Partido no poder na Polónia marca referendo sobre privatizações
A primeira pergunta do referendo, que se realizará no mesmo dias das legislativas, será: “É a favor da alienação de empresas estatais?”.
O partido no poder na Polónia anunciou esta sexta-feira que será pedido aos eleitores que decidam se apoiam a venda de empresas estatais num referendo, sublinhando que se trata de saber “se a riqueza de gerações permanecerá em mãos polacas”.
O partido conservador governante, Lei e Justiça (PiS), já há algum tempo que expressara a intenção de realizar um referendo sobre a altamente emocional questão dos migrantes, a par das eleições legislativas do outono, que o Presidente da República, Andrzej Duda, esta semana marcou para 15 de outubro. O líder do PiS, Jaroslaw Kaczynsky, declarou que o partido está agora a planear colocar mais que uma questão no referendo.
Kaczynski, que é também vice-primeiro-ministro, fez o anúncio num vídeo divulgado na rede social X (antigo Twitter), indicando que a primeira pergunta do referendo será: “É a favor da alienação de empresas estatais?”. No vídeo, uma imagem mostrava como a pergunta aparecerá no boletim de voto, com uma cruz a vermelho colocada no quadrado do “Não”.
Em seguida, ligou esforços de privatização ao seu principal adversário nas legislativas, o partido pró-negócios Plataforma Cívica (PO), liderado pelo ex-primeiro-ministro Donald Tusk. A Plataforma Cívica, uma formação de centro-direita, governou o país entre 2007 e 2015 e candidata-se agora à frente de uma coligação eleitoral de quatro partidos chamada Coligação Cívica, que inclui os Verdes e um partido liberal pró-negócios, e virou um pouco à esquerda.
O partido Lei e Justiça há muito que tenta retratar Tusk, também ex-presidente do Conselho Europeu, como um político que serve os interesses da Alemanha, o vizinho ocidental que infligiu atrocidades à Polónia ocupada durante a Segunda Guerra Mundial mas é agora um aliado na NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) e na União Europeia (UE).
Num encontro com eleitores no mês passado, Kaczynski afirmou: “Donald Tusk é um verdadeiro inimigo da nação polaca! Este homem não deve governar a Polónia. Ele que leve as suas políticas para a Alemanha!”. A oposição ao partido no poder condena a forma como este usa recursos do Estado, incluindo a televisão pública, para demonizar os seus opositores, em particular Tusk, que foi um ativista anticomunista antes da queda do comunismo na Polónia e que se apresenta como um patriota polaco.
No seu novo vídeo, Kaczynski sustentou que o referendo se destina a colocar decisões nas mãos dos polacos. “Para nós, a voz dos polacos comuns é decisiva. A voz dos políticos estrangeiros, alemães incluídos, não tem importância – é por isso que, em questões essenciais, queremos consultar-vos diretamente, num referendo”, disse Kaczynski.
“Vocês decidem se a riqueza de gerações permanecerá em mãos polacas”, acrescentou. Os políticos da oposição utilizaram as redes sociais para chamar ao referendo uma hipocrisia. Alguns observaram que o partido no poder vendeu, ele mesmo, bens do Estado, incluindo a companhia petrolífera estatal Lotos, em termos considerados desfavoráveis para a Polónia.
“Este referendo é uma grande farsa do PiS. Eles venderam a Lotos aos sauditas por tuta-e-meia e agora vão descaradamente perguntar aos polacos o que acham disso? Mentirosos e manipuladores”, comentou a vice-presidente do parlamento, Malgorzata Kidawa-Blonska. Segundo a rádio estatal, o PiS tenciona divulgar nos próximos dias mais vídeos contendo perguntas do referendo.
As autoridades polacas já tinham anteriormente anunciado planos para submeter a questão do plano da UE de relocalização de migrantes a referendo coincidindo com as eleições legislativas. A câmara baixa do parlamento debaterá a questão do referendo numa sessão plenária na próxima semana, de acordo com a agência de notícias estatal PAP.
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