TAP podia ter sido ajudada só com fundos da Covid-19, defende ex-CEO Antonoaldo Neves

Sucessor de Fernando Pinto considera que a TAP podia candidatar-se a ajudas de Estado ao abrigo da pandemia em vez de ter sido renacionalizada.

A TAP podia ter recorrido apenas a ajudas financeiras ao abrigo da Covid-19 em vez de se sujeitar a uma nacionalização e a um plano de reestruturação. A posição consta das respostas do antigo presidente da companhia aérea Antonoaldo Neves aos deputados da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP. Antonoaldo Neves sucedeu a Fernando Pinto na liderança da empresa e saiu em setembro de 2020, após um desentendimento com o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.

A sugestão da comissão executiva foi solicitar apoio inicialmente no âmbito do enquadramento normativo especificamente criado pela Comissão Europeia para a concessão de auxílios de Estado no contexto da pandemia de Covid-19″, defende Antonoaldo Neves na resposta por escrita aos deputados da CPI, tornada pública nesta terça-feira.

O gestor recorda que em 2019 a TAP levantou cerca de 575 milhões de euros junto de investidores institucionais e de retalho e que, por isso, “não estava em situação financeira adversa antes do início da pandemia”. Para Antonoaldo Neves, “empresas em situação financeira adversa tipicamente não têm acesso a este tipo de instrumento de financiamento“.

Acrescenta ainda outro argumento: “Havia, logo antes da pandemia, discussões avançadas com uma companhia aérea europeia [Lufthansa], interessada em investir na TAP. Esta companhia avaliou o “equity” da TAP, ou seja, o valor da participação societária dos acionistas, em cerca de mil milhões de euros”.

“Na minha opinião, não seria razoável posicionar que uma empresa com essa valoração estaria em situação financeira adversa antes da pandemia“, conclui. A debilidade prévia da companhia foi, recorde-se, o principal argumento que justificou a necessidade de uma injeção direta de capital público e o plano de reestruturação. Aquilo a que Bruxelas chama o “Resgate e Restruturação”.

O antigo CEO da companhia portuguesa, agora na Etihad, de Abu Dhabi, diz que não consegue responder o que justificou esse caminho, porque o “Governo não permitiu que a comissão executiva participasse das negociações com Bruxelas”, afirma.

Antonaldo Neves saiu da TAP em setembro de 2020, ano em que a companhia aérea recebeu um empréstimo de emergência de 1,2 mil milhões de euros, ao abrigo das medidas de auxílio da Comissão Europeia. Se apenas fosse um apoio para compensar as perdas da pandemia, a TAP teria de devolver o dinheiro. No entanto, a companhia aérea foi declarada como estando em situação económica difícil, tendo sido sujeita a um plano de reestruturação e à nacionalização, com a saída do consórcio Atlantic Gateway.

O gestor brasileiro recorda ainda que no início de 2020 houve uma companhia aérea que avaliou a TAP em mil milhões de euros. O acordo para a entrada da Lufthansa “estava para ser assinado no primeiro trimestre de 2020” e previa a “manutenção da equipa de gestão da TAP” e a “entrada gradual no capital social da empresa e no seu conselho de administração”.

Com a Covid-19 a pousar os aviões, não foi assinado nenhum acordo e a TAP foi nacionalizada. Pedro Nuno Santos defendeu sempre o resgate da TAP. Caso tal não tivesse acontecido “o prejuízo da perda da TAP ultrapassaria largamente o esforço que teremos de fazer para a manter”.

“É importante que todos tenhamos consciência de que a TAP é um dos maiores exportadores nacionais (2,6 mil milhões de euros em 2019), é a companhia aérea que mais turistas traz para Portugal, gera mais de 10 mil postos de trabalho diretos e, pelo seu impacto na economia, mais de 100 mil indiretos, e compra anualmente 1,3 mil milhões de euros a mais de três mil empresas nacionais”, afirmou Pedro Nuno Santos em 2 de julho de 2020, em conferência de imprensa para explicar a injeção de 1,2 mil milhões de euros e a compra da posição de David Neeleman por 55 milhões de euros.

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