Empresas preveem aumentos salariais de 4,2%. Trabalhadores vão continuar a perder poder de compra
As empresas estão a contar dar aumentos de 4,2% aos seus trabalhadores. Percentagem fica abaixo da inflação projetada e é sinónimo da continuação da perda de poder de compra.
As empresas até têm estado abertas a dar aumentos salariais aos trabalhadores, mas a subida dos preços tem sido tal que esse reforço dos ordenados tem sido absorvido. Nos próximos meses, os empregadores estão a contar dar subidas remuneratórias de 4%, valor que voltará, contudo, a ser inferior à inflação projetada, salienta esta quarta-feira a Mercer, no estudo “Total Compensation 2023″. Resultado: os trabalhadores deverão continuar a perder poder de compra.
“As organizações antecipam uma evolução positiva na esfera da compensação, sendo que os aumentos salariais previstos para 2023/2024 rondam, em média, os 4,2%“, destaca a empresa de recursos humanos, que explica que esse aumento é superior ao verificado no último ano, ainda que inferior à evolução estimada para os preços.
“Apesar de se verificar um aumento, os incrementos salariais previstos mantém-se abaixo da inflação projetada, dificultando a recuperação do poder de compra dos colaboradores. Do que foi possível analisar, as organizações mantêm-se atentas à evolução da inflação, mas este contexto continuará a ser um desafio para as empresas e colaboradores em Portugal“, afirma Marta Dias, rewards leader da Mercer Portugal.
Perante o cenário atual, há mesmo empresas que estão a contar congelar os salários em 2024 em toda a sua estrutura: 7% dos empregadores ouvidos apontam nesse sentido. Em comparação, nenhuma das empresas ouvidas quanto a 2023 tinham indicado vontade de seguir com esse congelamento.
Importa esclarecer que, antes ainda da crise da inflação, os salários já eram um ponto problemático no mercado de trabalho português. Por isso, o Governo tem puxado, ano após ano, pelo salário mínimo nacional e até assinou um acordo de rendimentos com os parceiros sociais para fazer subir os vencimentos dos trabalhadores do privado. Ainda assim, as remunerações continuam a não crescer o suficiente e têm até emagrecido em termos reais.
Por outro lado, o estudo da Mercer indica que 82% das empresas realiza uma revisão salarial anual, sendo janeiro o mês preferência para essa negociação. “O desempenho individual continua a ser o principal fator que influencia a atribuição de incrementos salariais, sendo mencionado por 95% das empresas”, realça ainda a empresa de recursos humanos.
Saídas voluntárias já estão acima dos níveis pré-pandemia
Com salários a cair em termos reais, as empresas portuguesas estão a sentir dificuldades sérias na retenção de talento e as saídas voluntárias de trabalhadores já estão mesmo acima dos níveis pré-pandemia, conclui o referido estudo da Mercer.
“Apesar de os últimos anos terem sido marcados pelo decréscimo do turnover voluntário – que passou de 10%, em 2019, para 5,6%, em 2020, diminuindo posteriormente para 5% –, em 2023 o panorama inverteu-se“, salienta a empresa de recursos humanos.
E detalha: “cerca de 52% das organizações reconhecem dificuldades na retenção de talento, sendo que a percentagem de colaboradores que saíram voluntariamente no ano anterior foi, em média, 10,6%. Os valores de turnover voluntário superaram ligeiramente o observado no contexto pré-pandemia”.
Em contraste, 35% das empresas diz-se aberta a aumentar as suas equipas ainda este ano. Já quanto a 2024, só 27% admitem para já fazer esse crescimento. “Um ponto positivo é que a percentagem de empresas que assume poder vir a reduzir o seu headcount é de 1%“, salienta a Mercer, numa altura em que o desemprego tem estado estável em níveis próximos de mínimos históricos.
Desde o início da recuperação pós pandemia que as empresas têm estado abertas para fazer contratações, mas têm esbarrado com alguma escassez de mão-de-obra adequada. Isto não só no turismo e na agricultura, mas também no comércio e até nas tecnologias. Os especialistas chamam a atenção para um desencontro entre as competências dos trabalhadores que hoje procuram emprego e aquelas que as empresas estão à procura, apelando a um reforço da formação.
Este estudo teve por base a análise dos dados de 570 empresas em Portugal e quase 200 mil postos de trabalho.
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