Conservadores alemães abrem a porta a cooperação com extrema-direita
Friedrich Merz foi criticado por membros do próprio partido por sugerir quebrar o "cordão sanitário" que os partidos alemães mantêm relativamente à AfD, partido de extrema-direita.
O líder da oposição na Alemanha, Friedrich Merz, admitiu no domingo que a União Democrata-Cristã (CDU) poderá vir a cooperar com a extrema-direita a nível municipal, o que está a provocar fortes críticas no país, incluindo por parte de membros do partido de centro-direita, noticia o Politico.
“A política local é diferente da política estadual e federal“, afirmou Merz, numa entrevista à emissora de televisão pública alemã ZDF, em reação à subida nas sondagens da Alternativa para a Alemanha (AfD), impulsionada por recentes triunfos eleitorais em regiões do leste do país, como em Sonneberg, na Turíngia, ou em Raguhn-Jeßnitz, na Saxónia-Anhalt.
Uma cooperação entre a CDU e a AfD quebraria o “cordão sanitário” que os partidos tradicionais alemães aplicam há muito tempo ao partido de extrema-direita, anti-imigração e negacionista das alterações climáticas, que nasceu há dez anos e surge, atualmente, em segundo lugar nas sondagens a nível nacional, com 21% das intenções de voto — apenas atrás da CDU (27%) e três pontos percentuais acima do SPD (18%), de acordo com o Politico.
Mas, para o líder da CDU, o princípio do “cordão sanitário” só deve ser aplicado “aos órgãos legislativos, incluindo o Parlamento Europeu, o Bundestag (Parlamento alemão) e os parlamentos regionais”. “Não haverá qualquer participação da AfD num governo”, sublinhou, na entrevista de domingo.
Vários membros da CDU – partido que, na sua matriz, refere que “não haverá cooperação com a AfD, nem de forma direta nem indireta” – logo se manifestaram contra as declarações do líder do partido. “A CDU não pode, não quer e não vai cooperar com um partido cujo modelo de negócio é o ódio, a divisão e a exclusão“, escreveu o presidente da Câmara de Berlim, Kai Wegner, no Twitter.
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Norbert Röttgen, deputado da CDU desde 1994 e que serviu num dos governos de Angela Merkel, lembrou Merz de que o partido “tomou uma decisão vinculativa de proibir a cooperação com a AfD sem quaisquer restrições”. “Quem quiser alterar esta decisão tem de obter uma maioria para o efeito numa conferência federal da CDU. Até lá, todos devem respeitar a resolução“, acrescentou.
“O partido e os seus conteúdos desumanos e antidemocráticos continuam a ser os mesmos, seja a que nível for. Não há relativização, não há banalização, mas sim um claro ‘não’ aos extremistas de direita”, escreveu no Twitter a membro da direção da CDU Annette Widmann-Mauz.
Tweet from @AWidmannMauz
Também várias associações empresariais e industriais alemãs se pronunciaram acerca dos comentários de Merz, alertando para o facto de a subida nas sondagens da AfD nos estados da Saxónia e da Turíngia, antes das eleições regionais do próximo ano, ameaçar a economia.
“A AfD causaria grandes danos ao nosso setor de atividade“, disse Christian Haase, da Associação das Empresas Familiares, ao diário alemão Tagesspiegel, enquanto o presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Erfurt (Turíngia), Dieter Bauhaus, alertou para o facto de a maioria das empresas temer um sucesso da extrema-direita.
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