Malparado põe rácios da banca em mínimos na Europa
A Autoridade Bancária Europeia aponta para uma melhoria dos indicadores da banca da região, mas não no caso do setor financeiro nacional. No final do ano tinha os rácios de capital mais baixos.
O crédito em risco na banca nacional manteve-se elevado no final do ano passado. O malparado no setor financeiro português como um todo, representava quase 20% do total de créditos concedidos, sendo mesmo o terceiro pior entre os bancos da região, de acordo com os dados revelados pela Autoridade Bancária Europeia (EBA na sigla anglo-saxónica). Um fardo pesado que continuou a castigar a solvabilidade. Antes das recapitalizações realizadas estes ano, a banca tinha os rácios de capital mais baixos de toda a Europa.
“A qualidade das carteiras de crédito dos bancos europeus continuou a melhorar [no global da banca europeia], apesar de continuar a ser uma preocupação”, refere o relatório trimestral da EBA. “O malparado manteve a tendência de quebra dos trimestres anteriores, recuando em 30 pontos base para 5,1% no quarto trimestre de 2016”, acrescenta, notando, no entanto, que há grandes disparidades entre os diferentes sistemas financeiros analisados.
“Apesar da recente melhoria, há ainda uma grande dispersão entre países, com os rácios de crédito em incumprimento a variarem entre 1% e 46%”, adianta a EBA. Grécia e Chipre são os piores casos (45,9% e 44,8%, respetivamente), mas logo a seguir surge Portugal. O rácio de crédito vencido no final do ano passado era de 19,5%, uma ligeira melhoria face ao trimestre anterior (19,8%), mas praticamente idêntico a registado um ano antes (19,6%).
Enquanto o malparado persiste em níveis elevados entre os bancos nacionais — assim como a exposição a créditos em risco que permaneceu em 16% –, o rácio de cobertura das perdas resultantes de empréstimos que ficaram por cobrar continuou a evoluir favoravelmente no final do ano passado. Com o setor a tentar dar resposta ao fardo do malparado, as provisões para cobrir estes créditos ascenderam a 43,6% (face a 38,9% no final de 2015). A média na Europa estava em 44,6%, diz a EBA.
Rácios ainda piores
Se na comparação com os pares europeus os bancos portugueses ficam mal na fotografia no que respeita ao malparado, o cenário é ainda mais negro quando a avaliação é feita aos rácios de capital. O rácio Common Equity Tier 1 (CET1) estava, em média, nos 10%, recuando para 9% no caso do CET1 considerando todas as novas regras europeia. Recuou de 12% e 10%, no final de 2015, respetivamente, mostram os dados da EBA referentes ao quarto trimestre de 2016.
Os bancos portugueses apresentaram, no final do ano passado, os rácios de capital mais baixos entre todos os bancos europeus, isto numa altura em que o setor, como um todo, apresentou uma melhoria significativa em termos de solvabilidade. “No quarto trimestre de 2016 os rácios CET1 dos bancos da Europa atingiram novos máximos, aumentando em 20 pontos base para 14,2%”, diz a EBA. “Esta evolução é explicada, essencialmente, pela quebra nos ativos ponderados pelo risco fruto das vendas de ativos realizadas pelo setor”.
A evolução negativa dos rácios de capital dos bancos portugueses demonstrada na avaliação trimestral da EBA refere-se ao final do ano passado, sendo que já este ano o setor avançou com medidas no sentido de se tornar mais sólido. O BCP realizou um aumento de capital de 1.300 milhões de euros, contando, entre outros, com a Fosun e a Sonangol para melhorar os seus rácios. Já a CGD foi alvo de um processo de recapitalização de cerca de cinco mil milhões após os piores resultados da sua história provocados por elevadas imparidades.
Rentabilidade continua a ser um problema
Além do malparado elevado, a EBA continua a alertar que a banca europeia, como um todo, continua a enfrentar problemas de rentabilidade. “A rentabilidade do setor (o Return on Equity) continua a ser esmagada, sendo que o retorno dos capitais caiu para o nível mais baixo de sempre: 3,3%, 2,1 pontos percentuais abaixo dos registados no terceiro trimestre”, nota a EBA. Na comparação homóloga, a média do RoE reduziu-se em 1,2 pontos percentuais face aos 4,5% no final de 2015, reflexo da quebra dos resultados operacionais: -8%.
Ao mesmo tempo que os resultados operacionais recuaram, a relação entre os custos e as receitas, que pretende avaliar a eficiência da banca, continuaram a aumentar. A EBA salienta um aumento para 65,7% no final de 2016, o que compara com um rácio de 62,8% no final do ano anterior.
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