Exclusivo Nowo admite encerrar se regulador travar venda à Vodafone

Presidente da Nowo revela que MásMóvil não vai continuar a investir em Portugal, haja ou não negócio com Vodafone. O "encerramento da Nowo" é um dos cenários, ameaçando o emprego de 500 pessoas.

O encerramento da Nowo em Portugal é um dos cenários em cima da mesa se a Autoridade da Concorrência (AdC) não viabilizar a venda da empresa à Vodafone. Nesse caso, os cerca de 140 trabalhadores da operadora arriscam perder o emprego, com um impacto total em 500 postos de trabalho contando com os empregos indiretos, revela ao ECO o presidente do Conselho de Administração da Nowo, Miguel Venâncio. A decisão do regulador deverá ser tomada “até ao final de fevereiro”.

É a primeira vez que um responsável da Nowo se pronuncia publicamente sobre esta operação. Em exclusivo ao ECO, o gestor, que já foi presidente executivo, não deixa margem para dúvidas: aconteça ou não a venda à Vodafone, a MásMóvil “vai desinvestir” e não será “o parceiro industrial da Nowo em Portugal”. Sem um novo investidor, o fim da Nowo é uma possibilidade real: “Ainda não temos os cenários fechados, mas esse é um dos cenários que poderá vir a acontecer, que é, sim, o encerramento da Nowo em Portugal”.

Miguel Venâncio tem “fé” que a AdC aprove o negócio com a Vodafone, atribuindo mais de 50% de probabilidade à venda se realizar. Para isso, a Vodafone já apresentou um segundo pacote de compromissos ao regulador para o tentar convencer a viabilizar o negócio, depois de o primeiro, que incluía cedências à concorrente Digi, ter sido rejeitado. “Não vejo nenhuma razão para que [a venda da Nowo à Vodafone] não seja aprovada”, frisa o responsável.

Caso contrário, se chumbar a operação e se for tomada a decisão de fechar a Nowo, podem perder-se 140 empregos diretos, mais 360 indiretos. “Obviamente que, se se tomar essa decisão, haverá um impacto nos colaboradores, que nós avaliamos que poderão ser à volta de 500, entre os diretos e indiretos. Diretos são 140, indiretos são todos os que depois contribuem para a nossa rede e call centers“, diz Miguel Venâncio.

Ainda não temos os cenários fechados, mas esse é um dos cenários que poderá vir a acontecer, que é, sim, o encerramento da Nowo em Portugal.

Miguel Venâncio

Presidente do Conselho de Administração da Nowo

Nowo “depende de si mesma”

O facto de a MásMóvil estar de saída de Portugal, seja qual for o desfecho deste processo, é reforçado pela notícia de que a União Europeia (UE) aprovou este mês a fusão com a Orange em Espanha, numa concentração que criará um operador com “cerca de 40%” de quota de mercado no país vizinho, diz Miguel Venâncio. A Nowo ficou de fora dessa concentração, explica o gestor.

“Em 2021, houve o acordo da MásMóvil com a Orange em Espanha e, antes desta transação, a Nowo estava dentro do âmbito da MásMóvil. O que acontece é que, ao haver esta fusão entre a MásMóvil e a Orange em Espanha, Portugal ficou fora do perímetro de negociação e, portanto, não fará parte desta fusão. Assim sendo, o que acontece é que a MásMóvil não será o parceiro industrial da Nowo em Portugal, pelo que vai desinvestir. A ideia é desinvestir em Portugal.”

Num documento partilhado pela Nowo com o ECO neste sábado à noite, a empresa vai mais além: “A UE aprovou no decorrer da semana passada a fusão entre MásMóvil e Orange, colocando assim em definitivo a posição da Nowo que neste momento depende de si mesma”, lê-se na nota informativa.

A marca Nowo nasceu do rebranding da Cabovisão em março 2016. Miguel Martins era o CEO na alturaFlávio Nunes/ECO

Situação financeira é “delicada”

Foi a 30 de setembro de 2022 que a Vodafone anunciou um acordo para comprar a Nowo aos espanhóis da MásMóvil. Mas a transação depende da não oposição da AdC, que, quase ano e meio depois, ainda não emitiu um parecer, tendo aberto uma “investigação aprofundada” por detetar ameaças à concorrência no mercado.

A AdC acredita que a Nowo, apesar da sua quota de mercado baixa, inferior a 3%, exerce pressão concorrencial sobre as restantes operadoras (Meo, Nos e Vodafone) por via de preços mais baixos, forçando-as a baixar os preços nas regiões em que a Nowo está presente. Miguel Venâncio não concorda com essa avaliação e afirma que a Nowo não é “uma força competitiva importante no mercado português”.

No documento informativo, fonte oficial da operadora também argumenta que “a Nowo tem vindo a perder quota de mercado”, sendo “incapaz de competir com as modernas redes fixas de fibra ótica” da concorrência. Refere ainda a “delicada situação financeira” da empresa. Miguel Venâncio não revela os resultados de 2023, mas o ECO verificou na InformaDB, uma base de dados empresarial, que a Nowo sofreu prejuízos superiores a 22 milhões de euros em 2022, significativamente mais do que os 1,2 milhões que perdeu em 2021.

Ora, se se materializar o encerramento da Nowo em Portugal após o chumbo da transação, desaparece, da mesma forma, a pressão concorrencial que a AdC acredita existir no mercado, mas que a própria Nowo não reconhece.

Questionado sobre se foi transmitida à AdC a informação de que a Nowo poderá não sobreviver se tiver de continuar a operar sozinha, Miguel Venâncio assegura que sim: “Isso já foi transmitido à AdC, que há esta fusão entre a MásMóvil e a Orange e que a MásMóvil não vai ser o parceiro industrial [da Nowo] e, portanto, que haverá desinvestimento em Portugal”.

A MásMóvil não irá ser o parceiro industrial da Nowo em Portugal, pelo que vai desinvestir. A ideia é desinvestir em Portugal.

Miguel Venâncio

Presidente do Conselho de Administração da Nowo

Rede 5G está por construir

Mas o que tem a Nowo, que já se chamou Cabovisão? A operadora conta com uma “rede antiga” de cabo e fibra ótica (híbrida) que chega a 900 mil casas e uma rede de fibra ótica (FTTH) com 150 mil casas passadas. Porém, a maioria destas casas passadas não se traduz em receitas: a Nowo tem apenas 132 mil clientes fixos.

A empresa vende ainda serviços móveis, mas subcontrata a rede à Meo, pois não possui rede própria. Em 2021, investiu pouco mais de 70 milhões de euros na compra de licenças 5G, mas Miguel Venâncio confirma aquilo que já se especulava no mercado: a Nowo ainda nem sequer começou a construir a sua própria rede móvel.

“Nós temos avançado em negociações para o acesso às antenas [as torres de telecomunicações, ou mastros], para depois pôr o rádio [os equipamentos tecnológicos que permitem funcionar a rede]. Desenvolvemos várias diligências nesse sentido com as empresas do mercado, mas ainda não temos nada fechado, porque o nosso interesse está na venda da Nowo à Vodafone. Mas fizemos conversações, sim”, assume o gestor.

Em janeiro, a Anacom libertou mais espetro à Nowo e à Digi, que só estava previsto ficar disponível em 2025, mas deu a estas empresas um ano para lançarem serviços 5G, prazo que dificilmente será cumprido pela Nowo se o tiver de fazer nestas circunstâncias.

Enquanto isso, a Digi, uma operadora de telecomunicações romena, que também foi ao leilão do 5G, tem vindo a investir na construção de uma rede móvel própria e uma rede de fibra ótica, estando a preparar-se para começar a vender serviços em breve no mercado português. Fonte próxima da empresa garantiu ao ECO que ainda não existe nenhum calendário, apesar dos rumores de que chegará a partir de abril.

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