Receitas da Altice Portugal crescem 11% para perto de três mil milhões
Em pleno processo de venda, a Altice Portugal fechou o ano passado com receitas de 2.906 mil milhões de euros, com o EBITDA a superar os mil milhões de euros pela primeira vez desde 2016.
Num ano conturbado, marcado por uma investigação judicial em Portugal e pelo arranque de um processo de venda pelo seu principal acionista, a Altice Portugal ficou perto dos três mil milhões de euros em receitas em 2023. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) ultrapassou, pela primeira vez desde 2016, os mil milhões de euros.
Foram, mais concretamente, 2.906 milhões de euros em receitas em 2023, um crescimento de 10,5% face a 2022, que contribuiu para o EBITDA atingir 1.038 milhões de euros no total dos 12 meses, aumentando 14,5% em comparação com o ano anterior. A informação foi divulgada esta quarta-feira num comunicado. A empresa não é cotada na bolsa e não revela o resultado líquido.
Ao olhar para as contas, a empresa que detém a operadora Meo em Portugal destaca o “excelente desempenho financeiro” no ano passado. Justifica-o com a “diversificação do portefólio de serviços”, o “reforço do investimento em infraestruturas e em redes de nova geração” e a “qualidade de serviço”. Mas também houve um aumento da receita média gerada com cada cliente, o que pode ser explicado pelo aumento de preços de até 7,8% promovido a 1 de fevereiro de 2023, para ajustá-los à inflação.
A empresa liderada por Ana Figueiredo explica ainda o crescimento do EBITDA com o “incremento da receita dos serviços core de telecomunicações e de novos negócios”, com a “disciplina de custos operacionais” e outros “ganhos de eficiência”.
Analisando apenas o quarto trimestre de 2023, as receitas subiram 7,5% em termos homólogos, para 747 milhões de euros, e o EBITDA disparou 17,9%, para 258 milhões de euros, segundo números avançados pela empresa.
Os resultados apresentados esta quarta-feira pela Altice Portugal revestem-se de particular relevância, visto que Patrick Drahi, o multimilionário que controla o grupo, encontra-se a trabalhar na possível venda dos ativos nesta geografia. Entre os potenciais compradores na corrida encontra-se a operadora estatal saudita Saudi Telecom (STC), o grupo Iliad de Xavier Niel (dono da Free em França) e um consórcio composto pelos fundos de private equity Warburg Pincus e pela Zeno Partners, que conta com ADN português, incluindo o ex-banqueiro António Horta Osório. Drahi quer entre oito mil milhões e dez mil milhões de euros pela Altice Portugal, avançou a Bloomberg e confirmou o ECO.
Assim, com a venda como pano de fundo, a Altice Portugal apresenta um “crescimento operacional contínuo”, com a base de clientes fixos a subirem 2,2% e os clientes de TV por subscrição a aumentarem 3,3% em 2023, face ao ano prévio. A empresa enaltece a “contínua aquisição de clientes” e a “manutenção de níveis reduzidos de desligamentos”. O que a Altice Portugal não discrimina no comunicado é a variação da base de clientes móveis, depois de dois anos de intenso investimento no desenvolvimento da rede de quinta geração. No ano passado, a quota de mercado baixou ligeiramente, de 42,8 para 42,6%, segundo os últimos dados da Anacom, o regulador do setor.
Analisando por segmentos, e tendo em conta o período de outubro a dezembro do ano passado, o negócio do consumo gerou receitas de 354 milhões de euros, mais 4,5% face ao mesmo período de 2022. “Os clientes únicos do segmento de consumo continuaram a expandir-se e aumentaram 0,7% em relação ao último trimestre de 2022, mais 12 mil adições líquidas, elevando o total para 1,7 milhões, e o total de RGUS [número de serviços, ou unidades geradoras de receita] de serviços fixos e móveis atingiu os 10,7 milhões e aumentou 113,1 mil face ao último trimestre de 2022”, lê-se na nota da empresa.
Passando ao segmento empresarial, gerou 393 milhões de euros em receitas no quarto trimestre, um crescimento de 10,3% que a Altice Portugal atribui ao impulso dado pelos produtos e serviços não relacionados com telecomunicações. Outros fatores a contribuir foram as “novas linhas de negócio”, a “exportação tecnológica da Altice Labs para o mercado internacional” e o “contributo positivo do negócio de desenho, construção, operação e manutenção de uma rede de fibra ótica na Alemanha”. Este projeto está a ser comandado pela Geodésia Germany que, como o ECO já noticiou, responde à Altice Portugal na estrutura do grupo.
Por fim, o investimento: com a empresa a expandir o 5G depois de ter comprado licenças à Anacom no leilão de 2021, a Altice Portugal realizou um investimento total de 488 milhões de euros no ano passado, um crescimento marginal de 1%, dos quais 147 milhões (+2,8%) no último trimestre do ano.
Dívida do grupo aumenta
A Altice International, dona da Altice Portugal, também apresentou resultados esta quarta-feira, nomeadamente um incremento de 5,7% nas receitas, que atingiram 5.143 milhões de euros, enquanto o EBITDA somou 7,2%, para 1.855 euros em 2023. A empresa antecipa um impacto da guerra no Médio Oriente no negócio em Israel, onde detém a operadora Hot.
A Altice International é, de longe, o ramo menos endividado do grupo — os outros dois são a Altice France (SFR) e a Altice USA. Mesmo assim, importa notar o aumento da dívida líquida de 8.040 milhões de euros no final de 2022 para 8.786 milhões de euros a 31 de dezembro de 2023. O rácio da dívida face ao EBITDA é de 4,5x, sendo que a empresa propõe reduzir para um patamar entre 4 e 4,5x este ano.
A maturidade média da dívida da Altice International era, no final do ano, de 4,3 anos, com um juro médio de 5,8% e 80% do passivo com taxa fixa. A empresa não espera grandes reembolsos antes de 2027, pois tem conseguido refinanciar a sua dívida, contando com cerca de 800 milhões de euros de liquidez disponível, aponta no relatório com os resultados.
(Notícia atualizada às 14h11 com resultados da Altice International)
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