Ana Figueiredo abana gestão da Altice Portugal após “trabalho de reflexão”
Alterações à composição da Comissão Executiva, com afastamento dos administradores financeiro e tecnológico, acontece depois de "reflexão" do board e permite enfrentar desafios com confiança renovada.
Com efeitos imediatos, Ana Figueiredo anunciou esta sexta-feira uma nova remodelação parcial da Comissão Executiva da Altice Portugal, substituindo os administradores financeiro e tecnológico e nomeando uma administradora responsável pela área legal. Há apenas ano e meio no cargo de CEO, deixa de ser a única mulher na cúpula da empresa e renova a confiança na gestão, após “um trabalho de reflexão do Conselho de Administração”, num momento particularmente crítico para a companhia que comanda a Meo.
A remodelação acontece depois de, a 13 de julho, a Altice Portugal ter sido alvo de buscas do Ministério Público, num caso que ficou conhecido por Operação Picoas, uma referência à zona onde se localiza a icónica sede do grupo, no centro de Lisboa. O processo expôs um alegado esquema financeiro envolvendo fornecedores da Altice que terá lesado o Estado e o grupo em centenas de milhões de euros, e que chegou a conduzir à detenção para interrogatório do cofundador da Altice, Armando Pereira.
De saída da comissão executiva está, desde logo, Alexandre Matos, que era administrador financeiro da Altice Portugal desde o final de 2017 e homem de confiança do anterior CEO, Alexandre Fonseca. O ex-líder da Altice também foi implicado na investigação e decidiu suspender as funções de chairman da Altice Portugal e de co-CEO do grupo a nível internacional, mas não foi constituído arguido. Com a sua saída de cena, ainda que alegadamente temporária, Ana Figueiredo assumiu também a função de chairwoman da Altice Portugal.
Para o lugar de Alexandre Matos vai Gonçalo Camolino, que fica responsável pelas áreas financeira, de planeamento estratégico e controlo de gestão, compras e património. Importa recordar que João Zúquete da Silva, chief corporate officer, que era responsável pelo património da Altice Portugal, foi um dos nomes suspensos de funções depois das buscas à Altice Portugal, tendo ficado de licença (segundo noticiou a Lusa na altura, a suspensão foi pedida pelo próprio). Como foi amplamente noticiado em julho, a investigação também se prende com a venda de imóveis detidos pela Altice Portugal.
João Teixeira, até aqui administrador tecnológico, também está de saída e foi substituído por José Pedro Nascimento, que passará a ter sob responsabilidade as áreas de engenharia e operações de rede, tecnologias da informação, cibersegurança e privacidade e transformação digital.
“Ao Alexandre Matos e ao João Teixeira, meus colegas de comissão executiva, deixo um especial agradecimento pelo excelente trabalho desenvolvido. Com grande foco e espírito de equipa, contribuíram em muito para os resultados da nossa empresa nos últimos anos e para a sua consolidação e liderança no setor”, escreve Ana Figueiredo num comunicado interno a que o ECO teve acesso.
É ainda criado um novo cargo de chief legal officer, que será ocupado por Sofia Aguiar e que terá sob responsabilidade as áreas de regulação, concorrência e jurídico, proteção de dados e compliance, que ganha relevância no contexto da investigação ao universo da empresa e em relação às quais a Altice Portugal tem repetido estar no papel de “vítima”.
Na mensagem divulgada internamente, a CEO anuncia ainda que decidiu nomear um novo chefe de gabinete, que vem do setor público, substituindo Luís Ribeiro da Silva.
“Fernando Marta, a quem dou as boas-vindas à Altice, é o meu novo chefe de gabinete. Possui uma larga experiência profissional no domínio das tecnologias de informação e na liderança de projetos inovadores nos setores público e privado”, lê-se na missiva.
De acordo com informação publicada pelo próprio no LinkedIn, Fernando Marta era, até aqui, administrador do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e membro do Conselho Diretivo do mesmo. É ainda visiting professor do ISCTE Executive Education e tem no currículo mais de 12 anos ao serviço da Agência para a Modernização Administrativa (AMA).
“O Luís Silva, a quem agradeço todo o apoio que me prestou, a mim e aos restantes membros do Comex [comissão executiva], reintegra a área de contencioso laboral/relações laborais da DRH [direção de recursos humanos]”, ressalva a gestora.
A par destas alterações na gestão de topo, Ana Figueiredo anunciou diversas alterações adicionais nas direções de alguns departamentos e manteve outros administradores.
Assim, João Epifânio mantém-se como administrador com os pelouros do consumo e do marketing, Nuno Nunes continua como chief sales officer, tal como Alexander Freese como o administrador que comanda as operações. Ana Figueiredo também mantém “temporariamente” as áreas dos recursos humanos e da Altice Cuidados de Saúde.
“Reflexão” ditou estas mudanças
Segundo indicou na mensagem interna, Ana Figueiredo decidiu realizar esta remodelação da Comissão Executiva na sequência de um “trabalho de reflexão do Conselho de Administração, tendo por prioridade o cumprimento das metas fixadas” no plano estratégico para os próximos anos.
“Acredito que esta nova equipa de gestão reúne a competência e o conhecimento necessários para responder aos inúmeros desafios que a Altice Portugal e o setor enfrentam, bem como o compromisso e foco nos nossos objetivos estratégicos”, escreve a CEO.
“Todas estas nomeações têm em comum a promoção de talento interno, pessoas de elevada competência, com provas dadas e reconhecidas por todos, que conhecem bem o negócio e esta organização. Congratulo-me por terem aceitado o meu convite e o desafio que temos pela frente, possibilitando dar continuidade à nossa cultura de meritocracia”, remata Ana Figueiredo.
Acredito que esta nova equipa de gestão reúne a competência e o conhecimento necessários para responder aos inúmeros desafios que a Altice Portugal e o setor enfrentam.
Confiança renovada na equipa de gestão
Contactado pelo ECO esta sexta-feira à tarde, Jorge Félix, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal (STPT) ainda não tinha sido informado oficialmente das alterações. No entanto, disse encarar as mudanças na administração com naturalidade.
Numa altura em que Ana Figueiredo assume “total responsabilidade” pela direção da Altice Portugal, “é natural que queira ter uma equipa da sua própria confiança”, afirmou o presidente de um dos sindicatos de trabalhadores da Altice Portugal.
“Em termos estratégicos, havia a possibilidade de acontecer isto. Toda a comissão executiva existente ainda vinha dos tempos da gestão de Alexandre Fonseca. É natural”, disse o sindicalista. “A comissão executiva era, essencialmente, ligada à anterior gestão e, quando saiu Alexandre Fonseca e entrou Ana Figueiredo, a Comissão manteve-se intacta”, concluiu.
(artigo atualizado às 18h27 com mais informações)
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