O mundo mudou muito, as empresas mudaram imenso e o mundo laboral mudou completamente. Acontece que a maioria das pessoas e até mesmo instituições, ainda não perceberam o real alcance destas mudanças.

Dá um ar muito pouco erudito falar sobre comédias light de Hollywood numa crónica de jornal. Mas é praticamente irresistível não falar do filme “Why him?” de John Hamburg, que está agora nos videoclubes das distribuidoras de televisão por cabo. É óbvio que não se trata de uma obra-prima da sétima arte, mas trata-se de um belo conteúdo de entretenimento — ou por outras palavras, há muito tempo que não me ria tanto com um filme.

Se o caro leitor é um modernaço e prefere o Netflix ao videoclube do cabo, certamente não conhece este filme, mas obviamente que já viu a série “Girlboss”. Uma extremamente bem escrita (e impecavelmente bem realizada) adaptação ao pequeno ecrã da autobiografia de Sophia Amoruso. Se não sabe de que série é que estou a falar e muito menos quem é que é esta tal Sophia Amoruso, então este site irá ajudá-lo.

Como esta não é propriamente uma coluna sobre cinema, vamos ao que realmente importa. Tanto este filme, como esta série, têm algo em comum – não vou contar as histórias para não me chamarem de spoiler. Mas ambas narram, ainda que em estilos completamente distintos, a forma como dois empreendedores de sucesso tiveram que lidar com preconceitos laborais por causa das suas famílias (no caso do filme por causa da família da namorada).

O mundo mudou muito, as empresas mudaram imenso e o mundo laboral mudou completamente. Acontece que a maioria das pessoas e até mesmo instituições, ainda não perceberam o real alcance destas mudanças.

Há muitas pessoas que acham que por terem uma licenciatura têm direito divino a ter sucesso, há pessoas que acham que para ter sucesso é preciso uma licenciatura e há quem ache que tendo uma licenciatura e não tendo sucesso deve ser tratado por “doutor”.

Há quem ainda ache que um fato transmite mais credibilidade do que umas Stan Smith de velcro, há quem ache que os escritórios devem ser sítios cinzentões e há quem pense que seguindo as regras normais da sociedade se consegue atingir feitos extraordinário.

O mundo era dos marrões, dos certinhos e dos atinadinhos. Mas o mundo mudou e neste novo mundo a criatividade, o arrojo e a inovação valem mais do que a simples capacidade de seguir uma carreira by the book.

A maioria das instituições de ensino (grande parte delas pagas por todos nós) continua a praticar um ensino formal, tacanho, impessoal e quase mecanizado. Assente na simples premissa de que um estudante deve adquirir apenas conhecimentos técnicos. E o outro lado? Sim, literalmente o outro lado. Se há data de hoje sabemos que a maioria do novo sucesso advém do lado direito do cérebro, existirá alguma explicação razoável para ensinarmos os nossos jovens apenas a pensarem com o lado esquerdo?

Na série do Netflix, a Sophia Amoruso está em 2006 a combater os preconceitos de uma América muito diferente do que é hoje. Tal como no “Why him?”, o jovem empreendedor de Silicon Valley combate os preconceitos de uma família vinda interior dos EUA.

Infelizmente, o nosso Portugal de 2017 ainda se parece muito com o atual interior dos EUA e com as cidades americanas de 2006. Se queremos ser o país do Web Summit, das start-ups e do empreendedorismo, seria bom que mudássemos também a nossa interpretação do que é o sucesso e de como se chega até ele.

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