Perante incerteza, instituições internacionais inovam nos dados para tentar melhorar previsões económicas
Investigadores de instituições como o FMI e a OCDE defendem a apresentação de vários cenários nas projeções económicas, bem como a utilização de "machine learning" e "big data".
Depois da pandemia e da guerra na Ucrânia, a incerteza tornou quase impossível fazer previsões económicas precisas e certeiras. Para lidar com este ambiente — e também com algumas mudanças na forma como os choques são sentidos –, as instituições internacionais estão a inovar na forma como fazem previsões, nomeadamente ao incorporar machine learning e inteligência artificial, bem como a chamada “big data”. O impacto das políticas orçamentais foi outra área em que as previsões ficaram um pouco ao lado, sendo que estas até ajudaram na luta contra a inflação.
No último dia do Fórum BCE, em Sintra, a discussão foca-se nas políticas monetárias e orçamentais no contexto da inflação elevada, bem como nas lições que se podem retirar nas previsões macroeconómicas. Neste último tema, sobressaiu a defesa de formas inovadoras de olhar para os dados e apresentar as previsões, nomeadamente tirando partido da tecnologia.
Num painel moderado por Philip R. Lane, membro do conselho executivo do BCE, especialistas de várias instituições internacionais admitiram que tinham sido feitos erros nas projeções na altura da pandemia e também da guerra na Ucrânia, nomeadamente no que diz respeito à evolução da inflação. Neste contexto, Clare Lombardelli, economista chefe da OCDE, defende que apresentar “cenários e ter dados inovadores pode ajudar a abordar a incerteza”.
A investigadora argumenta que existem benefícios em apresentar projeções com dois ou mais cenários, permitindo acautelar evoluções inesperadas de certos eventos, bem como tirar partido de dados como um tracker semanal de atividade económica, que usa machine learning para seguir vários indicadores e prever o PIB.
No mesmo painel, Alfred Kammer, diretor do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional, também salientou que na organização têm “usado machine learning e big data já há algum tempo”, nomeadamente indicadores como imagens de satélite, pesquisas do Google, um tracker para o comércio, que foi especialmente útil na pandemia, indica.
O responsável do FMI ressalva ainda assim que se usa a informação para formar uma melhor imagem, “mas não necessariamente basear previsões nisso”. Ou seja, ter em conta os indicadores mas não assentar todas as projeções nessas informações. Kammer adiantou também que querem criar um centro de big data para trocar mais informação como usar para esses propósitos”.
Do lado do Banco de Inglaterra, o economista-chefe Huw Pill concorda que “há muita promessa” neste tipo de dados mas alerta para que se tenha cautela: “estamos a tentar aprender a usar big data, mas as questões centrais têm a dimensão de tempo, o horizonte das decisões e em particular sobre inflação persistente”, que não se encontram tanto nessas análises mais imediatas. Além disso, avisa, também há perigo de que com “a riqueza de alguns das séries”, pode-se encontrar respostas em vários sítios mas não se estar a “olhar para o sítio certo”.
O alerta também vem de Chiara Scotti, vice-presidente sénior e diretora de pesquisa do Federal Reserve Bank of Dallas, que diz que é “importante lembrar os riscos que vêm com isto: as novas ferramentas são boas mas vêm com riscos”, nomeadamente nas questões de causalidade.
Já no primeiro painel, Giancarlo Corsetti, professor no European University Institute, defendeu que pode existir uma mudança na política orçamental, que tem espaço para ter um maior papel em equilibrar a procura. O professor previu também, num painel onde se discutia um paper de Pierre-Olivier Gourinchas, conselheiro do FMI, que existe um “alto risco” de crises devido às crenças e também de polarização, que podem elevar o valor dos travões à dívida dos Governos.
Este artigo conclui que as medidas orçamentais não convencionais que os Governos aplicaram no ano passado permitiram aliviar a inflação. Os cálculos mostram que a inflação seria mais elevada no ano passado sem essas medidas, mas que no futuro seria mais baixa.
Ainda assim, as medidas permitem que a inflação, no futuro, se situe na meta de 2%, em vez de ficar abaixo. “As medidas estão a realocar a inflação ao longo do tempo“, salientou Gourinchas.
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