PGR recusa-se a esclarecer se António Costa é suspeito de prevaricação

Gabinete de Lucília Gago recusa-se a esclarecer as suspeitas que alegadamente recaem sobre António Costa. Em resposta ao ECO, remete para comunicado enviado a 21 de dezembro de 2023.

A Procuradora-Geral da República (PGR) recusa-se a esclarecer se António Costa, o ainda primeiro-ministro, é ou não suspeito do crime de prevaricação, no âmbito da Operação Influencer. Em resposta dada ao ECO, fonte oficial do gabinete de Lucília Gago diz apenas que “relativamente à designada Operação Influencer, de momento nada a acrescentar à informação já prestada”, remetendo para o comunicado publicado no site da PGR a 21 de dezembro.

Esta sexta-feira, o Observador avançou que António Costa é suspeito do crime de prevaricação devido a uma lei alegadamente negociada entre João Tiago Silveira e João Galamba para beneficiar Start Campus. Perante estas notícias, a titular da investigação criminal opta por não dar esclarecimentos do caso que culminou na demissão de António Costa, na queda do Governo e na marcação de eleições legislativas antecipadas para 10 de março.

O comunicado do dia 21 de dezembro dizia que o Ministério Público reforçou as equipas de investigação e separou em três inquéritos o processo da Operação Influencer. Na nota enviada às redações, anuncia ainda que “interpôs recurso para o Tribunal da Relação de Lisboa,” por discordar do despacho do juiz de instrução, que aplicou as medidas de coação aos arguidos.

Um dos inquéritos passa a investigar o projeto de construção do centro de dados desenvolvido em Sines pela sociedade Start Campus e “está a cargo de quatro magistrados”. O outro, com três magistrados, vai investigar “concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas)”.

O terceiro, e último, terá dois magistrados para investigar o “projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, apresentado por consórcio que se candidatou ao estatuto de Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu”.

Diogo Lacerda Machado, Vitor Escária, Nuno Mascarenhas, Afonso Salema, Rui de Oliveira Neves – os arguidos da Operação Influencer.

 

Segundo o Ministério Público, diz o Observador, o ainda primeiro-ministro é suspeito da alegada prática do crime de prevaricação devido à aprovação do novo Regime Jurídico de Urbanização e Edificação no Conselho de Ministros do dia 19 de outubro de 2023.

Constitui crime de prevaricação os casos em que um titular de cargo político, contra a lei, conduz ou decide um processo em que intervém, no âmbito das suas funções, com o objetivo de, por essa forma, prejudicar ou beneficiar alguém. A pena prevista é a de prisão, de dois a oito anos, e este crime encontra-se definido no regulamento dos crimes de responsabilidade dos titulares de cargos políticos.

O ex-ministro João Galamba e João Tiago Silveira (coordenador do Simplex do licenciamento, que está na origem da nova lei, e sócio do escritório Morais Leitão) alegadamente negociaram os pormenores da nova lei com Rui Oliveira Neves (administrador da Start Campus e colega de João Tiago Silveira na Morais Leitão) para que a construção do data center da empresa fosse beneficiada pela nova lei, ficando dispensada de um processo de licenciamento urbanístico.

A operação do dia 7 de novembro do Ministério Público assentou em pelo menos 42 buscas e levou à detenção de cinco pessoas para interrogatório: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária; o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas; dois administradores da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves; e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa.

No total, há nove arguidos no processo, entre eles o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado e antigo porta-voz do PS, João Tiago Silveira, e a empresa Start Campus.

O primeiro-ministro demitiu-se depois de se saber que o seu nome tinha sido citado por envolvidos na investigação do MP a negócios do lítio, hidrogénio e do centro de dados em Sines, levando o Presidente da República a dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas para 10 de março.

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