Exclusivo TAP não avançou com queixa sobre crimes que aponta a ex-CEO
Apesar de ter suspeitas de crimes na tentativa de venda de produtos da Zamna pelo marido da ex-CEO à TAP, a companhia não avançou com queixa junto do Ministério Público.
Apesar das suspeitas da TAP de vários crimes que envolvem a ex-CEO em negócios do marido, a companhia decidiu não avançar com qualquer queixa ou denúncia junto do Ministério Público, sabe o ECO.
O que não impede que o Ministério Público (MP) abra um inquérito, se assim o entender, para investigar os contornos da tentativa de Floyd Murray Widener de vender à TAP os produtos da empresa israelita Zamna Technologies, onde trabalhava como diretor comercial em regime part time. Isto porque os crimes que levantam a suspeita da companhia são públicos e não dependem de qualquer queixa ou denúncia junto das autoridades judiciais.
Em causa está a suspeita de crimes como “tráfico de influência, de oferta indevida de vantagem ou mesmo de corrupção”, segundo a contestação submetida pela defesa da TAP, a que o ECO teve acesso, no processo em que a gestora francesa reclama uma indemnização de quase seis milhões de euros pela forma como foi despedida da transportadora.
Perante estas suspeitas, o ECO questionou a TAP se tinha avançado com alguma queixa, mas a companhia diz apenas que “não comenta questões judiciais”. No entanto, o ECO apurou que a transportadora não enviou ao MP qualquer denúncia. O ECO também perguntou ao MP se, perante as informações dos advogados de defesa da TAP, tinha sido aberto algum inquérito, mas até à hora da publicação deste texto não foi dada qualquer resposta.
Os alegados crimes envolvem a compra de uma “solução tecnológica que permitia a validação de dados dos passageiros” pela companhia, sendo que “um mês depois” de a ex-CEO ter tomado posse, o marido já tinha apresentado na TAP os serviços da Zamna. E em dezembro de 2021, “havia já um projeto piloto em curso” deste programa tecnológico “à revelia do conselho de administração” da TAP. Ou seja, “sem que os restantes administradores” da transportadora “se tenham apercebido”, lê-se ainda na contestação submetida em tribunal pela defesa da TAP.
Além disso, a TAP levanta suspeitas sobre as datas coincidentes da contratação de Floyd Murray Widener pela Zamna com o período em que Christine Ourmières-Widener ocupou o cargo de CEO na companhia. A gestora francesa começou a exercer funções na TAP em junho de 2021 “ao passo que o seu marido começa a exercer funções na Zamna em setembro de 2021”. E Christine Ourmières-Widener “cessou o vínculo com a TAP em março de 2023”, sendo que o marido sai da empresa “em fevereiro de 2023”, lê-se no documento. Frisa que “custa a crer que se trata de uma mera coincidência”, acreditando que Floyd Wieder foi contratado pela empresa por Christine Ourmières-Widener ser, à data, CEO da TAP.
A TAP salienta ainda que há “alguma intimidade” entre a ex-CEO e a fundadora da Zamna, Irra Ariella Khi, apresentando nos documentos submetidos ao tribunal comentários a um post na rede social Linkedin.
Por tudo isto, a TAP diz que Christine Ourmières-Widener – que “necessariamente sabia” que o marido tinha começado a trabalhar na Zamna – permitiu uma situação de “manifesto conflito de interesses” ao não ter impedido a apresentação e tentativa de venda dos serviços da empresa israelita à transportadora. Situação que a TAP diz ser “inadmissível” e que provocou “graves riscos reputacionais” à companhia.
A Zamna foi fundada em 2016 e, à data, tinha nove trabalhadores. Em 2020 tinha apresentado prejuízos que ultrapassavam os “dois milhões de euros”. Antes de ocupar o cargo de diretor comercial na Zamna, Floyd Widener “trabalhava numa empresa de aluguer de espaços para eventos”, segundo os documentos da contestação da defesa da TAP, a que o ECO teve acesso.
A contratação dos serviços da Zamna foi travada por Alexandra Reis – tal como foi dito na comissão parlamentar de inquérito -, sendo este um dos dois episódios que levaram à “animosidade pessoal” da ex-CEO com a ex-administradora com o pelouro da área de compras, diz a TAP. Além do conflito de interesses identificado por Alexandra Reis, a compra dos serviços à Zamna “não estava orçamentada, nem prevista e nem sequer correspondia a uma necessidade da TAP”, refere o documento.
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