ECO da Campanha: nem o mau tempo arrefece a caça ao voto (in)útil

Vantagem da AD sobre o PS em sondagem embala Montenegro que chama reforços para o último dia, Pedro Nuno quer seduzir os indecisos e Ventura pede uma oportunidade. Os mais pequenos reclamam mudança.

É o penúltimo dia de campanha eleitoral e as caravanas entram num ritmo frenético, sobretudo depois de uma nova sondagem ter dado mais uma vantagem da AD sobre o PS. O momento alto desta quinta-feira foi a tomada de Santa Catarina, no Porto, com as arruadas, lideradas por Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, a medirem forças, ainda que o mau tempo tenha prejudicado algumas ações de campanha.

Mas nem a chuva ou o frio arrefeceu o fervor na conquista do eleitorado. Pedro Nuno e Montenegro apelam ao voto útil, mas os partidos mais pequenos reclamam uma mudança que só se alcança escolhendo alternativas à esquerda ou à direita.

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, ladeado por Francisco Assis, durante uma arruada em Santa Catarina, no Porto, 7 de março de 2024.ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Tema quente

Vantagem da AD em nova sondagem acelera apelo ao voto (in)útil

A mais recente sondagem da Intercampus – que dá vitória à Aliança Democrática (com 29,3% das intenções de voto) com uma distância de seis pontos para o PS (23,3%) – foi um dos principais temas a marcar este dia.

Luís Montenegro, líder da AD, sentiu-se embalado. “Estamos a poucos dias de uma mudança política em Portugal”, afirmou numa mensagem de vídeo que enviou ao Partido Popular Europeu (PPE). Lembrando o número de independentes que se juntaram à coligação, Montenegro deixa uma alfinetada a Pedro Nuno Santos: “Nunca quis dizer que era um grande fazedor; mas já fiz muito nesta campanha para engrandecer a atividade política ao ter colocado na nossa candidatura muitas pessoas que não fazem parte do nosso partido”.

O presidente do PSD vai chamar reforços para o último dia: Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite e Leonor Beleza entram na campanha da Aliança Democrática esta sexta-feira.

Desvalorizando os resultados da sondagem, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, assegurou que “não há nenhum desânimo” e apelou ao voto da “maioria invisível”, que “não está nas televisões e redes sociais e que já estava em 2022 sub-representada nas sondagens”. “Todos os que conhecem indecisos levem esses indecisos a votar. Confiem no PS, confiem em mim, não fiquem em casa”, atirou.

André Ventura, presidente do Chega, pediu uma “oportunidade” contra 50 anos de PS e PSD: “Política não é futebol, não mudamos de clube, mas mudamos de partido”. “Nestas eleições está em disputa o voto útil, a diferença entre o voto útil e mudança”, atirou.

O líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, está confiante que o partido vai ser “determinante” para o futuro do país, apelando a um voto que dê uma maioria de direita no dia 11 de março.

Mariana Mortágua, coordenadora do BE, salientou que as sondagens “valem o que valem”, defendendo que a “campanha está a crescer” e que tem “cada vez mais gente”. “Estão em causa os próximos quatro anos e cada voto pode fazer a diferença”, conclui, antevendo que o BE “vai crescer e determinar uma maioria à esquerda”.

Também o secretário-geral do PCP e líder da CDU reivindicou uma maioria de esquerda, porque “a verdadeira sondagem” é “feita na rua”. Paulo Raimundo negou “linhas vermelhas” para acordo com PS, mas não passa “cheques em branco”.

“Dar mais um ou outro deputado ao PS ou ao PSD não fará qualquer diferença, mas termos um grupo parlamentar faz toda a diferença para as causas que representamos. Apelo às pessoas que deem um voto a um partido que é de confiança”, defendeu Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN.

Luís Montenegro da Aliança Democrática (AD) durante a tradicional arruada em Santa Catarina, no âmbito da campanha para as eleições legislativas de 10 de março, Porto, 7 de março de 2024.TIAGO PETINGA/LUSA

A figura

António Costa

António Costa é a capa da revista Politico desta semana e, no longo artigo sobre o seu papel como primeiro-ministro, a questão que fica é se o político português vai conseguir “limpar o nome” a tempo de liderar o Conselho Europeu.

Costa, que saiu do Governo a 7 de novembro na sequência da Operação Influencer, considera, em declarações à publicação, que “foi alvo de buscas” e que é suspeito de algo do qual não tem “sequer” conhecimento.

Nem sequer sei de que é que sou suspeito porque isso nunca foi dito explicitamente. Ninguém falou comigo sobre este assunto, as únicas coisas que sei são o que toda a gente sabe“, afirma Costa, fazendo uma alusão às fugas de informação publicadas na imprensa.

Entretanto, o Ministério Público já admite que não tem a certeza da existência de crime nos casos do lítio e hidrogénio, que fazem parte da investigação no âmbito da Operação Influencer, avança a revista Visão.

A frase

"A gestão e a fraca qualidade dos nossos políticos obrigam-nos a pensar se não deveremos mudar como sociedade e esse para mim é talvez o maior desafio.”

Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins

A surpresa

Arruadas e eventos cancelados pelo mau tempo

No penúltimo dia de campanha, os partidos viram-se a braços com o mau tempo que encurtou ou fez mesmo cancelar alguns dos eventos previstos. A AD teve de cancelar a arruada prevista para esta manhã na Afurada, em Vila Nova de Gaia, e já cancelou a habitual descida do Chiado que estava prevista para amanhã, fazendo ao invés um comício no Campo Pequeno. A Iniciativa Liberal também teve de encurtar a arruada em Braga devido ao mau tempo.

O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, esteve esta manhã em Braga em contacto com população e com comerciantes. Braga, 7 Março 2024.HUGO DELGADO/LUSA

Prova dos 9

"O programa da AD olha para [as mulheres] também. Às mulheres de Barcelos, às mulheres de Braga, às mulheres de Portugal eu quero assegurar-lhes: nós vamos mesmo dar passos seguros importantes para garantir uma verdadeira igualdade de oportunidades.”

Luís Montenegro

Em vésperas do Dia da Mulher, o presidente do PSD afirmou que o programa da AD “olha para [as mulheres] também” na saúde, na educação, nas pensões, defendendo que a coligação tem propostas para assegurar uma igualdade de oportunidades.

A AD tem um capítulo no programa dedicado à “Diversidade, Inclusão e Igualdade de Género“. Nele, salientam que “continuamos a viver numa sociedade com uma inaceitável desigualdade de género, em prejuízo das mulheres”, traçando por isso algumas metas. São elas a “redução da disparidade salarial entre homens e mulheres para trabalho igual” e a “redução da violência doméstica e de género”.

Para a igualdade de género, defendem medidas como “ponderar a equiparação da licença de maternidade e de paternidade pós-parto”, “reforçar a monitorização sobre a obrigatoriedade de equiparação de salários” e “reforçar a legislação sobre quotas para liderança feminina e presença em comissões executivas”.

Há também várias propostas relativas à violência doméstica e de género, como expandir a Rede Nacional de Apoio à Vítima para abranger todo o território nacional e prestar um apoio adaptado às necessidades específicas das vítimas de violência de género ou de violência doméstica.

Já nas áreas da saúde, educação e pensões, as medidas que existem não são discriminadas por género mas aplicam-se a toda a população abrangida, que inclui homens e mulheres. Outra área em que a AD fala especificamente sobre as mulheres é no desporto, onde defende a “adoção de medidas robustas que promovam a igualdade na prática desportiva entre mulheres e homens”.

O tema dos direitos das mulheres surgiu em força na campanha depois das declarações de Paulo Núncio sobre o aborto, mas a verdade é que este assunto não figura de todo no programa da AD, como veio reforçar depois Luís Montenegro.

Conclusão: Certo.

Norte-Sul

Num dia marcado pela chuva, vento e agitação marítima, as caravanas partidárias seguiram para o penúltimo dia de campanha eleitoral. A maioria dos partidos esteve pelo Norte a captar votos.

A visita à feira de Gondomar pelo Partido Socialista foi adiada por causa do tempo e transformada numa arruada com a comitiva socialista, à semelhança da arruada prevista na Rua de Santa Catarina no Porto, pelas 17h, depois de uma visita a Marco de Canaveses. O mau tempo também obrigou a que a arruada da Aliança Democrática (AD) em Vila Nova de Gaia fosse adiada, restando no programa de Luís Montenegro um almoço com empresários em Gondomar e um comício no Porto.

Também pelo Norte estará Rui Rocha, a começar com uma visita ao Hospital de Braga, e reservando a tarde para um contacto com a população. À noite, e já em Coimbra, os liberais sairão à rua para uma arruada. Pelas ruas de Braga, ao final do dia, andou Mariana Mortágua, depois de uma visita a uma residência estudantil, no Porto.

Mais a sul, Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, e Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, marcaram presença em Setúbal e Lisboa. Os comunistas começaram o dia com um desfile, no Barreiro, seguindo para um segundo desfile em Lisboa, e terminado o dia com um comício no Polidesportivo das Paivas. Já o PAN, depois de Setúbal, passou por Sintra e terminará o dia com um jantar-comício, em Lisboa.

Pela capital esteve também Rui Tavares, do Livre, terminando o dia com um comício no Teatro Thalia. E André Ventura, do Chega, rumou de Portimão, onde reuniu os militantes para um almoço-comício e uma arruada, seguindo para Santiago do Cacém para um jantar.

No último dia de campanha, os esforços dos partidos concentrar-se-ão nos círculos eleitorais onde por norma conquistam mais votos. PS, AD, PAN e Bloco concentram-se na capital para um último apelo aos eleitores, enquanto a CDU e o Livre rumam ao Porto. A IL ficará por Aveiro e o Chega terminará a campanha em Setúbal.

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