Pequim anuncia medidas para estancar quedas das ações após saída de seis biliões de dólares

A crise no imobiliário e o travão na economia impulsionaram, nos últimos anos, a saída das ações chinesas, um movimento acelerado pela liquidação da Evergrande na semana passada.

O anúncio que a China está a comprar ações do país e que vai continuar a reforçar os seus investimentos em bolsa acelerou um movimento de recuperação nas praças chinesas, que, no final da semana passada, tocaram mínimos de cinco anos e já viram desaparecer mais de seis biliões de dólares desde fevereiro de 2021. A intervenção das autoridades chinesas procura travar os resgates, num momento em que Pequim luta para inverter o abrandamento da economia e tenta reavivar o setor imobiliário no país.

O chinês Shanghai Composite, índice de referência que inclui as maiores empresas chinesas, fechou a sessão desta terça-feira com uma valorização de 3,2%, terminando um ciclo de seis dias consecutivos de quedas, com a maior subida diária desde março de 2022. Já o índice de Shenzhen, que tem listadas as empresas de menor dimensão, disparou 6,2%, naquela que foi a maior valorização desde 2015, enquanto o ChiNext, o índice das startups, saltou 6,7%, o melhor desempenho em sete anos.

Estas fortes subidas marcam uma inversão no sentimento pessimista que tem dominado a negociação nas bolsas chinesas – o índice CSI 300 fechou em mínimos de cinco anos na última sexta-feira – e que se traduz em resgates acima de 6,1 biliões de dólares no espaço de três anos, até esta segunda-feira.

Vamos continuar a aumentar e a expandir as nossas posições para manter definitivamente as operações estáveis ​​do mercado de capitais.

China Investment Corp

Com os mercados acionistas em queda, as autoridades chinesas lançaram mão do investimento direto em bolsa, anunciando que o Central Huijin Investment, o braço do China Investment Corp para o investimento em ações, reforçou as suas posições em exchange-traded funds (ETF) com exposição a ações do mercado doméstico. “Vamos continuar a aumentar e a expandir as nossas posições para manter definitivamente as operações estáveis ​​do mercado de capitais“, adiantou a entidade em comunicado.

Pouco depois deste comunicado, o regulador do mercado chinês manifestou o seu apoio à intenção do Central Huijin Investment continuar a aumentar os investimentos. O regulador apelou ainda a outros investidores institucionais, como fundos de pensões ou seguradoras, para entrarem no mercado acionista.

Além dos investimentos diretos, as autoridades chinesas adiantaram ainda, esta semana, que vão “punir” os investidores com posições a descoberto, que procuram ganhar com a queda das ações em bolsa, assim como parar operações que procuram destabilizar os mercados.

As bolsas chinesas perderam a atratividade, depois das medidas aplicadas pelas autoridades chinesas para conter a covid-19 terem resultado em vários anos de economia fechada, uma estratégia que colocou à vista outros problemas da segunda maior economia do mundo.

Evergrande, o símbolo do colapso do setor imobiliário

Medidas que, numa primeira reação, tiveram o impacto pretendido, mas que terão que superar as (grandes) dúvidas dos investidores em relação ao estado da economia chinesa. O produto interno bruto (PIB) expandiu 5,2% em 2023, um crescimento baixo, tendo em conta que 2023 marcou a reabertura da economia chinesa, após um longo período de lockdown para conter a pandemia da covid-19.

Segundo o JPMorgan AM, a economia chinesa tem revelado maiores dificuldades para crescer, com as famílias chinesas a demonstrarem um comportamento diferente da Europa e Estados Unidos, após a covid-19, com uma postura mais cautelosa.

Além do abrandamento da economia, a China tem a braços uma profunda crise do setor imobiliário, que culminou, na semana passada, com a liquidação da gigante do setor imobiliário Evergrande, após falhar um acordo com os seus credores. A empresa, que acumulava um passivo de quase 330 mil milhões de dólares (304 mil milhões de euros), entrou em incumprimento há dois anos, depois de ter sofrido uma crise de liquidez devido às restrições impostas pela China ao financiamento de construtoras altamente endividadas.

Mas esta poderá ser apenas a ponta do iceberg da crise no imobiliário, num país onde este setor alimentou durante muitos anos o crescimento. Existem milhões de apartamentos que não estão habitados no país e são várias as chamadas cidades-fantasma no país.

A elevada taxa de desemprego jovem, a luta contra a deflação e a rápida queda da taxa de nascimentos no país, com as autoridades a mostrarem-se incapazes de incentivar um aumento da natalidade, acrescem à lista de problemas que a economia de Pequim enfrenta. Segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional, a China deverá crescer 4,6% este ano e continuar a reduzir o nível de crescimento até atingir uma taxa de 3,5% em 2028.

 

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