Os gestores das maiores empresas portuguesas estão a comprar menos ações das cotadas, ao mesmo tempo que aumentam as operações de venda. Os acionistas da Altri e Greenvolt são os mais ativos.
Os investidores seguem diferentes estratégias e abordagens para selecionar as melhores ações para a sua carteira. Podem dar preferência à análise dos fundamentais das empresas, optar pelos sinais fornecidos pela análise técnica, ter em conta os dados macroeconómicos, as perspetivas para o futuro, seguir as recomendações dos analistas, ou outros critérios menos habituais.
A análise às transações de ações que são efetuadas pelos gestores das empresas é outra das práticas frequentes por parte dos investidores, pois podem representar um bom barómetro sobre as perspetivas para a evolução do negócio das companhias. Se um gestor comprar ações da empresa onde trabalha, pode indiciar que está otimista com o rumo da cotada ou tem na sua posse alguma informação que pode potenciar a cotação das ações. Em sentido inverso, a venda de ações por parte de um gestor pode sugerir surpresas negativas no futuro.
As transações destes investidores, que no mercado são conhecidos por insiders, podem também representar um voto de confiança/desconfiança na empresa, tendo em conta se avaliam se a ação está “cara” ou “barata”. As operações podem também nada ter a ver com a perceção que os gestores têm das empresas, sendo apenas efetuadas pela necessidade destes investidores obterem liquidez para outros propósitos, ou aplicarem o dinheiro devido a ausência de alternativas mais atrativas.
É por isso que não é recomendável adotar decisões de investimento com base apenas nas movimentações dos insiders, sobretudo se o número de transações for reduzido e pouco frequente. O impacto também é muito diferente se for de muitos milhões por parte de um CEO, ou de escassos milhares por parte de um administrador não executivo.
Contudo, pode ser um aliado relevante na tomada de decisão do investidor quando pretende optar entre algumas empresas. Pode preferir uma onde é visível uma predisposição dos gestores para comprar ações e excluir as que registam uma posição vendedora por parte dos insiders.
A análise global ao comportamento dos insiders é mais relevante do que olhar para casos específicos, pois ninguém melhor do que gestores serão capazes de antecipar alterações de tendência e inversão de ciclos, não só nas empresas que lideram, mas também nos setores que integram, ou mesmo na economia em geral.
Vários estudos publicados sobre o impacto das transações dos gestores têm demonstrado o efeito positivo das compras dos insiders. Uma análise efetuada em 2011 por Kaspar Dardas, da European Business School da Alemanha, mostrou uma elevada correlação entre as transações dos insiders e o desempenho das ações no médio prazo. Com dados de cotadas de 17 bolsas europeias, Kardas concluiu que as empresas com elevada frequência de compras dos gestores alcançaram um retorno médio 20,94% acima da média.
Também não faltam exemplos de cotadas em que a forte pressão vendedora por parte dos insiders representou um poderoso sinal de alerta sobre o desempenho futuro. Os gestores do Signature Bank venderam 100 milhões de dólares em ações nos três anos anteriores a março deste ano, altura em que o banco regional foi intervencionado pelos reguladores norte-americanos, levando os acionistas a perderem todo o dinheiro. Os insiders do First Republic Bank, que também sucumbiu à crise na banca norte-americana, venderam 10 milhões de dólares em ações nos meses anteriores ao colapso.
Menos compras e mais vendas
Devido à sua profundidade, liquidez e hábito de negociação em bolsa, Wall Street é o mercado acionista onde as movimentações dos insiders são seguidas com mais atenção por parte dos investidores. Na bolsa portuguesa, a frequência de compras e vendas de ações por parte dos gestores é bem mais reduzida, pelo que os sinais das movimentações globais devem ser interpretados com maior cautela.
O ECO analisou todas as transações de dirigentes comunicadas pelas cotadas do PSI à CMVM desde o início de 2021, sendo que os dados apurados indiciam que os gestores das maiores empresas portuguesas estão menos otimistas com a evolução das ações das companhias que lideram. É também possível concluir que, embora ainda muito escassas, está a crescer o número de transações por parte dos dirigentes da bolsa portuguesa.
Em 2023 foram reportadas 29 transações com ações por parte dos gestores do PSI, já acima das 27 registadas em 2022 e 26 em 2021. No que diz respeito ao tipo de transações, é notório um número crescente de vendas de ações e decrescente de transações de compra. Este ano foram realizadas seis operações de venda, contra apenas duas em 2022 e cinco em 2021. Já as transações de compra são apenas oito este ano, abaixo das 14 do ano passado e 15 de 2021.
Tendo em conta os valores envolvidos nestas operações, é ainda mais evidente o menor otimismo dos gestores. As compras realizadas em 2023 representaram um investimento de 1,73 milhões de euros, uma queda de 71% face a 2022 e de 94% contra 2021. Adicionando nestas contas as ações adquiridas para efeito de remuneração dos gestores, a conclusão é muito semelhante, com uma queda de 47% em 2023 para 4,4 milhões de euros.
Olhando agora para as vendas, a tendência é a inversa. Os gestores já encaixaram 17,5 milhões de euros com vendas de ações este ano, cerca de 2,5 vezes mais do que em 2022 e 15 vezes acima do volume de 2021.
Acionistas da Altri e Greenvolt dominam transações
São várias as companhias que não registam uma única transação de ações por parte dos seus gestores desde o início de 2011. É o caso da Jerónimo Martins, Navigator e REN. No lado oposto estão a Altri e a Greenvolt, companhias que têm uma estrutura acionista idêntica e muito ativa na gestão das suas posições.
Paulo Fernandes é o mais ativo nestas movimentações, confirmando a ideia de que além de gestor, empresário e acionista de referência em quatro cotadas, é também um dinâmico investidor. Entre as cerca de 90 transações efetuadas por todas as cotadas desde o início de 2021, nove foram efetuadas pelo CEO da Cofina, movimentando 61 milhões de euros neste período.
Paulo Fernandes comunicou seis operações de compra e três de venda, sendo que as movimentações são também condicionadas por uma série de operações relacionadas com o destaque da Greenvolt da Altri, nomeadamente a distribuição de dividendos em espécie por parte da fabricante de pasta e o aumento de capital da empresa de energias renováveis.
Os outros acionistas destas duas empresas também estiveram bastante ativos, realizando um total de 27 transações, sendo grande parte delas de compra, além de terem recebido mais de 100 milhões de euros em ações da Greenvolt este ano.
No que diz respeito às restantes empresas, destaque para as várias compras de ações do CEO da EDP nas últimas semanas num investimento próximo de 250 mil euros. Nota também para os CTT, com os gestores da companhia dos correios a efetuarem oito transações de compra em 2023, num investimento de 1,4 milhões de euros.
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Administradores do PSI menos otimistas com ações das suas empresas
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