A Anita e a Independência Financeira

  • Inês Silva
  • 19 Junho 2023

Muitas foram as vezes que em conversa com amigas brincamos que nos teria sido bem mais útil que a Anita tivesse preenchido uma declaração de IRS.

Há toda uma geração de mulheres portuguesas, onde me incluo, que cresceu a ler os livros da Anita. Lembro-me bem das dezenas de títulos que li: “A Anita vai à escola”, “A Anita na terra dos contos”, “A Anita e os cozinheiros”, entre muitos outros.

No entanto, ao longo dos últimos anos, muitas foram as vezes que em conversa com amigas brincamos que nos teria sido bem mais útil que a Anita tivesse preenchido uma declaração de IRS, um recibo verde ou até feito o seu primeiro investimento. Porque a verdade é que todas sentimos uma grande lacuna no nosso conhecimento financeiro e contabilístico. E sentimos que o acesso a informação financeira e legal nem sempre é fácil e claro que levou a multas desnecessárias. Horas perdidas. E oportunidades desperdiçadas.

Historicamente, as mulheres têm tido um papel secundário no mundo das finanças. No passado, a sociedade limitava as oportunidades financeiras disponíveis para as mulheres, negando-lhes acesso a serviços bancários e investimentos. Além disso, a desigualdade salarial prejudicava a capacidade das mulheres acumularem riqueza e prosseguir a sua independência financeira. E não nos podemos esquecer que falar sobre dinheiro era e continua a ser tabu.

Felizmente, as coisas estão a mudar. Cada vez mais têm surgido conteúdos financeiros, de qualidade, sobre orçamentação, dívidas, poupança e investimento, partilhados através de aplicações, podcasts, redes sociais, blogues e YouTube. Iniciativas como a PWIT Salary Transparency Project ou a conferência Women & Wealth ajudam a promover a discussão e indicam possíveis caminhos e estratégias a implementar.

Mas apesar dos avanços que refiro, ainda há muito trabalho a fazer. Desde logo precisamos de fazer um melhor trabalho a educar os jovens para o tema do dinheiro. Os jovens deveriam sair do ensino secundário com mais conhecimento sobre orçamentação, poupança, impostos e implicações laborais.

Paralelamente, precisamos de estabelecer mais redes de apoio e programas de mentoria para quem quer aumentar o seu nível de conhecimento financeiro. E precisamos que este tema deixe de ser tabu.

A literacia financeira desempenha um papel crucial na capacitação das mulheres. Embora tenhamos testemunhado avanços significativos, ainda existem muitos desafios a serem superados. Investir na educação financeira das mulheres, promover a igualdade salarial e aumentar o acesso a serviços financeiros são fundamentais para construir um futuro onde todas as mulheres possam desfrutar de independência financeira.

  • Inês Silva
  • Cofundadora da Portuguese Women in Tech e da Women(dot)Business.

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