Como o SNS está a servir de exemplo nos EUA
Há uma forte diferença entre o acesso aos cuidados de saúde em Portugal e nos EUA. Os norte-americanos gastam mais por doente, mas têm menos médicos por habitante e vivem menos.
No acesso aos cuidados de saúde, Portugal gasta um quinto do valor por pessoa face aos Estados Unidos, mas a esperança média de vida dos portugueses é de mais de cinco anos face à dos norte-americanos.
Num longo artigo publicado esta semana, o Washington Post (acesso pago, conteúdo em inglês) descreve “os contrastes estruturais e de filosofia” entre os sistemas de saúde dos dois países e realça que Portugal, apesar de ser um país com pouco mais de 10 milhões de pessoas e “com uma economia relativamente pequena”, está entre “as nações com os melhores resultados ao nível da ‘saúde da população’ no mundo”.
Para tal, o jornal norte-americano conta a história de duas irmãs que vivem há cerca de 15 anos com artrite reumatoide: Lucília, de 58 anos, vive em Portugal e está a ser seguida pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), enquanto Lurdes, de 66 anos, vive nos Estados Unidos e paga do seu próprio bolso os tratamentos. Quando os sintomas se tornam mais agressivos, Lurdes recorre ao serviço de urgência e, por vezes, voa até Lisboa para ter acesso a cuidados de saúde a um preço mais reduzido.
De acordo com o Washington Post, o país liderado por Joe Biden gasta 18,3% do seu PIB no seu sistema “de última geração centrado na doença”. Contudo, está a registar um quebra na esperança média de vida: em 2021 era de 76,4 anos, isto é, o menor registo em quase duas décadas.
Por outro lado, Portugal gasta cerca de um quinto do valor por pessoa, mas a esperança média de vida avançou para cerca de 82 anos, seis meses a mais do que média europeia. Contas feitas, a esperança média de vida da população portuguesa é 5,6 anos superior face à norte-americana, tal como notou o senador norte-americano Bernie Sanders, na rede social X (antigo Twitter).
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Apesar do investimento em saúde feito pelo governo norte-americano, apenas 5% está alocado aos cuidados de saúde primários. Por outro lado, e apesar de haver cerca de 1,6 milhões de portugueses sem médico de família, o Washington Post destaca a aposta portuguesa nos cuidados de saúde primários, bem como o facto de em Portugal haver uma maior sensibilização para tentar identificar as pessoas vulneráveis antes de ficarem gravemente doentes. De notar, que segundo o mesmo jornal, é até 12 vezes mais caro tratar os doentes nas urgências do que nos centros de saúde. Além disso, o tratamento para muitas doenças crónicas, não só alivia os sintomas no imediato, mas também retarda a evolução da doença.
Por outro lado, há também mais médicos por habitante em Portugal do que nos Estados Unidos: em território nacional há 57 médicos por cada 10 mil habitantes, enquanto do outro lado do Atlântica o valor cai para 27 médicos por cada 10 mil habitantes, segundo os dados da OCDE.
Ao mesmo tempo, há mais norte-americanos a relatar que não viram as suas necessidades médicas satisfeitas devido ao custo, distância ou ao tempo de espera: em 2019, 12,1% dos inquiridos norte-americanos relataram que atrasaram ou não receberam os cuidados de saúde necessários devido a dificuldades financeiras, segundo os dados do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), sendo que a percentagem aumentava para 15% no caso de negros e hispânicos.
Já em Portugal, nesse mesmo ano, apenas 3,5% dos inquiridos, incluindo o grupo com menores rendimentos, apontava que estes fatores tinham impedido o acesso a cuidados de saúde, de acordo com um estudo da União Europeia (UE). De notar, que mais de cinco milhões de portugueses têm seguro privado ou um subsistema de saúde, segundo revelou o presidente da Associação de Hospitalização Privada.
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