Dona do Continente enche “carrinho” de ideias para os supermercados

Quatro anos depois, a unidade de tecnologias de informação da MC voltou a organizar um hackaton para recolher novas ideias tecnológicas junto da comunidade. Conheça os projetos premiados.

A menos de cinco minutos da Ponte da Arrábida, que liga o Porto a Vila Nova de Gaia, a Quinta do Jordão está mais habituada a receber casamentos e eventos empresariais. Mas esta semana o espaço estava mais próximo de parecer um pequeno supermercado: foi o palco da quarta edição do hackaton organizado pela MC, a dona do Continente. Foi neste local que 24 equipas desenvolveram soluções tecnológicas para a empresa e para mais de uma dezena de marcas do retalho alimentar e não alimentar.

Hackaton decorreu numa quinta em Vila Nova de Gaia.DR

Mal se entrava na tenda, só se viam produtos de marca própria para os participantes comerem e beberem, como bolachas, snacks, chocolates e outros biscoitos. Havia mesmo uma secção que replicava as prateleiras do supermercado, com as etiquetas — apesar de não marcarem IVA a 0% — e o ambiente de uma loja. Também havia o quiosque para tirar senhas para o talho, a charcutaria e a padaria, além de impressoras de etiquetas e de leitores de código de barra.

“Estamos aqui para ser surpreendidos”, assumiu ao ECO o responsável tecnológico da MC, Pedro Côrte-Real. Lá dentro, havia 24 equipas de empresas tecnológicas, de startups e também de funcionários da BIT, a unidade de tecnologias de informação da MC (antes designada de Sonae MC), que organizou a maratona tecnológica de 24 horas. Procuraram-se soluções com recurso a inteligência artificial generativa, estratégias de gamificação, sustentabilidade ou novas formas de trabalho. As mulheres representaram um quarto dos participantes.

Houve 24 equipas que participaram na maratona tecnológica. Mulheres representaram 25% dos elementos.DR

De 2019 para 2023, a área da inteligência artificial foi a que mais mudou porque “está muito mais disponível para ser implementada”, salientou Pedro Côrte-Real. Entre as várias ferramentas disponíveis, as equipas podiam aceder, por exemplo, ao interface de programação (API) da OpenAI, a empresa que criou o ChatGPT. Foi isso que fez a tecnológica portuguesa OutSystems.

“Criámos uma aplicação para simplificar a experiência de compra dos consumidores, uma espécie de personal shopper, indicou Miguel Amado. “Através do OpenAI, a pessoa pode receber sugestões de compras muito mais personalizadas: podem ser mais conscientes a nível ambiental, mais saudáveis ou mesmo sugerir um carrinho de compras para as primeiras compras do bebé”, detalhou um dos membros da equipa.

18 mentores ajudaram as equipas a orientar os projetos para os objetivos do hackaton.DR

Apesar de não haver espaço para organizar o hackaton num dos supermercados da MC, as equipas podiam recolher mais informação a menos de um quilómetro da quinta, onde há uma loja do Continente. “Se as pessoas quiserem ir fisicamente a uma loja acompanhar o processo, podem fazê-lo, graças a esta proximidade. Podem acompanhar as partes mais dedicadas aos consumidores e na área logística”, notou o responsável tecnológico da MC.

Mais preocupada com a fidelidade estava a equipa da Crowdclass. “Estamos a tentar explorar mecanismos de fidelização e de interação relacionados com colecionáveis digitais para gerações mais novas. A geração dos 18 aos 35 anos tem uma forma muito diferente de se ligar às marcas, procura um pouco mais de diversão e de experiência. Quer muito mais lógica de jogos. É algo que falta muito ao retalho hoje em dia”, sinaliza Filipe Pereira, líder da startup que quer proporcionar às empresas experiências com ativos NFT (não-tangíveis).

Organização colocou prateleiras com etiquetas e produtos para simular ambiente de supermercado.DR

Esta equipa quis adaptar para o digital a experiência de acumular selos em troca de panelas ou de facas nos supermercados. “Em vez disso, podem ser experiências, acessos a festivais ou encontros com artistas famosos”, detalhou o porta-voz. O protótipo pode ser integrado na aplicação móvel do cartão Continente ou ser aplicada a terceiros, para comunicar com as diferentes comunidades.

Além de programadores, as equipas contaram com elementos ligados ao marketing e à experiência do utilizador. A edição de 2023 foi apenas a segunda aberta à comunidade, depois de 2019. Em 2017 e 2018, apenas os trabalhadores do grupo Sonae podiam participar na maratona. Fora da tenda, as equipas podiam descontrair com os matraquilhos, jogos de consola e havia ainda máquinas de jogos. Também não faltavam cadeiras para conversas dentro do jardim.

A equipa de Mafalda Torres esteve mesmo à beira do jardim a preparar uma mascote digital para atrair mais gente para a aplicação do Continente e, quem sabe, concorrer com a Popota e a Leopoldina. “Criámos uma solução que interaja com os clientes e incentive a interação dos clientes com a aplicação. É necessário alimentar os níveis de satisfação da mascote em função das compras do cliente e em função de objetivos. Podemos proporcionar marketing direcionado e promoções e ainda interagir com o consumidor em determinados pontos da loja”, referiu o elemento da área da logística da BIT.

Das 24 equipas, 15 foram finalistas. Houve prémios para as três melhores ideias.DR

Entre as 24 equipas, houve 15 que passaram à fase final. Depois disso, houve prémios em forma de cartão para as três melhores ideias. A vitória foi para o assistente pessoal “MC Shopper”, que gera listas de compras personalizadas; no segundo lugar, ficou a ferramenta “Despensa Continente”, para recomendar listas de compras a partir do reconhecimento, por inteligência artificial, dos produtos que estão no frigorífico; em terceiro, o projeto “Quero-te Fresco” pretender fornecer os produtos frescos aos consumidores sem filas de espera.

Depois desta maratona tecnológica, as ideias podem chegar ao mercado daqui a um ano e por diferentes corredores. “Há grupos que são startups e podem criar-se contextos para interagir com elas para desenvolver uma ideia; há grupos que não são tecnológicos e pode ser necessário montar equipas para fazer as coisas acontecer. Noutras situações, a solução pode ser implementada diretamente connosco”, antevê Pedro Côrte-Real.

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