Preço do gás natural em mínimos de 2021, mas deve subir no inverno

O aproximar do frio do inverno e possíveis alterações na atividade económica devem levar a um aumento dos preços do gás natural, afirmam os analistas.

O gás natural tocou, já esta semana, em preços aos quais não descia desde junho de 2021. E, embora no curto prazo os preços se devam manter em torno desta fasquia, dos 30 euros por megawatt-hora (MWh), o inverno deverá voltar a puxar os preços para cima, concordam os analistas consultados pelo Eco/Capital Verde.

“Com o aproximar do tempo frio e dependendo das condições climatéricas expectáveis para o outono e inverno, é previsível que ocorra um aumento dos preços”, indica Mário Martins, analista da ActivTrades. Manuel Velazquez, partner da Expense Reduction Analysts, corrobora: “O próximo obstáculo, como mostram os futuros para o último trimestre de 2023 e o primeiro trimestre de 2024, é o inverno de 2023, em que podemos esperar aumentos de preços”. Da parte do Banco Carregosa, o economista sénior Paulo Rosa afirma que “a paulatina reabertura da economia chinesa poderá aumentar a procura da segunda maior economia global e elevar gradualmente os preços do gás natural acima dos atuais níveis”.

Isso significa que vamos voltar aos preços recorde? Não. “É pouco provável que voltássemos a assistir a níveis semelhantes àqueles que observamos durante a segunda metade de 2022”, afirma Henrique Tome, da XTB, com o acordo de Mário Martins.

Os preços vão depender, sobretudo, da evolução da atividade económica global, mas também reabertura da economia chinesa, defende Paulo Rosa. Se a procura europeia por gás aumentar, devido a um inverno mais frio ou a uma reativação da indústria europeia, ou se o apetite por gás natural liquefeito (GNL) aumentar, especialmente da parte da China, “é muito provável que nos deparemos com cenários de aumento dos preços”, explica a Expense Reduction Analysts.

Preços em baixo este verão

Por enquanto, ou seja, a muito curto prazo (verão de 2023) “não se preveem aumentos”, ressalva Manuel Velazquez. Henrique Tomé aponta que “os preços poderão manter-se baixos enquanto a procura não voltar a recuperar”.

A cotação do TTF caiu cerca de 90% desde os máximos em agosto de 2022.

As cotações do gás natural na Europa, nomeadamente os contratos holandesas Title Transfer Facility (TTF), que servem de referência para o Velho Continente, mostram preços que se situam no limite superior do intervalo de preços da última década, de 2010 a 2020, entre os 10 euros e 30 euros o megawatt-hora, compara Paulo Rosa, sublinhado que a cotação do TTF caiu cerca de 90% desde os máximos em agosto de 2022. A referência nos Estados Unidos, o Henry Hub (HH), também tem acompanhado esta tendência de queda, e tem descido consideravelmente desde os máximos em agosto do ano passado, uma desvalorização à volta de 75%.

Os preços atuais justificam-se, “em grande parte, pelo gradual restabelecimento das cadeias de abastecimento, por um inverno menos rigoroso na Europa e uma desaceleração da atividade económica”, resume o Banco Carregosa. É que, repara Henrique Tomé, “estamos numa fase em que a procura de gás natural não é muito alta” e “a Europa conseguiu encontrar alternativas ao fornecimento de gás natural russo”. A situação de baixa procura, juntamente com as importações de gás natural liquefeito (GNL), fez com que a Europa saísse do inverno com o armazenamento a níveis muito elevados, conclui Velazquez.

Mas, tendo em conta o exposto até agora, a probabilidade de os preços continuarem a cair é baixa. “Uma recessão nas economias avançadas, sobretudo nos EUA e nas principais economias europeias, acabaria, talvez, por penalizar as cotações do gás natural até perto do limite inferior do intervalo de preços da última década de 2010 a 2020 (entre os 10 e 30 euros)”, diz Paulo Rosa. Mas “não é de esperar uma queda significativa dos valores atuais, a menos que exista uma disrupção dos fundamentos existentes, por exemplo a resolução da guerra da Ucrânia e o levantamento das sanções impostas pelo ocidente à Rússia”, opina Mário Martins.

Stocks dão segurança

“Não estão previstas grandes surpresas nos stocks”, pelo que estes “deverão manter-se em níveis confortáveis”, indica o analista da ActiveTrades. A XTB espera que estes “permaneçam elevados” e “até acima da média dos últimos anos”. No entender de João Pontes, partner da Expense Reduction Analysts, “a tendência que observamos nas últimas semanas é a de que as reservas estão a ser preenchidas a um ritmo muito bom”.

Aliás, “ao ritmo atual, atingiríamos 90% do armazenamento no início de agosto”, completa o mesmo analista, frisando que este é um nível que normalmente só é atingido em outubro.

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