Caixa de Angra resgata caixa do Porto após “ultimato” do Banco de Portugal

Banco de Portugal deu duas opções à caixa portuense detida pela associação A Beneficência Familiar: ou se fundia com a Caixa Económica da Misericórdia de Angra ou deixaria de ter atividade.

A Caixa Económica do Porto vai ser absorvida pela Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo, e isto depois do “ultimato” que o Banco de Portugal fez à caixa portuense detida pela mutualista A Beneficência Familiar – Associação de Socorros Mútuos, em face das dificuldades em aguentar-se sozinha.

Em janeiro do ano passado, o supervisor bancário enviou uma comunicação à Caixa Económica do Porto de que, após acumular prejuízos nos últimos anos e sem perspetivas de um futuro, incluindo “fragilidades” no cumprimento das exigências regulamentares, tinha apenas duas opções pela frente: ou se fundia com a caixa angrense ou renunciaria à autorização para o exercício de atividade enquanto caixa económica anexa.

Após um período de negociações, que envolveu trabalhos da PwC no sentido de verificar se a operação era viável, a fusão com a Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo será mesmo o futuro da caixa anexa à mutualista A Beneficência Familiar.

De acordo com projeto de fusão consultado pelo ECO, entre os “diversos motivos” para se avançar com esta operação está “o facto de a Caixa Económica do Porto se encontrar numa situação de fragilidade no cumprimento das regras subjacentes à manutenção da sua licença de operação como instituição de crédito, designadamente preceitos de governo e controlo interno e rácios regulamentares aplicáveis, bem como numa situação economicamente dependente de aportações de capital por parte da A Beneficência Familiar”.

Para a caixa angrense, que registou um lucro de 390 mil euros no ano passado e tem uma rede de 14 balcões nos Açores, é a perspetiva de obtenção de ganhos de escala com a incorporação da atividade da caixa portuense, com mais de quatro milhões de euros em depósitos, que fala mais alto, “nomeadamente através do acesso a um universo de clientes mais alargado e noutra geografia (em concreto, a Área Metropolitana do Porto)”.

Por outro lado, também deverá registar um incremento dos seus fundos próprios decorrente da fusão.

A Beneficência Familiar fica com 2% da caixa de Angra

A fusão ainda está dependente da aprovação do Banco de Portugal. Terá lugar através da transferência global do património, ativo e passivo, da Caixa Económica do Porto para a Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo.

Em contrapartida, a A Beneficência Familiar tornar-se-á acionista da Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo, com 2% do capital da instituição. É o desfecho que mais defende os interesses dos mais 40 mil associados, pois é a garantia de continuidade da atividade da caixa portuense – que teve prejuízos de 200 mil euros em 2022 e 500 mil em 2021 – dentro da caixa angrense que “tem um plano de crescimento próprio”.

No âmbito desta transação, realizou-se uma avaliação patrimonial tendo por base o justo valor dos capitais próprios das duas instituições, com a Caixa Económica do Porto a ser avaliada em 2,2 milhões de euros e a Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo em quase 29 milhões.

Desta perspetiva, a A Beneficência Familiar teria direito a uma participação de 3% na caixa angrense, mas as duas partes chegaram a um acordo para uma participação de 2% devido às circunstâncias da operação. O relatório e contas da Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo fala na possibilidade de A Beneficência Familiar aumentar a sua posição para 4% “caso a integração [da Caixa Económica do Porto] se venha a revelar um sucesso“.

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