Comissão Europeia trava a fundo estimativas de crescimento na Zona Euro para 0,8% em 2024
Apesar do travão na economia, Bruxelas antecipa que a inflação vai descer a um ritmo mais acelerado do que inicialmente previsto.
A Comissão Europeia voltou a rever em baixa as suas previsões para a economia europeia. Bruxelas estima que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha crescido apenas 0,5% no ano passado, abaixo dos 0,6% previstos em novembro, tanto na União Europeia como na Zona Euro, cortando as previsões de crescimento para 2024 de 1,3% e 1,2% para 0,9% e 0,8%, respetivamente.
Em relação a 2025, Bruxelas continua a apontar para um crescimento de 1,7% no grupo dos 27 da União Europeia e de 1,5% nos países do euro, de acordo com as previsões económicas intercalares de inverno da Comissão Europeia, divulgadas esta quinta-feira.
“O crescimento modesto do ano passado deve-se em grande parte à dinâmica da recuperação económica pós-pandemia nos dois anos anteriores. Já no final de 2022, a expansão económica terminou abruptamente e a atividade tem estado desde então estagnada, num contexto de queda do poder de compra das famílias, de colapso da procura externa, de forte aperto monetário e de retirada parcial do apoio orçamental em 2023“, refere o relatório.
A Comissão Europeia refere, assim, que a economia europeia entrou em 2024 “numa situação mais fraca do que o anteriormente esperado”. “Depois de evitar por pouco uma recessão técnica no segundo semestre do ano passado, as perspetivas para o primeiro trimestre de 2024 permanecem subjugadas”, lê-se no mesmo documento.
Apesar do travão na economia em 2023 e do arranque mais tímido este ano, a Comissão Europeia revela que há desenvolvimentos positivos desde que apresentou as estimativas de outono, sobretudo no que diz respeito à inflação. “As condições para uma aceleração gradual da atividade económica este ano parecem ainda estar reunidas. À medida que a inflação desacelera, o crescimento dos salários reais e o emprego resiliente deverão apoiar uma recuperação do consumo“, antecipa Bruxelas.
“Todos ouvimos esta manhã notícias do Japão e do Reino Unido. É nesta situação que nos encontramos. O facto de a União Europeia ter evitado uma recessão é positivo“, argumentou Paolo Gentiloni, o Comissário Europeu para a Economia, na conferência de apresentação do relatório.
Inflação a descer mais depressa
No que diz respeito à inflação, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC), a Comissão Europeia está agora mais otimista do que em novembro. Bruxelas prevê uma queda da taxa de inflação na União Europeia de 6,3% em 2023 para 3% e para 2,5% em 2025. Na Zona Euro, as projeções apontam para uma descida de 5,4% em 2023 para 2,7% em 2024 e para 2,2% em 2025.
Nas previsões de outono, divulgadas no último mês de novembro, as projeções para a inflação situavam-se nos 3,5% para o bloco comunitário e nos 3,2% na área da moeda única.
“A queda acentuada dos preços da energia foi seguida por uma moderação generalizada e mais rápida do que o esperado das pressões sobre os preços. Como a oferta de energia continua a superar a procura, os preços à vista e futuros do petróleo e, especialmente, gás são agora significativamente mais baixos do que o previsto nas previsões de Outono”, justifica a Comissão Europeia.
Bruxelas acrescenta ainda que, apesar dos “custos de transporte mais elevados na sequência das perturbações comerciais no Mar Vermelho, a inflação subjacente continua no caminho descendente constante. As condições de crédito ainda estão restritivas, mas os mercados esperam agora que o ciclo de flexibilização comece mais cedo. Notavelmente, o mercado de trabalho da UE continua a registar um forte desempenho”, conclui.
Ainda assim, “no curto prazo, porém, o termo das medidas de apoio energético nos Estados-Membros e os custos de transporte mais elevados na sequência de perturbações comerciais no Mar Vermelho deverão exercer alguma pressão ascendente sobre os preços, sem inviabilizar o processo de descida da inflação“. “A inflação global da Zona Euro deverá situar-se ligeiramente acima da meta do BCE“, no final do ano, antecipa o mesmo relatório.
Tensões geopolíticas e eleições aumentam incerteza
Apesar de considerar que se mantêm reunidas as condições para uma recuperação da economia na Europa, a Comissão Europeia destaca que persistem muitos fatores de incerteza no horizonte que podem influenciar o outlook económico.
A guerra na Ucrânia, o conflito no Médio Oriente, a crise no transporte no Mar Vermelho são três focos de incerteza que vão permanecer em 2023, aos quais se junta outro importante acontecimento, as eleições, em particular nos Estados Unidos.
“A incerteza está a afetar os consumidores, mas também os investidores“, realçou Paolo Gentiloni, acrescentando que “os consumidores europeus têm uma dose de incerteza que é, de certa forma, única. Se somarmos as tensões geopolíticas, estas têm algo em comum”, explicou o comissário europeu, referindo-se à proximidade geográfica destes focos de tensão do Velho Continente.
No que diz respeito às eleições, Gentiloni evitou comentários diretos sobre o impacto de uma potencial eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, mas afirmou que o país “é nosso principal parceiro e é uma eleição muito importante”, garantindo que “o que é muito importante é manter um compromisso multilateral para manter uma boa parceria com os nossos parceiros“.
Outro fator que poderá ter impacto na economia europeia é o travão da locomotiva alemã. “Há uma queda em 2023 da economia alemã [previsões da Comissão Europeia apontam para contração de 0,3%] e temos uma previsão de crescimento muito baixa em 2024“, adiantou o mesmo comissário.
Para Gentiloni, o abrandamento alemão é justificado por um conjunto de fatores, que vão desde a confiança dos consumidores, até à política de subida de juros e às medidas de consolidação orçamental, após o chumbo do orçamento do país por parte de um tribunal. A estes desafios há ainda que juntar os custos da energia e a queda das exportações, assim como uma problema estrutural de competitividade a nível global, que se estende a outros países-membros.
“A Alemanha é a maior economia europeia e é uma economia que tem muita influência noutros países, especialmente na Europa Central. É um desafio para todos nós“, concluiu.
(Notícia atualizada às 11:25)
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