Embaixador russo em Portugal rejeita “interferência externa” sobre morte
O diplomata russo transmitiu ainda à subdiretora-geral de Política Externa, Indira Noronha, que "a interferência externa é inaceitável".
O embaixador da Rússia em Lisboa transmitiu à diplomacia portuguesa que a morte do opositor russo Alexei Navalny, pela qual vários dirigentes ocidentais responsabilizam o Kremlin (presidência russa), está a ser investigada, considerando inadmissível qualquer politização ou “interferência externa”.
Mikhail Kamynin, convocado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros português para prestar esclarecimentos após a morte do opositor russo, referiu, durante o encontro que decorreu na quarta-feira, que “se trata de uma questão puramente interna da Rússia”, de acordo com uma nota publicada esta quinta-feira nas redes sociais pela Embaixada da Rússia em Lisboa.
O diplomata russo transmitiu ainda à subdiretora-geral de Política Externa, Indira Noronha, que “a interferência externa é inaceitável”.
“[O embaixador] Assinalou que as circunstâncias e a causa da morte da pessoa em causa estão a ser investigadas de acordo com as normas legislativas e os procedimentos em vigor no nosso país. Indicou uma vez mais que são inadmissíveis quaisquer avaliações ou declarações, sobretudo politizadas, antes de resultados oficiais serem anunciados”, indicou a nota divulgada no canal da rede social Telegram da embaixada.
O embaixador deu também a conhecer ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português a sua posição partilhada em 16 de fevereiro, em que criticou a politização da morte de Navalny e a “cobertura tendenciosa” da comunicação social portuguesa. De acordo com a mesma nota da embaixada russa, a diplomacia portuguesa transmitiu a Mikhail Kamynin “a posição crítica bem conhecida do Ocidente, partilhada plenamente por Lisboa, em relação à recente morte” de Alexei Navalny.
Na quarta-feira, o chefe da diplomacia portuguesa, João Gomes Cravinho, frisou que as respostas do embaixador russo em Portugal em relação à morte de Alexei Navalny não esclareceram e não convenceram o Estado português. “Infelizmente a resposta do lado russo foi uma resposta perfeitamente insuficiente”, frisou, à margem do primeiro dia de reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G20 (as 20 maiores economias mundiais), na cidade brasileira do Rio de Janeiro.
Nas mesmas declarações, João Gomes Cravinho foi mais longe e afirmou que “a resposta foi nula” e que o embaixador russo “considera que a grande preocupação internacional não passa de ingerência em assuntos internos”. “Como se a morte do principal opositor de [Presidente russo, Vladimir] Putin fosse um assunto de importância menor”, afirmou.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português tinha convocado na terça-feira o embaixador russo em Lisboa, uma decisão também tomada por outras capitais europeias, como Paris, Madrid, Berlim, Estocolmo, Varsóvia, Bruxelas, Haia e Oslo. Alexei Navalny, um dos principais opositores de Vladimir Putin, morreu a 16 de fevereiro, aos 47 anos, numa prisão do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos.
Os serviços penitenciários da Rússia indicaram que Navalny se sentiu mal depois de uma caminhada e perdeu a consciência. Destacados dirigentes ocidentais, a família e apoiantes do opositor responsabilizam Vladimir Putin pela sua morte. As autoridades russas transmitiram aos próximos de Navalny que será realizada uma “perícia química” ao seu corpo durante pelo menos 14 dias, antes de o entregar à família.
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