“As empresas portuguesas colaboram pouco entre si”, critica Augusto Mateus

O ex-ministro Augusto Mateus considera que para aumentar a competitividade e a produtividade é crucial uma maior colaboração das empresas, mas também uma política económica construtiva e ambiciosa.

Portugal enfrenta há largos anos um problema de baixos níveis de produtividade e de competitividade, que tem sido acompanhado por uma queda do investimento público, particularmente nos últimos anos.

Para Augusto Mateus, ex-ministro da Economia e ex-professor do ISEG, grande parte desse quadro é justificado pela ausência de uma política económica capaz de promover uma colaboração eficaz entre o setor público e o privado, e entre as próprias empresas, como mostra o estudo “O Comércio e Serviços na Competitividade e Internacionalização da Economia Portugal”, desenvolvido pelo ex-governante com o apoio da Confederação do Comércio e Serviços, que foi apresentado esta terça-feira em Lisboa.

Para contornar este quadro pouco recomendável para a economia nacional, Augusto Mateus recomenda, por exemplo, “a valorização económica e a gestão integrada e sustentável de fileiras de produção e cadeias de valor, combinando bens e serviços baseados em recursos endógenos e ativos específicos, localizados e não transferíveis”, lê-se no estudo.

Para o ex-governante, a promoção da competitividade da economia nacional requer assim a “construção de plataformas colaborativas geradoras de sinergias”, tanto no plano empresarial, através de colaborações entre empresas nacionais, como “no plano do relacionamento entre o setor público e o setor privado”, defendeu durante a sua apresentação para uma plateia de duas centenas de pessoas.

Além disso, Augusto Mateus chamou a atenção para os baixos níveis de servitização da produção, fazendo com que grande parte das empresas deixe de lado o potencial de valorizarem a sua operação adicionando à venda dos seus produtos ou serviços outros serviços.

Augusto Mateus explica que isso acontece não por uma decisão unilateral das empresas, mas “porque os fatores competitivos são pouco desenvolvidos, insuficientemente importantes”.

O ex-governante defende assim um alongamento e aprofundamento das cadeias de valor por forma a haver “uma maior articulação entre a produção de bens e serviços e a produção de serviços”, para que as empresas possam oferecer um maior valor acrescentando à sua operação.

Se os desafios colocados às empresas são muitos, Augusto Mateus salienta que nada será verdadeiramente eficaz sem o papel do Governo através de uma política económica construtiva e ambiciosa que, segundo considera, tem sido esquecida, como é visível pela “situação calamitosa do investimento”, destacando a passagem de um investimento público equivalente a 3,6% do PIB entre 2004-2008 para um nível de investimento de 1,9% entre 2014 e 2018.

“Não chega melhorar as empresas, é preciso melhorar a política económica”, defendeu Augusto Mateus no decorrer da sua apresentação, apontando o dedo ao facto de “Portugal continuar com dificuldade em financiar aquilo que é o seu Estado social, aquilo que é a ambição da sua população, aquilo que são as possibilidades dos seus recursos”.

E também não deixa de criticar o discurso político de “contas certas” que tanto se tem ouvido por parte do Governo, notando que “as contas certas fazem-se com investimento, não é sem investimento” e que “as contas certas fazem-se com serviços públicos melhores, não é com serviços públicos piores”.

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