Cerca de 20% dos portugueses já teletrabalha
Das mais de 900 mil pessoas que no segundo trimestre disseram ter trabalhado, algum dia, em casa, 232,9 mil trabalharam "fora do seu horário de trabalho".
Trabalhar a partir de casa está a tornar-se mais habitual nos trabalhadores nacionais e, no segundo trimestre, 908 mil portugueses estiveram em teletrabalho. Representam 18,3% do total de população empregada no período – 4.979,4 mil pessoas –, uma subida de 0,4 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior. Números refletem a forma como se olha para o mundo do trabalho, dizem especialistas ouvidos pelo Trabalho by ECO.
“Há uma mudança na forma como as pessoas olham para o trabalho. Em todos os setores, nas funções de serviços, suporte aos negócios ou nas TI, as pessoas querem saber se o teletrabalho está incluído nas propostas de trabalho, algo que sentimos diariamente nos processos de recrutamento com que lidamos. Com o teletrabalho não há dúvidas que, ao aumentarem o tempo de trabalho em casa, os profissionais conseguem ter uma maior flexibilidade e conciliar a sua vida profissional e pessoal”, aponta Ricardo Carneiro, senior director de recrutamento e seleção especializado na Multipessoal, ao Trabalho by ECO.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao segundo trimestre, conhecidos na quarta-feira, apontam para uma taxa de desemprego de 6,1%, um recuo de 1,1 pontos percentuais (p.p) face ao trimestre anterior, mas uma subida de 0,4 p.p. em relação ao período homólogo. Havia 324,5 mil pessoas desempregadas, menos 55,8 mil (-14,3%) do que no trimestre anterior, mas mais 25,7 mil do que em igual período do ano passado.
Há uma mudança na forma como as pessoas olham para o trabalho. Em todos os setores, nas funções de serviços, suporte aos negócios ou nas TI, as pessoas querem saber se o teletrabalho está incluído nas propostas de trabalho, algo que sentimos diariamente nos processos de recrutamento com que lidamos.
Cerca de cinco milhões de pessoas – 4.979,4 mil pessoas – estavam empregadas no segundo trimestres, mais 54,7 mil (+1,1%) do que no trimestre anterior e mais 77,6 mil (1,6%) face ao mesmo trimestre do ano passado.
232,9 mil trabalhou em casa fora do horário
No trimestre, 960 mil pessoas afirmaram ter trabalhado a partir de casa (19,3% da população empregada). Mas o INE dá pistas sobre essa fatia de trabalhadores. Destes, 248,6 mil trabalharam sempre a partir de casa (25,9%); 330,1 mil fizeram-no “regularmente”, num sistema que concilia trabalho presencial e em casa (34,4%); outros 142,2 mil trabalharam a partir de casa “pontualmente” (14,8%). Já outros 232,9 mil trabalharam em casa “fora do seu horário de trabalho” (24,3%).
Face ao primeiro trimestre, o INE regista um aumento de 2,8 p.p entre aqueles que conciliaram o trabalho presencial e em casa, o chamado modelo híbrido.
Entre os que indicaram trabalhar “regularmente” em casa, num sistema que concilia trabalho presencial e em casa, o sistema mais comum conjuga alguns dias em casa todas as semanas, abrangendo 228,6 mil pessoas (69,3%), tendo sido “o sistema que registou a maior variação trimestral (mais 2,4 p.p. do que no 1.º trimestre de 2023)”, indica o organismo. Os empregados num sistema híbrido trabalharam em casa, em média, três dias por semana.
Tem havido alguma fuga de empresas dos centros das cidades como forma de cortar custos de arrendamento e diminuir os espaço de escritórios. Há também aqui um interesse das empresas nesse sentido, embora o tempo de deslocação e dos custos de transporte, que diminui, também favorece a perspetiva do trabalhador. (…) Provavelmente, há este modelo mais híbrido, que é o que está aqui refletido nos números.
O número de pessoas que afirma estar em teletrabalho – isto é, que utilizaram tecnologias de informação e comunicação (TIC) para desempenhar as suas funções a partir de casa, na definição do INE – também assinalou uma subida de 0,4 pontos percentuais, para 908 mil, face ao trimestre anterior. Ou seja, 18,3% do total da população empregada.
Uma ligeira evolução trimestral que, apesar de estar longe dos picos da pandemia, pode indicar a continuidade de uma mudança dos modelos de organização e da forma como empresas e trabalhadores olham para o trabalho.
“É um número muito elevado”, reage João Cerejeira. “Sabemos que tem havido alguma fuga de empresas dos centros das cidades como forma de cortar custos de arrendamento e diminuir os espaço de escritórios. Há também aqui um interesse das empresas nesse sentido, embora o tempo de deslocação e dos custos de transporte, que diminui, também favorece a perspetiva do trabalhador”, aponta o economista da Universidade do Minho. “Provavelmente, há este modelo mais híbrido, que é o que está aqui refletido nos números”, refere.
O docente da Universidade do Minho lembra ainda o fenómeno da “deslocalização de empresas para Portugal, nomeadamente estrangeiros” e que “o crescimento das áreas das TIC tem sido um pouco nestes modelos híbridos”, refere. “Não só as tecnológicas, mas também as empresas de auditorias privadas, de prestação de serviços de backoffice, até mais para os jovens do que propriamente para trabalhadores mais velhos.”
Pedro Brinca considera que este pode ser um reajuste. “Inicialmente, houve a euforia se calhar demasiado otimista relativamente à capacidade do teletrabalho, tendo levado a um certo contra-movimento em que as pessoas voltaram ao escritório, e há uma nova recuperação em que se tenta encontrar ali um maior equilíbrio”, aponta economista da Nova SBE. “O trabalho remoto é algo bastante valorizado por bastantes pessoas, que o procuram nos empregos.”
Quem são os teletrabalhadores?
“O perfil do teletrabalhador português é de alguém com o ensino superior, residente na área metropolitana de Lisboa ou no Porto. No entanto, o teletrabalho está a crescer e a permitir novos centros de trabalho, como Évora, Castelo Branco, Covilhã ou os arquipélagos da Madeira e Açores”, aponta Ricardo Carneiro, da Multipessoal.
Efetivamente, dos 908 mil teletrabalhadores registados no segundo trimestre, 403,7 mil residiam na Grande Lisboa região que concentra o maior número deste tipo de profissionais, seguida da região Norte com 238,9 mil e a Centro com 174,8 mil. Alentejo (42,5 mil), Algarve (24,2 mil), Madeira (15,3 mil) e Açores (9,4 mil) são as regiões que se seguem.
Inicialmente, houve a euforia se calhar demasiado otimista relativamente à capacidade do teletrabalho, tendo levado a um certo contra-movimento em que as pessoas voltaram ao escritório, e há uma nova recuperação em que se tenta encontrar ali um maior equilíbrio. (…) O trabalho remoto é algo bastante valorizado por bastantes pessoas, que o procuram nos empregos.
Destes 900 mil, uma larga maioria (678,7 mil) tinha um curso superior. São sobretudo trabalhadores por conta de outrem (724,3 mil), com contratos sem termo (600,5 mil), exercendo atividade na área de serviços (793,3 mil), com particular incidência na educação (182,6 mil), serviços de informação e comunicação (135,1 mil) e atividades de consultadoria, científicas, técnicas e similares (115,1 mil). E são mais mulheres: 461,3 mil vs 447,6 mil homens.
Assistiremos a novos crescimentos destes profissionais no país? “É sempre complicado extrapolar com base em variações trimestrais, mas os números dos últimos anos sugerem que o teletrabalho/regimes híbridos continuarão a crescer no futuro”, considera Ricardo Carneiro. “A mentalidade dos empregadores, a transformação das profissões com a entrada da IA, assim como a simples procura de um melhor work life balance assim o sugerem.”
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