“Se ficássemos à espera do resultado das eleições abriríamos falência no fim do mês”, diz Peter Villax
Peter Villax considera que Portugal não precisa de um choque salarial nem fiscal. “Precisa é de um choque de ambição", diz. O empresário considera que é preciso "defender o SNS a todo o custo".
“Se ficássemos à esperta do resultado das eleições abriríamos falência no fim do mês”, diz Peter Villax, em entrevista ao ECO. “As empresas têm de continuar, independentemente dos governos, porque a economia não pára e nós não paramos”, acrescenta o presidente da Associação das Empresas Familiares.
O empresário considera que tem sido dada uma atenção excessiva à discussão dos cenários pós-eleitorais. Uma discussão que classifica de “fútil”. “Temos de nos concentrar no que os partidos querem para os próximos quatro anos”, acrescenta, lamentando que politicamente a discussão ainda seja feita em torno da troika e não voltada para o futuro.
Peter Villax considera que Portugal não precisa de um choque salarial nem fiscal. “Precisa é de um choque de ambição. Temos de ter o objetivo de crescer 3 ou 4% ao ano, de forma sustentada, com outros países da Europa”. Para o conseguir, o responsável sugere uma “colaboração” entre Governo e empresários.
“Se fosse primeiro-ministro eleito no próximo mês, convidava os 100 presidentes das maiores empresas portuguesas e dizia: vamos trabalhar em conjunto para pôr este país a crescer. O que vocês querem? O que eu quero em termos de Estado Social, de receita fiscal, de serviços? O que é que vocês podem oferecer e o que precisam para chegar ao objetivo de crescemos 3 ou 4% ao ano”, explica o também CEO da Mediceus, a empresa que está a desenvolver uma plataforma de dados de saúde, usando técnicas Big Data, sem violar o RGPD.
“A fiscalidade é uma coisa maravilhosa”, ironiza. “Aumentar impostos produz um resultado imediato: resolve os problemas de gestão do governante, sobrecarrega, normalmente, uma minoria de pessoas e produz uma quantidade de sorrisos muito grande nos que são beneficiários dessa carga fiscal”, sublinha.
Temos de olhar para as empresas como centros de criação de riqueza, prosperidade e emprego. São as empresas que fazem rodar a economia.
Questionado se as empresas suportam mais aumentos do salário mínimo, tendo em conta que PS e AD o propõem nos seus programas, o empresário responde: “Todos o fazem. É eleitoral, cai bem. Mas não é isso que deveriam dizer”, defende o presidente da Associação das Empresas Familiares. “Deveriam dizer como aumentamos o PIB para poder pagar salários mais elevados a todos”. O empresário acredita que há empresas que de facto têm capacidade para pagar salários mais elevados: “as mais inovadoras, as que têm produtos e serviços mais diferenciados, as que conseguem ter uma margem de comercialização mais elevada e as que aplicaram o engenho, a inteligência e a dedicação ao seu produto, para poder ter lucros mais elevados”. “O lucro é a medida de saúde da empresa”, recorda.
Peter Villax admite que não espera “grandes alterações em termos de emprego”, porque “nos últimos oito anos não houve grandes políticas económicas do Governo”. “Não tivemos reformas.” O empresário recusa responder se a maioria conseguida pelo Partido Socialista foi uma oportunidade perdida – “isso é uma pergunta completamente política”, justifica –, mas admite que se tivesse “sido Governo teria agido de forma diferente”.
“Tinha tido mais ambição. Tinha tido a ambição de crescer o PIB. O Dr. António Costa sempre considerou o PIB como uma variável exógena, que depende da economia alemã, depende das importações dos outros países e que funciona como motor da economia portuguesa. Como gestor, sei que posso agir sobre Portugal da mesma maneira que se age sobre uma empresa, com políticas, com estratégias, com medidas económicas, com investimento”, elenca.
Mas, Peter Villax reconhece que o Executivo “teve um problema muito grande” – pagar a dívida, que “condicionou por completo” a sua atuação nos últimos oito anos. “A questão das contas certas é absolutamente essencial. E isso o Governo fez muito bem. Foi uma política que começou com Vítor Gaspar, continuou com Mário Centeno, com todos os outros ministros e agora com Medina. Conseguimos baixar a dívida de 135% do PIB para menos de 100%. Foi bem feito, mas a um custo gigantesco”, frisou.
O empresário é um forte defensor do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e considera “inaceitável” o que se passa neste momento. “O PS criou o Serviço Nacional de Saúde com muito mérito e 45 anos mais tarde deu cabo dele. É inaceitável”, diz. “O SNS é um fator de coesão nacional, talvez o mais importante que temos. Temos de defender o SNS a todo o custo.”
Por outro lado, Peter Villax lamenta que, “em Portugal, a Justiça só existe quando transita em julgado”, o que “pode acontecer durante anos e anos”. “Nos Estados Unidos, Reino Unidos e outros países da Europa, quando uma pessoa é condenada à prisão é presa no primeiro dia da decisão de primeira instância”, exemplifica. “Os arguidos, sobretudo aqueles que têm mais visibilidade, habituaram-se a ter um discurso de inocência completa e às vezes credível. E como a Justiça não tem credibilidade, o cidadão fica na dúvida”, conclui.
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