Lucros do PSI no segundo trimestre sofrem maior queda desde a pandemia

Após um primeiro trimestre muito forte, os lucros das maiores cotadas nacionais travaram a fundo entre abril e junho, denotando o impacto do abrandamento da economia e em linha com a tendência global.

Os resultados que as maiores cotadas portuguesas apresentaram nos últimos dias contam uma história bem diferente consoante o período analisado. No primeiro semestre, os lucros aumentaram a bom ritmo e a margem EBITDA melhorou, fazendo crescer a expectativa de mais um ano de resultados recorde no PSI. Mas olhando apenas para o segundo trimestre, os lucros, o EBITDA e as receitas baixaram, com a margem do lucro operacional a recuar de forma considerável.

Apesar da atividade das cotadas portuguesas estar cada vez mais desligada do andamento da economia nacional, desta vez a evolução dos resultados até está alinhada com o ritmo do PIB. A economia portuguesa também surpreendeu com um crescimento em cadeia robusto nos primeiros três meses do ano (1,6% face ao trimestre anterior), mas desiludiu com uma estagnação no segundo trimestre.

Nos resultados das maiores empresas cotadas na Euronext Lisboa, o primeiro trimestre também foi muito forte, mas nem por isso quando se analisa o período entre abril e junho. Uma degradação que, em grande parte, é explicada precisamente pelo abrandamento da economia. Não apenas da portuguesa, mas sobretudo da economia global que motivou uma descida dos preços de produtos e matérias-primas que têm um forte impacto nos resultados das maiores empresas nacionais: eletricidade (grupo EDP, REN), petróleo (Galp Energia), pasta e papel (Navigator, Altri e Semapa).

Lucros sobem 19% no semestre

Focando a análise nas contas consolidadas do semestre, observa-se uma subida de 19,2% dos lucros das 12 cotadas do PSI que já divulgaram as contas, para 2.325 milhões de euros. Seis empresas conseguiram aumentar os resultados líquidos e outras tantas baixaram face ao período homólogo.

Faltam os números da Corticeira Amorim, Greenvolt, Mota-Engil e Ibersol para completar a contabilidade do PSI, sendo que as contas destas quatro companhias pouco vão alterar a variação homóloga do agregado do índice português composto atualmente por 16 cotadas.

O EBITDA (resultados antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) baixou 0,5% para 7.717 milhões de euros, uma queda bem inferior à registada nas receitas (-4,2% para 42.438 milhões de euros), o que resultou numa melhoria de sete décimas na margem EBITDA, que atingiu 18,2%.

Os lucros das maiores empresas portuguesas acabaram por beneficiar com a melhoria dos custos financeiros, uma evolução que acaba por surpreender tendo em conta o impacto da subida das taxas nos últimos 12 meses. Os resultados financeiros situaram-se em -813 milhões de euros, uma melhoria significativa face aos primeiros seis meses de 2022 (-1.225,5 milhões de euros).

Lucros do trimestre afundam perto de 30%

No conjunto de 2022, as cotadas do PSI aumentaram os lucros em 35% para 4.750 milhões de euros, o valor anual mais elevado de sempre. Os números referentes ao primeiro trimestre deste ano faziam antever que 2023 iria marcar um novo recorde, mas as contas entre abril e junho deixam este objetivo mais difícil de atingir.

No primeiro trimestre, os lucros mais do que duplicaram para 1.236,1 milhões de euros, um valor assinalável tendo em conta que os primeiros três meses do ano são habitualmente os mais fracos. Já no segundo trimestre, a evolução foi bem distinta, sugerindo uma travagem a fundo nos resultados das empresas portuguesas.

Entre abril e junho, as 12 cotadas do PSI consolidaram lucros de 1.104,4 milhões de euros, menos 28,6% face ao período homólogo, tendo em conta o mesmo universo de empresas. A queda é a mais acentuada desde o segundo trimestre de 2020, período em que a atividade das empresas foi fortemente penalizada pelo surgimento da pandemia. Em termos absolutos, o valor dos lucros conjuntos é o mais reduzido desde o primeiro trimestre do ano passado.

A queda nos lucros está longe de ser um exclusivo das cotadas portuguesas. As estimativas da Refinitiv apontam para que os lucros das empresas do índice europeu Stoxx600 desçam 8,1% no segundo trimestre, colocando um ponto final numa série de nove trimestres em alta.

Com a subida de juros e a inflação ainda elevada a pressionarem o consumo das famílias e o investimento das empresas, as previsões não são nada animadoras, com as estimativas recolhidas pela Refinitiv a apontarem para mais três trimestres com os lucros em queda (recuperação só no segundo trimestre de 2024) no Stoxx600.

A evolução das receitas e dos lucros operacionais mostram porque os resultados líquidos das cotadas portuguesas sofreram uma queda substancial. As receitas desceram 0,6% para 21.186,9 milhões de euros, trata-se da queda menos acentuada desde o primeiro trimestre de 2021 e é o valor mais baixo desde o quarto trimestre de 2021. Uma evolução que evidencia o impacto do alívio da inflação nos últimos meses.

Na análise ao EBITDA, o principal indicador para medir o desempenho operacional das empresas, a tendência é ainda mais negativa. As 12 cotadas do PSI consolidaram um EBITDA de 3.679,1 milhões de euros, uma queda de 28,5% que não tem paralelo nos últimos trimestres, mesmo no período mais grave da pandemia (queda de 23% no segundo trimestre de 2020).

Com o EBITDA a descer bem mais do que as receitas, a margem EBITDA das cotadas portuguesas sofreu um tombo considerável no segundo trimestre. Atingiu 17,4%, o que compara com os 23,8% do segundo trimestre de 2022, período em que este indicador atingiu o valor mais elevado de sempre.

Um trimestre é curto para avaliar a evolução das margens das cotadas portuguesas, mas a tendência é claramente de alívio após o salto registado logo após o início da pandemia. No conjunto do ano passado, a margem EBITDA situou-se em 17,4%, uma descida de seis décimas face a 2021 (18%), ano em que a já se tinha deteriorado face a 2020 (19%).

Tendência de queda nos lucros é geral

Os índices acionistas são um fraco barómetro das economias, dado que são constituídos por empresas que não refletem devidamente o tecido empresarial dos respetivos países. No PSI esta evidência é ainda mais notória, dado que a representação de vários setores está sobredimensionada (energia, pasta e papel) e noutros acontece o inverso (banca, tecnologia e turismo).

Acresce que o índice é composto por um número reduzido de empresas que representam a “fatia de leão” dos lucros do PSI: só a EDP, a Jerónimo Martins, a Galp Energia e o BCP superaram a fasquia dos 100 milhões de euros de lucros no trimestre, sendo que estas quatro empresas juntas consolidaram perto de 75% dos lucros do PSI.

Desta forma, alguma alteração específica numa destas empresas pode influenciar de forma decisiva os valores globais do PSI. Foi exatamente isso que se observou no segundo trimestre, com a redução dos preços da eletricidade, do petróleo e da pasta e papel a impactar significativamente os resultados das cotadas nacionais, provocando uma inversão da tendência, que justificou a forte subida registada em 2022.

Ainda assim, a tendência de queda nos lucros foi quase generalizada. Entre as 12 empresas analisadas, oito viram os lucros recuar de forma significativa, com destaque para a EDP Renováveis, EDP, Navigator, Semapa e Altri, precisamente devido à queda dos preços dos produtos acima referidos.

Na análise aos valores individuais das empresas, destaque para a Galp Energia, que “roubou” à EDP o estatuto de cotada nacional com lucros mais elevados no trimestre e semestre. A petrolífera baixou os lucros em apenas 2,6% no segundo trimestre.

Nos, CTT e Jerónimo Martins conseguiram aumentar os lucros, enquanto o BCP foi o principal destaque pela positiva na “earning season” lusa. O banco passou de prejuízos no segundo trimestre de 2022 para lucros de 207,1 milhões de euros entre abril e junho deste ano, beneficiando com o impacto da subida de juros que impulsionou todo o setor financeiro e explica porque o BCP é uma das estrelas do PSI em 2023, com uma valorização em bolsa de 70%.

Excluindo o BCP desta análise, os lucros do PSI teriam sofrido um tombo ainda maior (-44%). Por outro lado, se não fosse tido em conta o contributo da EDP (lucros desceram 74% no segundo trimestre), os lucros do PSI teriam caído bem menos (-6,2%).

A forma como as cotadas portuguesas vão lidar com o abrandamento da economia na segunda metade do ano ditará se 2023 ficará para a história como mais um ano de lucros recorde,ou se a quebra no segundo trimestre é o início de uma tendência mais prolongada.

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