Das ações às obrigações, passando pelos depósitos a prazo, as oportunidades de investimento que se vislumbram em 2024 são muitas, mas também são várias as armadilhas para a carteira dos investidores.
No início de um ano que se prevê pleno de incertezas, o ECO vai divulgar nos próximos dias 6 trabalhos que tentam responder a questões que mais irão afetar a economia e os mercados, tanto a nível nacional como internacional. Os preços das casas, as descidas nas taxas de juro, o peso do abrandamento externo na economia portuguesa, a evolução dos preços do petróleo, onde investir o seu dinheiro e, claro, o impacto da instabilidade política no país são os temas que serão abordados.
À medida que entramos em 2024, a desaceleração da economia global emerge como a única certeza no horizonte. As últimas previsões do Fundo Monetário Internacional apontam para um crescimento do PIB mundial de 2,9% este ano, que compara com um crescimento esperado de 3% em 2023 e de 3,5% em 2021, e muito abaixo da taxa média anual de 3,8% registada nas últimas duas décadas anteriores entre 2000 e 2019.
O abrandamento esperado da economia mundial é ainda mais severo nas economias mais desenvolvidas como os EUA e a Europa, com os economistas do FMI a anteciparem um crescimento de apenas 1,4% em 2024, depois de um crescimento de 1,5% em 2023 e de 2,6% em 2021.
Os investidores enfrentam assim um mar de dúvidas e incertezas pela frente, que é agravado por um persistente cenário de conflitos geopolíticos que será fortemente impactado pela onda de eleições que irão ter lugar ao longo de 2024, com particular destaque para as eleições presidenciais nos EUA em novembro. A BlackRock revela que “80% da capitalização bolsista global, 52% do PIB mundial e 35% da população mundial vai a eleições em 2024.”
Neste contexto turbulento, a prudência torna-se a palavra de ordem, um farol para os pequenos investidores navegarem nas águas tumultuadas dos mercados financeiros ao longo de todo o ano que se espera que seja rico em volatilidade nas bolsas. E, por isso, 2024 tem todos os ingredientes para colocar em prática a célebre frase de Warren Buffett: “tenha medo quando os outros são gananciosos. Seja ganancioso quando os outros têm medo.”
Carteiras diversificadas regionalmente
As maiores casas de investimento publicam anualmente os seus tradicionais relatórios “Outlook”, oferecendo uma bússola para os investidores. Estes documentos são importantes, mas estão longe de serem uma certeza quanto ao futuro, desde logo porque não há uma bola de cristal capaz de prever com exatidão o que acontecerá no futuro. É isso que refere também Andrew McCaffery, responsável pelo departamento internacional de investimentos da Fidelity.
“Nunca geri dinheiro com base no facto de saber o que vai acontecer daqui a 12 meses. Posso ter uma opinião, mas um bom investimento exige disciplina, abertura de espírito e disponibilidade para reagir aos factos à medida que estes mudam”, revela Andrew McCaffery no outlook da Fildelity para 2024 que aponta para um ano com mais risco e que o desempenho das ações seja muito mais diferenciada entre países regiões face ao que sucedeu em 2023.
Apesar de a inflação ser mais elevada do que na década anterior, as yields – tanto reais como nominais – das obrigações de qualidade superior atingem atualmente os níveis mais elevados dos últimos 15 anos.
Segundo vários outlooks consultados pelo ECO, o consenso dos analistas para 2024 gira em torno da diversificação dos portefólios como estratégia-chave para enfrentar este ano, com os especialistas a enfatizarem a importância de os investidores diversificarem a exposição das suas carteiras por ativos e regiões geográficas. Esta estratégia é vital para mitigar os riscos num período marcado por incertezas.
A diversificação, no entanto, não se limita a espalhar investimentos. Trata-se de seguir uma abordagem calculada para equilibrar risco e o retorno potencial que, nas ações, as estimativas da generalidade dos analistas aponta para um crescimento dos lucros por ação acima dos valores alcançados em 2023.
Investir em “qualidade” é outro conselho reiterado pelos especialistas. Isso significa centrar o foco em empresas com balanços robustos, histórico comprovado de rentabilidade e baixos níveis de endividamento. Como salienta a UBS Global Wealth Management, isso traduz-se em empresas com balanços estáveis e margens de lucro sustentáveis, porque estão mais bem equipadas para prosperar, mesmo num cenário de crescimento económico lento.
Regionalmente, a BlackRock destaca como principais apostas para 2024 os mercados do Japão e da Índia por estarem “entre os beneficiários da fragmentação mundial” que se está a assistir, refere Belinda Boa, CIO de mercados emergentes da BlackRock, no outlook da maior gestora de ativos do mundo.
“Observamos uma maior dispersão dos retornos nos mercados globais, criando oportunidades para os investidores que olham para além dos seus mercados de origem”, destaca a gestora, que alarga esta seleção geográfica granulada ao México, Brasil, Taiwan e Vietname. De fora do espetro de grandes oportunidades parecem estar os mercados mais desenvolvidos.
No mercado acionista, a cautela exigida para enfrentar 2024 é compensada pela identificação de empresas com balanços sólidos. As obrigações, apesar dos seus riscos, apresentam um potencial de recuperação, enquanto os depósitos a prazo em Portugal oferecem segurança, embora com retornos limitados.
O Morgan Stanley, por exemplo, prevê que o índice S&P 500, que agrega as 500 maiores empresas dos EUA, deverá ter um desempenho estável até o final de 2024. No entanto, tal cenário não exclui a possibilidade de encontrar boas oportunidades de investimento em empresas de maior dimensão com balanços sólidos.
A mesma visão é partilhada pela equipa de analistas do Goldman Sachs. Dominic Wilson e a sua equipa destacam que empresas com fundamentos fortes podem superar a média do mercado, mesmo num ambiente de taxas de juro elevadas.
Na Europa, o UBS Global Wealth Management vê potencial em portefólios de ações de qualidade, especialmente no setor tecnológico, que podem oferecer crescimento de lucros mesmo com o abrandamento global.
Renascimento das obrigações em 2024
Após mais um ano negativo para a generalidade das obrigações, por conta da continuada subida das taxas de juro e da inflação, o mercado obrigacionista destaca-se nos outlooks das casas de investimento como uma opção promissora para 2024.
Com a expectativa de que os bancos centrais comecem a reduzir as taxas de juro, os títulos de dívida podem entrar num período de recuperação. A yield das obrigações soberanas dos EUA a 10 anos, por exemplo, chegou a negociar perto dos 5% no final de outubro e hoje negocia a 4% — uma oferta atraente comparada aos riscos associados ao mercado de ações.
“As obrigações principais oferecem não só níveis de rendimento atrativos para os investidores, mas também potenciais ganhos de capital num cenário de recessão”, refere o JP Morgan no seu outlook para este ano, destacando ainda que “a oportunidade de obter yields aos níveis atuais parece atraente, mesmo que a volatilidade das obrigações se mantenha elevada durante algum tempo.”
Tim Buckleu, CEO da Vanguard, numa entrevista à CNBC, destacou que as ações norte-americanas podem valorizar a um ritmo médio de 5% ao ano na próxima década. Esta perspectiva coloca as obrigações como uma alternativa viável, oferecendo retornos comparáveis com um perfil de risco potencialmente mais baixo.
“Apesar de a inflação ser mais elevada do que na década anterior, as yields — tanto reais como nominais — das obrigações de qualidade superior atingem atualmente os níveis mais elevados dos últimos 15 anos”, referem Julien Houdain, Lisa Hornby e Abdallah Guezour, da equipa de obrigações da Schroders no outlook para 2024. “Isto não só faz com que pareçam baratas em termos absolutos, mas também em relação a outras classes de ativos, em particular as ações”, dizem.
Última oportunidade para os depósitos
Os depósitos a prazo continuam a oferecer rendimentos modestos, quando comparado com o que é pago pela média dos bancos da Zona Euro: os últimos dados do Banco Central Europeu colocam a banca nacional na sétima posição o ranking dos bancos com melhor remuneração do espaço da moeda única.
No entanto, os recentes dados do Banco de Portugal mostram que a taxa de juro média dos depósitos voltou a subir em novembro. Depois do salto histórico em outubro, em novembro a remuneração dos depósitos a prazo subiu para 2,98%, a taxa mais elevada em mais de dez anos.
Apesar desta dinâmica, já há alguns bancos a cortarem na remuneração dos depósitos em antecipação do BCE. Para os aforradores, esta poderá ser a última oportunidade para aplicarem parte das suas poupanças em depósitos a taxas mais simpáticas, sobretudo através de depósitos acima de um ano, pois serão os com maiores prazos os mais rapidamente afetados pelo futuro pelo corte das taxas de juro.
A chave em 2024 é equilibrar risco e retorno, mantendo-se ágil e informado, pronto para aproveitar as oportunidades que surgem mesmo nas condições mais adversas.
O ano de 2024 desafia assim os investidores a navegarem com prudência e estratégia num ambiente marcado por incertezas. A diversificação de um portefólio com capacidade de intervir momentaneamente no mercado surge como uma tática defensiva essencial, enquanto a busca por qualidade nos ativos oferece um caminho para a resiliência.
No mercado acionista, a cautela é compensada pela identificação de empresas com balanços sólidos. As obrigações, apesar dos seus riscos, apresentam um potencial de recuperação, enquanto os depósitos a prazo em Portugal oferecem segurança, embora com retornos limitados.
Este panorama delineado pelos outlooks das principais casas de investimento fornece um roteiro para os investidores enfrentarem um ano que promete ser tanto desafiador quanto repleto de oportunidades. A chave em 2024 é equilibrar risco e retorno, mantendo-se ágil e informado, pronto para aproveitar as oportunidades que surgem mesmo nas condições mais adversas.
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