Mais de 500 alunos, de 105 países, viajaram até ao Porto para participar no European Innovation Academy. Três semanas para desenvolver ideias que poderão ser futuras startups.
“Uau, é possível vir para Portugal com uma ideia de negócio e acabar por lançar uma startup no final do programa.” Ciara Mace, de 22 anos, voou do estado norte-americano da Carolina do Sul para participar no programa European Innovation Academy (EIA), considerado o maior programa de inovação e empreendedorismo tecnológico e digital do mundo. A estudante, formada em gestão e marketing na North Greenville University e atualmente a tirar um MBA, ficou rendida ao programa da EIA e decidiu viajar até Portugal para participar no evento que junta, durante três semanas, na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, mais de 500 estudantes, de 105 nacionalidades, vindos de 65 universidades. A EIA tem como objetivo “educar um milhão de futuros empreendedores até 2030”. Cem startups já foram fundadas neste encontro anual.
É a primeira vez que Ciara Mace está fora do país e está “super entusiasmada” por embarcar nesta aventura em prol do conhecimento. Espera “ser desafiada e ganhar muito mais experiência e conhecimento sobre o mundo dos negócios”. E a sua experiência pessoal serviu de inspiração na escolha do projeto a que se vai juntar, e ajudar a desenvolver, nas próximas semanas: o LeGut.
“Chamou-me mesmo a atenção o facto de eu ter tido muitas intolerâncias alimentares no passado e ter um pouco de experiência com isso. Senti que podia implementar a minha paixão pela nutrição, alimentação e intolerâncias com a minha experiência em marketing”, conta Ciara Mace.
O LeGut, uma solução que identifica as intolerâncias alimentares, foi criado pela investigadora Patrícia Barros da Silva, formada em bioengenharia pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), juntamente com Iasmim Orge, licenciada em ciências biomédicas e mestre em biotecnologia na Fiocruz, no Brasil. Desenvolvido na FEUP e no i3S, o projeto foi o vencedor da edição 2023 da Escola de Startups para Investigadores do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC). Para além do prémio monetário de 2.500 euros, as fundadoras do LeGut ganharam a entrada para participar no European Innovation Academy.
“A nossa startup chama-se LeGut e a ideia passa por criar um serviço para a deteção de intolerâncias alimentares através de um dispositivo de micro fluídica que mimetiza o canal intestinal. Neste momento, não existem testes certificados pelos médicos para deteção de intolerâncias alimentares, mas sim para alergias alimentares e os testes de hidrogénio que detetam bactérias no estômago e intestino”, conta ao ECO, Patrícia Barros da Silva, cofundadora e CEO da LeGut.
À semelhança da americana Ciara Mace, o estudante Pedro Barros de 23 anos, a tirar o mestrado em gestão no Instituto Politécnico do Cávado e Ave, de Barcelos, também descobriu recentemente que tinha intolerâncias alimentares, tendo-se identificado imediatamente com a ideia de negócio e juntado à equipa da investigadora Patrícia Barros. É a primeira vez que o jovem de Barcelos participa no EIA e diz estar a “adorar” a experiência.
Para além da marketeer Ciara Mace da Carolina do Sul, e do português Pedro Barros, à equipa, juntou-se ainda o designer Matthew Tomlinson da Texas A&M University. Patrícia Barros da Silva realça que gestão, marketing e design “eram as áreas que faltavam” para levar a LeGut mais longe. É necessário um investimento inicial de 1,5 milhões de euros para desenvolver o sistema de deteção de intolerâncias alimentares.
Pedro Barros realça que o LeGut “é uma ideia complexa”, mas está confiante e “acredita que consegue chegar ao mercado”. “O facto de não existir um teste viável aprovado pelo Ministério da Saúde, significa que temos aqui uma oportunidade que poderá ser bastante útil na área de medicina”, considera o estudante de gestão.
Desenvolvido ao longo de cinco anos por instituições de Silicon Valley, universidades de Stanford e Berkeley, e pela Google, a EIA foi fundada na Estónia em 2013. Desde 2017 que a instituição organiza os programas de verão em Portugal, sempre com o apoio do Santander Universidades, com as últimas duas edições a serem realizadas no Porto, depois das quatro anteriores terem decorrido em Cascais.
O compromisso de Portugal em promover a inovação e o empreendedorismo vai ao encontro da missão da EIA, tornando-a no local perfeito para o evento, e é por isso que nos dedicamos a tornar Portugal o principal hub de startups da Europa.
“Portugal é um dos principais cenários de inovação da Europa, com um ambiente dinâmico de startups e infraestruturas de alto nível”, diz Gerda Noormäg, CEO da European Innovation Academy, ao ECO. Para a gestora, o “compromisso de Portugal em promover a inovação e o empreendedorismo vai ao encontro da missão da EIA, tornando-a no local perfeito para o evento, e é, por isso, que nos dedicamos a tornar Portugal o principal hub de startups da Europa”.
O Porto é a cidade escolhida para a realização das próximas três edições. “O Porto tem vindo a afirmar-se como um hub tecnológico, não só pela capacidade que a academia possui e que tem contribuído para a criação de empresas com elevada incorporação tecnológica, mas também devido à singularidade da infraestrutura que a cidade tem hoje para oferecer”, diz vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, ao ECO.
E esta também é uma oportunidade da Universidade do Porto, que coorganiza o evento com a Câmara Municipal, mostrar o seu dinamismo no ecossistema.
A realização da EIA na cidade é “uma oportunidade ímpar para centenas de estudantes universitários de todo o mundo, incluindo estudantes portugueses, viverem uma enriquecedora experiência de empreendedorismo, inovação e tecnologia”, considera o reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira.
É também uma “oportunidade para a Universidade do Porto promover internacionalmente o seu ecossistema de inovação, que só através da UPTEC – Parque de Ciência de Ciência e Tecnologia da U.Porto, tem um impacto total de 324 milhões de euros do Produto Interno Bruto (PIB) português, envolvendo 8.600 postos de trabalho, gerando 219 milhões de euros de remunerações e 48,4 milhões de euros de receitas de impostos”, destaca o reitor.
A realização da EIA no Porto é uma oportunidade ímpar para centenas de estudantes universitários de todo o mundo, incluindo estudantes portugueses, viverem uma enriquecedora experiência de empreendedorismo, inovação e tecnologia.
Os estudantes têm três semanas para criarem a sua própria startup. Ao longo do programa intensivo que termina a 4 de agosto, os alunos têm o acompanhamento de 44 docentes e 75 mentores das áreas de design, marketing, tech, business, pitching, life coaches, IP e investors. A maioria dos mentores é oriundo da União Europeia (47%) e dos EUA (32%).
Nos corredores na Faculdade de Economia da Universidade do Porto ouvem-se vários idiomas e respira-se um ambiente multicultural, perante o olhar atento dos estudantes que querem absorver para além da cultura, das pessoas e da gastronomia portuguesa, a partilha de experiencias e acima de tudo alcançar o objetivo final: criar a sua própria startup.
Gerda Noormäg evidencia que o objetivo passa “por educar os alunos para adquirir conhecimentos e habilidades durante um programa de aprendizagem experiencial que imita um processo empresarial real, desde a conceção até o lançamento. É uma experiência fantástica para pessoas interessadas em criar sua própria startup“. E foi esta a ideia que conquistou Ciara Mace.
A jovem da Carolina do Sul pesquisou na Internet e percebeu que o EIA é “a principal academia de empreendedorismo inovador do mundo”. “Achei que isso era fantástico. Quanto mais pesquisava sobre o programa mais interesse tinha. Uau, é possível vir aqui com uma ideia de negócio e acabar por lançar esse negócio no final, se um investidor decidir investir”, realça, com entusiasmo.
No átrio da faculdade de economia encontramos Raiyan Bhuiyan. Com 19 anos, é um dos alunos que viajou até à Invicta para participar neste programa. É a primeira vez que Raiyan Bhuiyan está em Portugal. “Adoro cada recanto da cidade. A comida, a cultura, as pessoas, é tudo absolutamente fantástico”, diz ao ECO, o estudante de Information Tech na St. John’s University, em Nova Iorque.
A ideia de negócio de Raiyan Bhuiyan chama-se R.N.A, que significa “research, network, apply“. A equipa do nova-iorquino foi criada no EIA e é constituída por mais quatro pessoas: Kesang Choki da University of Richmond nos EUA, Adriana Rosales da University of California, Roland Chavez da University of California e Jessica Gallen da Iona University. Os cinco estudantes não se conheciam, mas rapidamente perceberam que têm em comum o espírito empreendedor e a vontade de criar um projeto inovador.
“Adoro a minha equipa, do princípio ao fim. Reuni pessoas de diferentes origens, etnias, géneros e universidades para trazer todas as perspetivas para a ideia de negócio”, afirma Raiyan Bhuiyan. O grupo multicultural tem como objetivo “desenvolver uma ferramenta que permite que diferentes faculdades e sistemas escolares interajam entre si e criem eventos que lhes permitam interagir.”
Adoro a minha equipa, do princípio ao fim. Reuni pessoas de diferentes origens, etnias, géneros e universidades para trazer todas as perspetivas para a ideia de negócio.
“Através do site, alguém do Porto poderá ver o que se passa em Nova Iorque e vice-versa. A comunidade poderá entrar nesse site e ter acesso às universidades, currículos, assuntos comunitários, indicadores económicos, estágios, candidaturas a emprego, etc.”, explica o estudante da St. John’s University.
Todos os recantos são bons para reunir e debater ideias. Enquanto alguns estudantes escolhem as salas da faculdade de economia, outros preferem pôr o cérebro a funcionar num ambiente mais relaxado, como a esplanada do bar da faculdade ou até mesmo o lounge. A participação no evento tem o custo médio de 1.899 euros para estudantes estrangeiros e 1.599 para alunos portugueses. O Santander disponibilizou um total de 140 bolsas e atribuiu as mesmas a 92 estudantes portugueses.
Desde a primeira edição, o EIA recebeu quase 300 mil alunos, sendo que o objetivo é “educar um milhão de futuros empreendedores até 2030″, prevê a CEO da European Innovation Academy, que diz, com orgulho, que estão em operação cem startups fundadas na EIA.
O programa termina a 4 de agosto com uma sessão de encerramento “Investors and Grand pitch”, no Palácio da Bolsa, no Porto. Neste dia, os alunos vão ter a oportunidade de apresentar a ideia de negócio que estiveram a desenvolver. No público vão estar investidores que podem olhar para as ideias como oportunidades de negócio.
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No Porto vão nascer ideias para startups em todo o mundo
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