AIE recomenda “melhoria” dos leilões offshore para garantir “elevada participação”
Atrasos na instalação de projetos, financiamento e licenciamento em alguns leilões na Europa obrigam a AIE a recomendar uma "melhoria" do desenho face aos concursos futuros, como em Portugal.
2024 será um ano importante para o lançamento de vários leilões de eólicas offshore na Europa. Portugal, embora tenha o calendário congelado devido à crise política, deverá juntar-se a países como a Alemanha, Dinamarca, França e os Países Baixos, que colocarão a concurso os primeiros gigawatts (GW) da capacidade instalada desta energia que pretendem alcançar até 2030. A nível nacional, a ideia será colocar a concurso 10 GW até ao final da década, tal como prevê o Plano Nacional de Energia e Clima.
A elevada expectativa vem acompanhada de algumas reservas face aos resultados desapontantes do leilão do ano passado, no Reino Unido. Mas não só. A Agência Internacional de Energia (AIE) recorda que nos últimos anos se tem verificado uma demora na instalação dos projetos que ganharam leilões em países como a Bélgica e em França; um atraso a nível do financiamento das infraestruturas portuárias na Polónia e uma lentidão no licenciamento de projetos na Suécia.
As incertezas, explica a agência liderada por Fatih Birol num estudo divulgado no passado dia 11 de janeiro, prendem-se a uma “combinação de perturbações na cadeia de abastecimento, custos de investimento 20% mais elevados e longos prazos de licenciamento” em mercados como a União Europeia e os Estados Unidos. Em alguns países, estes prazos podem demorar até 10 anos. Segundo a AIE, os preços atribuídos nos mais recentes leilões deixaram de refletir os custos de desenvolvimento, o que reduz a capacidade de financiamento dos projetos.
“A energia eólica offshore foi a mais afetada pelo novo ambiente macroeconómico, tendo a sua expansão até 2028 sido revista em baixa em 15% fora da China“, informa o documento.
Ainda assim, a AIE mantém as expectativas saudáveis em relação aos futuros leilões de eólicas offshore a nível mundial, incluindo o procedimento concursal em Portugal.
Questionado sobre se os riscos poderiam influenciar o número de promotores interessados em participar, um dos representantes da AIE, durante um webinar com jornalistas, esta terça-feira, afirmou que “apesar da recente inflação dos custos da energia eólica marítima, a tecnologia ainda é capaz de fornecer energia fiável e de baixo custo” e que a expectativa é que o desenvolvimento tecnológico conduza “à continuação da tendência para a diminuição dos custos a médio prazo”.
“A melhoria do desenho dos leilões, no sentido de assegurar que os promotores garantam um retorno justo do seu investimento e partilhem os riscos dos custos, será fundamental para garantir uma elevada participação“, considerou o responsável.
Crescimento da China nas renováveis “deixou de ser comparável”
A instalação de nova capacidade de renováveis nos próximos cinco anos vai ser mais rápida do que aquela verificada nos últimos 100 anos. Entre 2023 e 2028, serão instalados quase 3.700 gigawatts (GW) de nova capacidade em mais de 130 países, e segundo as contas da Agência Internacional de Energia, a China deverá ser o principal impulsionador, seguindo-lhe os Estados Unidos e a União Europeia.
“O crescimento da China nas renováveis triplicou e deixou de ser comparável a outros mercados. Nos últimos quatro anos, tornou-se impossível [concorrer contra a China]. A maioria dos países está longe deste nível”, explicou o mesmo responsável, durante o webinar, adiantando que estes resultados, sobretudo no setor do solar fotovoltaico, foram possíveis de concretizar graças a políticas públicas fortes, custos baixos de produção e metas ambiciosas.
Segundo o relatório da AIE, a China será responsável por quase 60% da nova capacidade de energias renováveis que se espera vir a estar operacional em todo o mundo, até 2028. E a título de exemplo, só a nível da energia eólica as instalações na China cresceram 66% entre 2022 e 2023.
Face ao ritmo de crescimento, a agência liderada por Fatih Birol prevê que Pequim deverá atingir o seu objetivo para 2030 de instalações eólicas e solares fotovoltaicas já este ano — seis anos antes do previsto. Em 2020, o país liderado por Xi Jinping comprometeu-se a ter 1.200 GW de renováveis até ao final da década.
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