Onde está Prigozhin? Qual o futuro do Grupo Wagner? Rebelião falhada deixa várias questões sem resposta
Yevgeny Prigozhin, o patrão do grupo paramilitar Wagner, apareceu pela última vez em público na sexta-feira passada, tendo a sua rebelião sido abortada ao longo do fim de semana.
A abortada rebelião do grupo paramilitar Wagner na Rússia, ao longo do fim de semana, desencadeou a pior crise interna que o Presidente russo, Vladimir Putin, enfrenta desde que chegou ao poder, deixando várias questões que ainda não têm resposta.
Onde está Yevgeny Prigozhin?
A última vez que o patrão do grupo Wagner apareceu em público foi na sexta-feira passada, quando deixou a cidade russa de Rostov (sudoeste), onde tinha assumido o controlo de um quartel-general militar, sob os aplausos de alguns habitantes locais.
O Kremlin jurou que Prigozhin tinha a “palavra” de Vladimir Putin de que podia sair livremente do território russo para a Bielorrússia, um país aliado de Moscovo, e que não seria processado criminalmente.
No entanto, uma fonte da Procuradoria-Geral da Rússia, citada pelas três principais agências noticiosas russas, afirmou esta segunda-feira que “o caso não foi encerrado” e que a investigação continua.
Michael Nacke, blogger militar russo, acredita que Prigozhin vai estabelecer a sua base para a Wagner na Bielorrússia e continuar a dirigir as operações do seu grupo em África.
Mas “Prigozhin tornou-se um alvo extremamente vulnerável: pode ser preso, pode ser morto”, disse Nacke à agência AFP.
Qual o futuro do Grupo Wagner?
Prigozhin lançou a insurreição armada alguns dias depois de Putin ter anunciado que os combatentes do grupo Wagner passariam a ter de assinar contratos com o exército.
“Queriam desmantelar o grupo“, acusou Prigozhin no sábado.
O Kremlin garantiu que os homens que seguiram o líder na revolta não serão julgados criminalmente, num agradecimento pelos serviços prestados na Ucrânia, e que alguns, “se assim o desejarem”, poderão assinar contratos com o exército russo.
Michael Kofman, um perito militar norte-americano, considera que o grupo “Wagner poderá ser totalmente desmantelado ou absorvido” pelo exército.
Segundo a analista russa independente Tatyana Stanovaya, “Putin não precisa de Wagner nem de Prigozhin. Consegue safar-se com as suas próprias forças. Está agora certamente convencido disso”.
Quais as consequências para os generais?
O objetivo declarado da rebelião de Prigozhin era substituir o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Valery Gerasimov.
Até à data, Vladimir Putin não anunciou qualquer mudança na hierarquia militar.
A televisão pública russa mostrou-o hoje de manhã na primeira vez que surge publicamente após a abortada rebelião, a inspecionar as forças russas na Ucrânia, imagens disponibilizadas pelo Kremlin e que não referem nem a data nem o local.
Gerasimov não apareceu publicamente desde a tentativa de golpe, por enquanto.
“Sob pressão [de Prigozhin], Putin não fará nada”, afirmou o analista político russo Sergei Markov, pró-Kremlin, numa publicação na rede social Telegram.
Para Rob Lee, do Foreign Policy Research Institute, os últimos acontecimentos “deram a impressão” de que Shoigu e Gerasimov são “fracos”, mas também mostraram como “é importante para Putin ter figuras leais no comando dos seus serviços militares e de segurança”.
Prigozhin agiu sozinho?
Em apenas 24 horas, os combatentes do grupo Wagner conseguiram controlar uma parte de Rostov (sudoeste), uma cidade com mais de um milhão de habitantes, e aproximar-se de Moscovo, onde são diferentes as versões sobre a distância a que ficaram da capital russa, entre 200 e 400 quilómetros.
Prigozhin, que afirma ter tomado o quartel-general do exército em Rostov “sem disparar um tiro”, poderá ter tido ajuda exterior ou agido em desespero, vendo o nó a fechar-se à volta do seu grupo e acreditando que chegar a um acordo com o Kremlin era a única forma de obter garantias de segurança.
Os comentários do primeiro vice-chefe dos serviços secretos militares (GRU) semearam a confusão: num vídeo publicado no sábado, Vladimir Alekseyev exortou os combatentes do grupo Wagner a porem cobro à rebelião, ao mesmo tempo que parece troçar de Shoigu e Gerasimov, que Prigozhin queria derrubar. “Levem-nos”, disse Alekseyev, acompanhando as palavras com um aceno de mão.
Que impacto terá na ofensiva na Ucrânia?
O motim liderado pelo grupo Wagner não vai afetar “de forma alguma” a intervenção militar da Rússia na Ucrânia, garantiu Moscovo.
Mas a agitação na retaguarda, segundo vários analistas citados pela AFP, pode, pelo menos, ter um efeito sobre o moral dos soldados russos, numa altura em que enfrentam vagas de ataques ucranianos há semanas.
O grupo de mercenários ligados ao Wagner era também uma das forças russas mais aguerridas em combate, tendo estado na linha da frente da agora famosa batalha de Bakhmut (leste da Ucrânia).
Mas, no terreno, “desde (a tomada de) Bakhmut (em maio), o exército tem estado muito menos dependente de Wagner”, relativizou o analista militar Michael Kofman.
“O grupo Wagner não foi utilizado para a defesa no sul”, uma das principais zonas onde as tropas de Kiev estão atualmente a tentar romper as defesas russas, sublinhou.
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