Ocorreram reduções relativamente pequenas, em comparação com os picos, nos dois países com rácios de malparado mais elevados, Itália e Portugal”. O rácio de crédito em incumprimento em Portugal era de 12,6%, tendo recuado apenas 0,2 pontos percentuais face ao máximo. Só Itália reduziu menos: 0,1 pontos percentuais.
O FMI alerta também que ainda há uma série de entraves estruturais que limitam a alienação destes empréstimos em incumprimento. Uma venda que poderá ser feita, segundo a Comissão Europeia, num mercado secundário para os NPL (crédito malparado).
Há demasiados balcões
Os bancos portugueses “têm de reduzir custos operacionais”, alerta o FMI. E é o que as instituições financeiras têm feito através de despedimentos de funcionários e da redução do número de balcões. Entre o final de 2011 e o primeiro semestre de 2016, o último período para o qual a Associação Portuguesa de Bancos tem dados disponíveis, o número de agências em Portugal caiu em 1.620, para um total de 4.686.
Se o BCP e o BPI têm feito um esforço para reduzir o número de balcões, a Caixa Geral de Depósitos ainda tem sido ainda mais “aplicada”. No caso do banco estatal, este processo terá de ser muito mais rápido, uma vez que esta é uma das condições impostas pelas autoridades europeias para que a injeção de capital que recebeu do Governo, no âmbito do plano de recapitalização do banco liderado por Pualo Macedo, não seja considerada ajuda estatal. A meta é de reduzir entre 160 a 180 balcões até 2020 (61 fecham este ano).
Mas, para o FMI, isto não é suficiente. Portugal é incluído num conjunto, com Itália e Espanha, onde o fundo considera haver “um número elevado de balcões em comparação com os ativos bancários”. O relatório exemplifica o excesso através da divisão dos ativos da banca de cada país pelo número de balcões e funcionários. Enquanto, por exemplo, na Irlanda existem 1,05 mil milhões em ativos por cada balcão e 50 milhões por funcionário, em Portugal só há 80 e nove milhões de euros, respetivamente.
Reforços de capital? Sim… mas é preciso fazer mais
“Foi anunciado, em março de 2017, o acordo final com a Comissão Europeia para uma recapitalização de cinco mil milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos. As negociações para vender o Novo Banco continuam. O BCP recebeu uma injeção de capital privado e a OPA do CaixaBank pelo BPI foi concluída”. É assim que o FMI reconhece os esforços feitos por Portugal para devolver a estabilidade ao setor financeiro.
O fundo nota que os “rácios de capital foram reforçados, foram recapitalizados bancos em Itália e Portugal, os bancos utilizam menos financiamento de curto prazo, a regulação continua a ser reforçada e a supervisão melhorada”. Mas também refere que é preciso fazer mais.
O fundo explica que para os bancos portugueses regressarem “à rentabilidade e financiarem de forma bem-sucedida o crescimento económico, devem limpar os balanços através de abordagens abrangentes”. Planos que, segundo o Banco Central Europeu, têm de ser apresentados pelos próprios bancos, sendo que Mario Draghi admite ser mais ou menos intrusivo consoante a gravidade da situação de cada instituição.
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