Inteligência artificial deverá criar mais de 400 mil novos empregos em Portugal

Estudo aponta para a criação de 400,7 mil novos empregos à boleia da IA. Está também prevista a destruição de 481 mil postos, mas responsável da Randstad defende que "não devemos ficar preocupados".

As empresas portuguesas ainda usam de modo moderado a inteligência artificial, mas os próximos anos deverão ser sinónimos de uma “grande expansão“. E isso promete ter impacto no mercado de trabalho. Segundo um novo estudo da empresa de recursos humanos Randstad, a que o ECO teve acesso em primeira mão, deverão ser criados 400,7 mil novos postos de trabalho à boleia desta tecnologia. Já 481 mil empregos estão em risco de serem automatizados, mas requalificação dos trabalhadores poderá ajudar a mitigar os efeitos dessa destruição.

“A inteligência artificial surgiu recentemente nas economias e nos mercados de trabalho mundiais. Embora ainda esteja a dar os primeiros passos no que respeita à suas aplicações e ao seu potencial, o que é certo é que em muito pouco tempo irá transforma a forma como trabalhamos“, sublinha a Randstad, no estudo que explora o impacto potencial dessa tecnologia no mercado de trabalho português, com o horizonte de uma década.

No que diz respeito aos empregos já existentes, a empresa de recursos humanos estima que a maioria (3,7 milhões ou “quase três em cada quatro”) não deverá sentir efeitos significativos como consequência direta da inteligência artificial.

No entanto, quase meio milhão (481 mil) correu o risco de serem automatizados, isto é, têm uma alta probabilidade de deixar de ser executados por seres humanos, sendo substituídos por alguma aplicação de inteligência artificial. Já numa nota mais positiva, essa tecnologia deverá criar em Portugal 400,7 mil novos postos de trabalho (ver gráfico acima).

Contas feitas, a Randstad está a apontar para um saldo negativo potencial de 80,3 mil empregos, nos próximos dez anos. Mas Isabel Roseiro, responsável dessa empresa de recursos humanos, defende que não há grande motivo para preocupação, para já. “O saldo líquido não é assim tão preocupante”, diz.

Isto porque a história vem mostrando que a criação de novos empregos à boleia das transformações tecnológicas tende a superar as expectativas. Além disso, os trabalhadores que veem os seus postos de trabalho destruídos, tradicionalmente, têm capacidade de se requalificar e adaptar ao novo cenário laboral.

A propósito, Isabel Roseiro explica que esse esforço de requalificação envolve três partes: por um lado, o próprio trabalhador, que deve “ter a preocupação de continuar a procurar formação”. Por outro, as empresas, que devem “criar condições para que os profissionais recebam a formação necessária” e, por fim, o próprio Governo, através de regulamentação e da criação de políticas públicas que fomentem a formação.

“O desejável seria que houvesse uma aceleração da formação dos profissionais, mas o ritmo de adoção da tecnologia também não é assim tão rápido em Portugal”, comenta a responsável.

Informática com saldo líquido mais positivo

Nem todos os setores vão abraçar da mesma forma a inteligência artificial, e, em consequência, nem todos sofrerão os mesmos efeitos, ao nível do emprego.

Segundo a análise da Randstad, deverá ser o setor das atividades informáticas e de telecomunicações a registar a maior criação líquida de empregos. Ou seja, espera-se que, nesse setor, sejam destruídos cerca de 32 mil postos de trabalhos e criados 54 mil novos empregos, o que resulta num saldo líquido positivo de 21,9 mil postos de trabalho.

Em contraste, no comércio e reparação de veículos deverá ser registado o saldo líquido menos otimista: deverão ser criados 58 mil postos de trabalho, mas automatizados 93 mil empregos, o que corresponde a um saldo negativo de 35,9 mil postos de trabalho. “É o setor com a maior perda esperada de emprego na próxima década como resultado da implementação da inteligência artificial, seguido das atividades administrativas”.

Isabel Roseiro detalha que, dentro do setor do comércio, “muitas funções serão tendencialmente automatizadas” (nomeadamente, porque a tecnologia em causa consegue processar linguagem natural), daí esse resultado.

Em termos absolutos, dos 15 setores analisados, deverão ser as indústrias transformadoras a criar mais empregos à boleia da inteligência artificial (66 mil postos de trabalho) e o comércio a ver mais empregos destruídos, como mostra o gráfico acima.

Quanto às diferenças setoriais, convém ainda explicar que a inteligência artificial vai contribuir para aumentar a produtividade, mas em certas áreas esse reforço será mais expressivo do que noutras.

Nas atividades financeiras e de seguros, espera-se um aumento de 36% da produtividade, à boleia desta tecnologia. A mesma melhoria é projetada para as atividades informáticas e de telecomunicações. E a completar o pódio estão as atividades de consultoria, científicas e técnicas, setor para o qual se espera uma melhoria de 27% da produtividade.

Em contraste, as atividades relacionadas com o setor primário, a construção e a indústria, bem como o setor público deverão ser aquelas em que o impacto da inteligência artificial será menor.

“Este conjunto de atividades produtivas manterá mais de 80% dos seus empregos sem alterações significativas em resultado da implementação da inteligência artificial. O setor que será menos afetado pela chegada da IA a Portugal será a agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca (91% pouco ou sem efeito)”, detalha a Randstad.

Empresas mais pequenas têm menor capacidade de abraçar IA

Mais de seis em cada dez empresas portuguesas (numa amostra de 160) já experimentaram a inteligência artificial, sendo que a análise de dados, a otimização das tarefas administrativas, a automatização de processos e o atendimento ao cliente são as aplicações mais comuns, revela o novo estudo da Randstad.

Importa realçar, contudo, que a utilização desta tecnologia “varia muito em função da dimensão das empresas“, ou seja, nas empresas de maior dimensão estas ferramentas estão mais difundidas, enquanto nas pequenas empresas são ainda incipientes.

“As empresas maiores têm um nível maior de adoção. As empresas maiores terão sempre uma capacidade maior de investimento e adoção destas tecnologias, tirando, assim, maior benefício delas“, explica a responsável Isabel Roseiro.

Já entre as empresas portuguesas que ainda não utilizam a inteligência artificial, cerca de 28% dizem que não o fazem, porque tal requer competências que os trabalhadores ainda não possuem — e, a propósito, 72,7% das empresas inquiridos asseguram estar a disponibilizar formação relacionada com esta tecnologia.

Outro motivo forte é o facto de as empresas considerarem que a inteligência artificial ainda está “numa fase inicial de desenvolvimento” e, como tal, ainda não dá os resultados esperados.

Do lado dos trabalhadores, 36,8% reconhecem que a inteligência artificial pode ajudar a aumentar a produtividade, e mais de metade discordam da ideia de que esta tecnologia poderá influenciar, de modo direto, a perda de emprego.

Já quanto aos ordenados, três em cada dez profissionais não são capazes de prever ainda quais serão as implicações salariais no futuro.

Acreditando que a inteligência artificial poderá, então, ser uma oportunidade, 63,1% dos trabalhadores confessam que precisam de formação para abraçar as potencialidades destas ferramentas, que, tudo somado, poderão trazer mais valor e crescimento à economia portuguesa, na visão de Isabel Roseiro.

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