Fundação Lello confirma compra de quadro “Descida da Cruz”, de Domingos Sequeira
A Lello realçou que a aquisição foi "formalizada no dia 10 de março, no âmbito da TEFAF de Maastricht, pela família Pedro Pinto".
A Fundação Lello confirmou esta quarta-feira a compra do quadro “Descida da Cruz”, de Domingos Sequeira, e anunciou que vai expor a obra no Mosteiro de Leça do Balio, no dia 18 de maio. O quadro vai ser exposto em museus nacionais e irá também ser exibido no estrangeiro, anunciou também a nova proprietária, em Lisboa.
Rita Marques, presidente da Fundação Livraria Lello, disse aos jornalistas, no final da cerimónia de assinatura de um memorando com o Estado português, no Palácio da Ajuda, que o museu nacional para onde a obra irá será anunciado no Dia Internacional dos Museus. “Vamos expor a pintura no Mosteiro de Leça do Balio [no município de Matosinhos, distrito do Porto], no dia 18 de maio, e depois será transferida para um museu nacional”, afirmou a responsável na cerimónia, que contou com a presença do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, do presidente da Museus e Monumentos de Portugal (MMP), Pedro Sobrado, e de várias personalidades da museologia.
Questionado pelos jornalistas no final da apresentação, o presidente da MMP indicou que este memorando “é um preâmbulo para a criação de protocolo” entre o Estado e a Fundação Livraria Lello que irá determinar em que museus nacionais será exposto. “O memorando significa que a obra regressa a Portugal num novo contexto, com o compromisso de que será exposta num ou vários museus nacionais, em articulação entre a Fundação Livraria Lello e a MMP”, disse Pedro Sobrado.
No âmbito do acordo, haverá um compromisso com o novo proprietário, de a obra ser exposta “num museu nacional ou até em mais do que um, não estando excluída a sua exposição em instituições estrangeiras”. “Fomos até onde podíamos ir”, garantiu Pedro Sobrado, referindo-se ao facto de o Estado ter tentado comprar a pintura, por um valor de 850 mil euros, e agradeceu o investimento da Fundação Livraria Lello nesta aquisição, “em condições que garantem a sua proteção, estudo, valorização e fruição pública”.
Por seu turno, Rita Marques – que se escusou a indicar o valor da compra da obra – indicou que a entidade já está a “trabalhar com entidades públicas internacionais para a sua exposição no estrangeiro” e em “locais inusitados”, promovendo o “encontro da arte com outros mundos”.
Antes, em comunicado divulgado pela fundação sediada naquele mosteiro de Matosinhos, a Lello realçou que “a aquisição formalizada no dia 10 de março, no âmbito da TEFAF de Maastricht, pela família Pedro Pinto, reflete a missão contínua da Fundação Livraria Lello em promover o conhecimento por via da arte e da cultura, inspirando uma sociedade mais inclusiva”.
“A ‘Descida da Cruz’ é mais do que uma obra-prima; é um símbolo da nossa herança e identidade. Trazer esta obra de volta para Portugal e disponibilizá-la ao público é um privilégio e uma responsabilidade que assumimos com grande honra”, disse, citada no mesmo comunicado, a presidente da fundação, Rita Marques.
A saída da obra de Portugal esteve envolta em polémica desde o final de 2023, quando a então Direção-Geral do Património Cultural decidiu autorizar a saída do país, contrariando pareceres de especialistas. Os proprietários portugueses entregaram o quadro para venda no final de 2023, depois de ter recebido uma autorização de saída de Portugal, justificada pela “inexistência de qualquer ónus jurídico”.
A secção portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal) manifestou em fevereiro, junto do Governo, indignação com a condução do processo que levou à saída do país do quadro de Domingos Sequeira e exigiu respostas oficiais. Anteriormente, um grupo de 12 especialistas da área do património também dirigiu uma carta aberta à tutela manifestando repúdio pela condução do processo.
Nessa altura, em resposta à missiva de 12 especialistas, a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, assegurou estarem em curso “todos os esforços” para conhecer as “eventuais condições de compra” da obra. Por seu turno, o presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João Neto, mostrou-se, na mesma altura, contra a aquisição pública da pintura, avaliada em 1,2 milhões de euros, num contexto em que o Estado se encontra “refém de interesses especulativos”.
No dia 12, o Governo anunciou a compra do quadro por um privado português, com vista a expô-lo num museu nacional. “Descida da Cruz” faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira – com “Ascensão”, “Juízo Final” e “Adoração dos Magos”, esta última já na posse do MNAA por adquisição através de uma campanha pública – feitas durante os seus últimos anos de vida, em Roma, onde morreu em 1837. Pelo menos um grande estudo preparatório da obra, na posse do MNAA, está classificado como bem de interesse nacional.
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