Mark Bourke defende êxito da recuperação do Novobanco depois de anunciar um resultado recorde de 743 milhões de euros em 2023. Assegura que o banco vai conseguir manter uma rentabilidade elevada.
Acabou de apresentar lucros recorde de 743 milhões de euros no primeiro ano de “normalização” do banco. Um resultado que leva o CEO irlandês Mark Bourke a acreditar que a recuperação do Novobanco é um “sucesso para todos” em Portugal, isto apesar de ter consumido 3,4 mil milhões de euros ao Fundo de Resolução nos últimos seis anos.
Depois de a margem financeira ter duplicado no ano passado à boleia das taxas de juro, o banco espera algum nível de pressão nos próximos anos. Ainda assim, o objetivo passa por estabilizar as receitas. E manter a rentabilidade “num nível elevado”, adiantou o gestor irlandês em entrevista ao ECO.
O banco conseguirá manter o nível de margem em 2024, tendo em conta que as taxas de juro estão a baixar neste momento?
Num período de dois ou três anos, devemos conseguir mantê-la praticamente estável. Mas esse é o desafio. Não há dúvida de que a margem de juro irá comprimir um pouco no próximo ano.
E este ano?
Em 2024 haverá uma certa pressão na margem financeira. Em 2025, o nosso rendimento resultará do desempenho da nossa carteira de títulos e de empréstimos, com uma pequena expansão, e do crescimento das comissões. Pensamos que podemos manter uma estabilidade, nos nossos objetivos apontamos para mais de 1,3 mil milhões de euros.
O nosso objetivo é manter a margem mais ou menos estável. Não nos estamos a fixar nestes objetivos porque nos últimos três anos temos vindo a bater os objetivos consecutivamente. Aconteceu em 2021, 2022, 2023, sendo que atualizamos o objetivo em 2023. Isso ajudou na construção da credibilidade do banco.
Mesmo com o abrandamento da economia portuguesa em 2024?
Está a abrandar, mas ainda está a crescer. A economia portuguesa vai crescer provavelmente três vezes mais do que a média da UE. No ano passado, o PIB cresceu 2,3%, ou seja, três a quatro vezes mais do que a média. Este ano, a previsão do Governo é de 1,5%. Em termos de risco, é mais para o lado positivo do que para o lado negativo.
E o mais importante para nós é o facto de o emprego se manter muito estável. E podemos ver, pela nossa atividade, que as PME, que são o nosso coração, estão a ter um bom desempenho, não estamos a ver tensão, estamos a ver um bom desempenho. Esperamos que, nos próximos 18 meses, os investimentos que talvez tenham sido adiados, as empresas comecem a sentir-se confiantes e a reinvestir.
"Num período de dois ou três anos, devemos conseguir mantê-la praticamente estável. Mas esse é o desafio. Não há dúvida de que a margem de juro irá comprimir um pouco no próximo ano.”
O banco será capaz de manter este nível de rendibilidade de 20%, tendo também em conta o abrandamento da economia?
Obviamente, à medida que o nosso capital aumenta, isso vai ter um efeito aritmético na rendibilidade. Mas, partindo do princípio de que temos um nível de capital normal no banco, deveremos ser capazes de manter um nível de rentabilidade elevado, mas não é sustentável a um nível muito elevado. Este negócio foi estruturado de forma a atingir esse objetivo.
2023 foi o primeiro ano de um banco normalizado?
Se olharmos para 2022, gerámos 360 pontos de base de capital. Metade disso foi conseguido porque ainda estávamos a vender ativos para gerar capital e a outra metade teve a ver com a atividade operacional subjacente do banco. Este ano, o que vimos foi o funcionamento da atividade operacional. Pela primeira vez tomamos decisões que não foram realmente orientadas por uma supervisão próxima e contínua, como quando estávamos subcapitalizados.
Apesar destes resultados, porque é que as imparidades e provisões aumentaram 56%?
Estamos a ter uma visão muito conservadora. O aumento das imparidades não é indicativo de um aumento significativo do risco, não é indicativo de uma tensão na nossa carteira de empresas. É indicativo de que estamos a ser muito conservadores.
O banco teve um forte resultado no ano passado e, no entanto, pagou apenas seis milhões em impostos sobre esse resultado. Durante quanto tempo o banco beneficiará deste efeito dos ativos por impostos diferidos?
Temos perdas a prazo ao abrigo de ativos por impostos diferidos que nos darão um nível de utilização ao longo de vários anos, mas iremos convergir muito rapidamente para um nível elevado de imposto. O que tivemos foi uma situação excecional.
Tentaram adquirir o EuroBic. Em Espanha, diz-se que o Novobanco está prestes a adquirir a empresa Wizink. Tem aquisições em mente?
Não seria apropriado fazer comentários sobre potenciais negociações individuais. O que eu diria é que estamos agora bem capitalizados, cumprimos os requisitos. Não estamos a consumir muito capital. Por isso, sim, gostaríamos de expandir o balanço, mas esperamos que se expanda em torno do nível do PIB. Portanto, se fosse 2 ou 3%, essa seria a média a longo prazo. E esse seria o nível de consumo de capital de que necessitamos. Por conseguinte, o capital excedentário está disponível para ser utilizado.
Não é possível distribuir dividendos.
Ainda não podemos. Mas, em última análise, é isso que faremos com o excesso ou empregar o capital no crescimento do balanço. E estaremos interessados, e já o estávamos antes, em 2022, em fazê-lo. Nessa fase, quando vimos carteiras individuais chegarem ao mercado, em negócios que são adjacentes e consistentes com uma carteira pura de retalho e de empresas. Assim, na área dos pagamentos, na área da gestão de ativos, nas carteiras individuais que chegam ao mercado, vamos analisar tudo. E vamos analisar, com seriedade, pois temos capacidade para o fazer.
Ouvimos alguns dos vossos concorrentes dizerem que não é justo que beneficiem da CCA e que agora possam fazer este tipo de negócios.
Havia um esquema de proteção de ativos. O esquema de proteção de ativos tinha quase sete mil milhões de ativos. Acontece que foram mais de quatro mil milhões de perdas nesses ativos. O esquema foi concebido de forma muito, muito inteligente, era na medida em que se realizavam essas perdas, podia-se utilizar o esquema.
A última vez que fiz algo deste género foi noutro banco, em que o Governo investiu 20 mil milhões à cabeça e, na verdade, muito mais do que acabou por ser necessário. Neste caso, o número foi praticamente correto.
"É uma história de recuperação, é um enorme sucesso tanto para o contexto português como para as pessoas deste banco. É um verdadeiro crédito para as pessoas que passaram dez anos a fazê-lo. Colocámos o mínimo [de dinheiro] para limpar os ativos antigos. Por isso, do meu ponto de vista, penso que foi um sucesso para todos.”
Por outro lado, o banco em si esteve a trabalhar na limpeza do balanço e na reconstrução de uma operação central que é o retalho e está a servir tanto o retalho como as empresas, os clientes das PME, sendo um banco português autóctone que tem apenas este mercado como único mercado.
E é uma história de recuperação, é um enorme sucesso tanto para o contexto português como para as pessoas deste banco. É um verdadeiro crédito para as pessoas que passaram dez anos a fazê-lo. Colocámos o mínimo [de dinheiro] para limpar os ativos antigos. Por isso, do meu ponto de vista, penso que foi um sucesso para todos. E não é uma pergunta justa.
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Recuperação do Novobanco “é um sucesso para todos”
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