As “nuvens” no horizonte das telecomunicações

Há mudanças ao virar da esquina e não vão afetar só as empresas, mas também os clientes portugueses de telecomunicações. Estas são só algumas.

As telecomunicações em Portugal preparam-se para enfrentar grandes mudanças, e não apenas do ponto de vista das empresas. Depois do turbulento rollout do 5G, avizinha-se um período de particular transformação por vários motivos. Estes são alguns deles:

Chegada de um quarto operador

Ficámos a saber esta semana que a Digi pretende lançar ofertas fixas e móveis no início do próximo ano. É um pouco mais tarde do que o esperado, mas, quando acontecer, é evidente que o grupo romeno vai competir com Meo, Nos e Vodafone pelo preço.

Uma guerra de preços pode ser tudo o que os incumbentes menos precisavam agora, mas poderá agitar um mercado onde as ofertas são homogéneas.

É cedo para opinar se o benefício é claro para os consumidores: vai depender também da qualidade do serviço. Porém, se a Digi for capaz de entregar o mesmo serviço a preços mais baixos que os atuais, será difícil convencer os clientes de que a escolha não é mais do que é evidente.

Mudanças profundas no regulador

O dossiê do 5G deixou as empresas e o regulador de costas voltadas. A Anacom considera que está a defender os interesses dos consumidores, em detrimento dos interesses económicos das operadoras, mas estas rejeitam, discordando de praticamente tudo o que tem sido feito por esta entidade.

Ao longo dos últimos seis anos, o Governo foi titubeando na sua posição face ao braço de ferro entre setor e Anacom. Não mais.

Com a administração da Anacom em fim de mandato, e João Cadete de Matos a poder ser substituído já a partir de 15 de agosto, o muy fragilizado ministro da tutela, João Galamba, foi ao congresso das telecomunicações na semana passada dizer o que todos os players queriam ouvir: a Anacom do futuro será mais dialogante e terá menos poder para definir a sua própria agenda.

Novos protagonistas nas empresas

Os rostos das empresas também estão a mudar.

Primeiro foi a Altice Portugal. No ano passado, a dona da Meo foi buscar Ana Figueiredo da República Dominicana para substituir Alexandre Fonseca e assumir os comandos.

Este ano foi a Vodafone: Mário Vaz foi liderar o negócio em Espanha e fez regressar Luís Lopes da Alemanha para assumir o leme. A empresa, ela própria, avançou esta semana para uma reestruturação. Vai cortar até 11 mil empregos nos próximos três anos e volta-se a falar da venda da subsidiária espanhola. Não se sabe como afetaria Portugal.

O último veterano aos comandos é Miguel Almeida, o líder da Nos. No congresso da APDC, na semana passada, fez questão de lembrar que anda nisto há muitos anos. Mais de uma década de liderança depois, poderá ter outras ideias para o futuro.

Um país cheio de fibra

Em termos relativos, Portugal tem excelentes infraestruturas de telecomunicações. Ora, com a cobertura de fibra ótica perto de 100%, o Governo percebeu que tem de dar um empurrãozinho. E vai usar fundos europeus para levar fibra às regiões que não a têm, por não ser rentável às empresas investirem sozinhas.

Esses concursos já deviam ter sido lançados, mas estão manifestamente atrasados. O Ministério das Infraestruturas ainda não conseguiu encontrar um modelo de concurso que convença a Comissão Europeia de que respeita as regras comunitárias. Só se sabe que é para lançar em breve.

Mas há fibras e fibras. Concluída a universalização, será o momento de melhorar as redes existentes. O CEO da Fastfiber, uma empresa de fibra que é controlada pela Altice, alertou que ainda há muita fibra ótica em postes, em vez de os cabos passarem em condutas. Numa altura em que o país quer atrair cabos submarinos e data centers, essa fibra não cumpre os requisitos dos clientes mais exigentes, por não ser devidamente resiliente.

Os use cases do 5G

No final deste ano, Meo, Nos e Vodafone terão de cumprir as primeiras obrigações de cobertura da quinta geração. As três empresas já têm níveis elevados (mas territorialmente desiguais) de cobertura, mas parece ainda não existir um benefício claro para os consumidores em pagarem por esta tecnologia.

As três empresas ainda não começaram a cobrar pelo acesso, mantendo-o gratuito até 30 de setembro. Chegada essa data, ninguém sabe ao certo o que vai acontecer. Mas basta uma das empresas continuar a oferecer a tecnologia e as duas outras não terão outra hipótese que não a de ir atrás.

 

Estes são apenas alguns exemplos, porque, na verdade, existem outros temas que poderão marcar o setor nos próximos tempos. É o caso do dossiê dos cabos submarinos (tão importantes mas tão obscuros) ou o do fair share (as operadoras estão fartas de serem ultrapassadas pelas big tech).

Não é, por isso, de admirar que um gestor de uma empresa do setor tenha admitido ao ECO, recentemente e em surdina, ver muitas “nuvens negras no horizonte”. O estado do tempo parece estar a mudar.

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